O QUE O DINHEIRO NÃO COMPRA
Andressa e Joana, mãe e filha, vão passear no shopping. Zona sul do Rio de Janeiro. Preços altíssimos. Mas dinheiro não é problema para essas duas, afinal a primeira é esposa e a segunda filha do poderoso empresário multimilionário Camilo Albuquerque. Elas passam a manhã inteira entrando e saindo de lojas, sem a menor pressa. Calçados, bolsas, vestidos, óculos, biquínis, joias. No ar, aquele cheiro de futilidade, de vida vazia.
Na hora do jantar, a família reunida. Camilo fala sobre o seu dia, de um negócio importante que não deu certo. Joana permanece calada, mas Andressa resolve dar sua opinião. Modesta. Mais para se mostrar participativa na conversa. Pois não entende nada de economia, nem de mercado financeiro.
Camilo acha o comentário da esposa infeliz e vê aí uma ótima oportunidade de descarregar o seu estresse:
– Por que você não cala essa boca, hein, Andressa? Bota uma coisa na sua cabeça: de dinheiro você só entende como se gasta. Ou será que era você a responsável pela contabilidade daquele lugar imundo de onde eu te tirei?
Andressa engole a humilhação junto com as folhas de rúcula. Cenas como essa haviam virado rotina. De uns tempos para cá, Camilo parece ter prazer em espezinhá-la.
Sem apetite, levanta-se e retira-se. Vai para o quarto. Onde abre o imenso closet. Diante daquela infinidade de luxo, as mais caras grifes, toda a sorte de sofisticação, sente um nó na garganta e não é capaz de conter o choro. Senta-se na cama, aos prantos. Alguém bate à porta: é Joana.
– Mãe... O que houve, mãe?
– ...
– Eu te falei pra você não comprar aquele Prada sem experimentar. Ficou apertado, não ficou?