As Noites Brancas,Volume 2-Capítulo 1:Esperando por um artista

Olá.

Creio que nós não nos conhecemos ainda.Mas tenho certeza que meu nome não é importante.

Vocês acham que eu sou a mesma pessoa que narrou o volume 1 dessa história?

Bobagem.Ele é o meu primo

Enfim.Melhor falar do meu dia.

Mês de janeiro.Último mês das férias.Último mês de liberdade,antes que eu volte para a minha escola e me lembre que eu sou nada mais do que um escravo do sistema educacional.

Estou numa casa.Em uma fazenda de uvas.No Chile.

Ela pertence aos meus tios.Co-fundadores de uma empresa de vinhos caseiros.

Neste momento,estou no meu quarto.Um quarto bem simples.Uma rede em um canto,um beliche no outro,uma tímida cômoda com uma TV de tubo sobre ela,uma estante com romances escritos em espanhol.Mas tinha um detalhe especial...

...Uma porta no fundo do quarto,que dava acesso a uma varanda de piso de concreto,com parapeitos de metal.Uma vista bonita.Podia ver não só o verde do campo recheada com o roxo das uvas,mas também o lago que separava a casa dos meus tios-Uma casa nanica,com várias paredes de vidro e pintada com um amarelo morno-Da casa dos sócios deles.Uma enorme casa com um ar rústico,ostentando uma varanda de piso de concreto e outra de madeira virada para a casa dos meus tios.Ela estava posicionada no mesmo nível que a minha.

Logo no momento no qual em pensei em ir até aquela casa,meu primo Juanes me chamou para ir visitá-la.Concordei em ir.Passamos pela sala com piso de cerâmica branca que em lembrava invernos norte-americanos para buscar Julia,a amiga de intercâmbio de Juanes.Vinda da Espanha,tinha um belo sorriso,pele branca,cabelos negros,olhos marrons e uma magreza forte o bastante para fazer com que ela possa atravessar qualquer fresta de porta.

Durante o caminho até a casa,notei que eu e Juanes temos alguma coisa em comum.Enquanto ele é introvertido e eu sou extrovertido,podemos ficar bem enérgicos quando animados.

As primeiras coisas que me chamaram a atenção na casa quando entramos foram os pilares de mármore no curto hall de entrada.Pelo jeito,os sócios dos meus tios tem um ótimo gosto para decoração.

Por falar neles,os sócios foram bem simpáticos comigo.Eles se ofereceram para mostrar a casa.O primeiro espaço que eles mostraram foi a sala.Chão de madeira,uma lareira no lado direito,um amontoado de prateleiras com várias garrafas de whiskey no lado esquerdo,uma porta de madeira aberta no fundo e um par de sofás no centro,ambos virados um de frente para o outro,separados por uma pequena mesa de vidro.

Eu teria olhado para frente para ver o próximo espaço...Se não fosse por um detalhe.

Ela.

Uma pele tão branca quanto as nuvens que embalam o céu.Um cabelo ruivo que beirava o alaranjado que agrada aos olhos.Um corpo bonito e gracioso.E,por fim,um rosto juvenil,capaz de tirar a poeira de lembranças felizes da infância.

Olhava para o horizonte,como se ela fosse uma musa.Uma musa que esperava por um artista que pudesse encantá-la.No instante que ela ouve os meus passos sobre a madeira ao sair da sala,ela vira seus olhos para mim e me olha por alguns segundos.Retribuí o olhar.Me perdi nos seus belos olhos verdes.

Parece que ela encontrou o seu artista.

Ficamos nos encarando...Até eu bater na parede.Desviei o rosto e me perguntei por quanto tempo eu estive em devaneio.Decidi ir para o outro espaço,mas sem antes olhar para ela de novo.Ela cobria parcialmente a boca com a mão,tentando abafar um riso.Seus olhos quase se cerravam.Quase se rendendo ao riso.

Prosseguimos com a visita.Se não fosse por ela,minha mente estaria tranquila.Só que esse foi o caso.

A cada quarto que eu via,a imagem dela sentada ao sofá vinha à minha cabeça.Quando os donos da casa explicavam as cores com as quais eles pitaram as paredes,eu me lembrava do ruivo alaranjado do cabelo dela.A cada detalhe falado,me lembrava dos detalhes de seu rosto.A cada história contada,mais eu penso nos seus olhos verdes e nas diversas histórias que eles escondem.

Não demorou muito para que ela aparecesse de novo.Ela veio ao nosso encontro sem nenhum alarde.Os donos pediram para ela se apresentar.Ela começou com um aperto de mão.Minha mão ensopada de suor banhou a sua com a água da minha ansiedade.Ela não se incomodou com isso.Seu rosto se abriu em um sorriso ao falar o seu nome.

Violeta.

Um nome tão frio para uma menina tão radiante quanto a maior das estrelas.

Logo após essa introdução,demorei para falar o meu nome.Até lá,foram várias tentativas nas quais eu falava como o mais estúpido dos trogloditas.

A apresentação da casa continuou depois disso.Enquanto tentava apagar do meu cérebro esse episódio embaraçoso,passei o resto da visita contemplando a forma dela.Ignorava os sons ao redor para ouvir sua fala.Meus olhos se concentravam em seus traços.A casa parecia uma enorme peça em preto e branco,comparada com o seu cabelo alaranjado.Tomava cuidado para não se pego por ela enquanto a olhava.Porém,só por um momento,ela olhou na minha direção e nossos olhares se encontraram.

Era como se eu fosse pego pelo encanto de uma dama do sol.

O mundo poderia arder nas perversas chamas do caos.Eu só teria olhos para ela.

A visita chegou ao seu fim.Uma pena.Eu poderia ficar mais.Apenas para observá-la por mais alguns instantes.

Acabamos indo embora.

Quando entrei no meu quarto,me deitei na cama até a noite abraçar o ambiente.

Pensei em como eu poderia conquistá-la.Conquistá-la nessa viajem.Uma viajem de vários segundos e poucos dias.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 08/05/2016
Código do texto: T5629648
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