Uma manhã de outono
Sua mão deslizou sobre o peitoril gélido da janela escancarada. O tecido fino da cortina acariciava levemente sua pele. Seu olhar perdido no vazio, sua alma percorrendo pensamentos distantes enquanto a manhã acordava devagar, os raios frios cortando as nuvens e atravessando o horizonte, deixando o azul riscado de luz.
Seu olhar voltou-se para dentro do quarto, onde ao fixar-se sobre a cama viu o corpo daquele que amava, adormecido. O corpo relaxado, quase esparramado, tão sereno e calmo, embalado na magia de sonhar. Ela se aproximou da cama onde sentou-se devagar ao lado do corpo adormecido e tocou-lhe levemente a fronte, afastando alguns fios rebeldes que caíam sobre a testa. Poderia ficar ali por horas, velando o sono dele, com aquele sorriso bobo nos lábios ao vê-lo tão tranquilo.
A imagem sumiu e sua mão afundou sobre o travesseiro, era só mais uma de suas lembranças, mais uma vez estava imaginando ele ao seu lado, mas ele não estava ali, e ela não sabia quando ele voltaria a estar. Um suspiro escapou por seus lábios entreabertos, e ela se deixou afundar sobre a cama, o rosto sobre o travesseiro e os olhos fitando algum lugar distante, imaginando onde ele estaria, e porque não estava ali quando ela precisava, ela sempre precisava. Aquele vazio a dominava toda vez que ele ia embora no momento em que fechava a porta ao vê-lo sair. Não importava o que dissesse, nada era suficiente para expressar o quanto ela sentiria falta até vê-lo novamente. Por mais que não soubesse quando, por mais que não imaginasse como.
Seu coração doía com esse pensamento, com a ideia de não tê-lo consigo, de vê-lo sempre ir embora. Era só mais uma manhã de outono, e ela estava de novo sozinha.