Cronômetro do mundo

Naquele dia, naquela despedida, naquele choro silencioso, nos soluços inaudíveis. Foi naquela noite em que a desgraça começou. A desgraça da despedida.

Uma garrafa de gim pela metade. Cheiro de cigarro. Quarto escuro. Cama bagunçada. Um coração em cacos. Um sentimento massacrado, jogado no lixo. Eu, que nunca havia fumado, nunca havia bebido, que nunca havia feito coisas além do que eu determinava não fazer. Eu, sempre seguindo regras tão veemente, encontrei nas coisas "erradas" uma fonte para aliviar a dor. Mas aliviava? Óbvio que não. Se a bebida e a fumaça enchesse meu coração, eu seria um homem absurdamente feliz.

Afirmo, com toda a convicção possível, que amar irá fazê-lo sofrer. Em algum momento, algum dia, você irá levar uma baita surra do amor, e, vai por mim, é uma dor que fará você esquecer todas as outras. No amor, é impossível sair impune, sair sem arranhões ou grandes cortes. Sim, é impossível não se machucar gravemente. Aquele mesmo olhar, aquela mesma voz, aquela mesma pessoa que em algum momento lhe fez pensar "nossa, a vida com ela vale a pena", será a mesma que irá torturá-lo. Querendo ou não querendo, todos machucamos a todos. É, amar é um grande ciclo vicioso.

Um homem deitado no chão, olhos fechados, lembranças de um certo rosto em mente, um gole a cada 3 minutos, ah, e uma grande dor em todo seu corpo. Eu, o tal homem que está em pedaços, é o mesmo que certa vez amou alguém com todas as forças. Amei, amei, amei, sofri. Sofri ainda mais ao ver aquele aceno, aquele olhar cheio de lágrimas, aquela boca que eu jamais beijaria novamente.

Meu caro, quando você for amar, ame para valer. Ame com alma, ame como se não houvesse amanhã. Ame, porque é certo que você irá sofrer, mas, por enquanto, ame. Ame e ame, porque o que anda faltando em muitos é amor. Sinta aquele frio na barriga, aquela alegria sem motivo. Aproveite! Não há sensação melhor do que amar alguém. Ame, porque o mundo é um cronômetro, então, para que perder tempo?