Poluição Amorosa

Introdução


A vida nem sempre parece justa e tamanho é o caos de existir que por vezes sentimos como se as sombras dos que nos rodeiam nos sugassem em dança macabra para os confins obscuros da dor e do desalento.
Temos o lindo direito de escolha convergindo com o direito de escolha todos os outros irmãos de planeta, e por isso necessário é a existência do destino... Aquele algo predito que nos salva das más escolhas e das boas escolhas que dependem da escolha de outros. Ao mesmo tempo que a vida se mostra uma tela branca de possibilidades, e nós como artistas nos sentimos livres em criar como se nada fosse predito, na verdade há sempre um esboço rascunhado em nosso subconsciente... E escolher deixa de ser o ato de desenhar o caminho que nos levará ao exato ponto certo e passa a ser a escolha de caminhos já existentes e que não vemos.

A vida ainda parece injusta?
Creio que não, sofremos por rebeldia em não submeter-nos ao seu caótico balé... Mimados pelos sonhos inocentes dos querubins queremos tudo ao nosso modo, e então combatemos a verdade pura de que: Tudo que acontece tinha que acontecer.E tudo depende da fé no " que tiver de ser há de ser".


Parte 1- Eleonora e suas cartas ao mar

Não existe solidão desacompanhada; nem mesmo o homem mais solitário do mundo está de fato só, e não falo de presenças ocultas no véu do sobrenatural; nem de Deus e sua corte... Em algum lugar existe um coração que completa o vazio de outro coração.

Essa era a certeza de Eleonora, uma simplória mulher do mar com a rudeza e força que afastava os homens que, embora a desejassem, temiam seus olhos de fogo e sua altivez de guerreiro. Educada pelo o mar era generosa, porém profunda e pode-se dizer, perigosa também...

Mas... Ainda sim Eleonora era uma mulher e guardava em si a solidão e uma saudade desconhecida. Não tinha família, suas origens eram obscuras, o que gerava certos contos de areia na aldeia dos caiçaras.

Todas as noites a morena de passos firmes e sedutores seguia para orla do mar, sentava-se onde as ondas pudessem tocar somente a ponta de seus dedos, as noites de lua cheia eram as suas favoritas, ela tinha certeza que aquela mesma lua iluminava os sonhos de alguém, que ela não sabia onde estava, que não conhecia, mas sabia existir, e que esse alguém sentia a mesma saudade que ela, olhava as estrelas e sorria em pensamentos românticos de que aquele mesmo céu e estrelas velavam o sono de sua misteriosa amada.

E esse era o segredo de Eleonora, um romantismo velado por um amor real que lhe acompanha desde o nascimento, um amor oculto nas brumas do destino, distante, mas presente em cada onda que se levantava furiosa e espumante, em cada açoite de vento...Um amor que queimava sua pele ao sol e lhe inspirava os mais belos poemas ao luar, e por isso nunca enamorou-se dos homens que se aproximaram e por isso era de todo um mistério, pois ela de fato era “ela” somente para esse amor que jazia no inrevelado mistério da imensidão do mundo.

Um dos mistérios que deixavam os caiçaras curiosos era a fixação por garrafas que Eleonora possuía; não era incomum marujos beberrões juntarem suas garrafas vazias para realizar escambo com Eleonora, que tinha pescados de qualidade.

A descrição e a barreira que a personalidade forte de Eleonora criava impedia de que fosse investigada, e cá para nós, as pessoas preferem manter as lendas do que deparar-se com as realidades.
Então conjecturar e fantasiar era mais saboroso que buscar conhecer de fato quem era Eleonora e o porque juntava garrafas vazias.

A mulher misteriosa da aldeia era poeta, dormia pouco e sempre depois de seu trabalho cuidava de sua higiene e deixava vir a tona a vaidade requintada da alma feminina, sentava -se em improvisada escrivaninha e em sua humilde cabana a luz de velas escrevia poemas ao seu amor, aquele que ela, por não saber o nome, apelidou de Passarinho, o Holandês Voador.

Quando juntava um numero razoável de escritos, que variavam entre poemas, juras de amor, e resumidos textos de seu cotidiano vazio e saudoso, ela enrolava cada papel em perfeitos canudinhos presos por caprichosos lacinhos feitos em fitas vermelhas e com sorriso nos lábios, que ela nem mesmo percebia iluminar sua face, colocava cada canudo em uma garrafa e depois de selar uma a uma com rolhas, todas eram postas em uma bolsa e então Eleonora seguia pela noite perfumada pela maresia.

Todas as Luas cheias ela jogava suas cartas engarrafadas ao mar...Entregava seu amor ao destino, suas palavras ao balanço da maré e seu coração alegrava-se em uma certeza absoluta de que embora flutuantes no caos do acaso, uma delas, ao menos, chegaria ao seu destino.


Parte 2- O Holandês Voador

Não, Peter não era amaldiçoado e nem capitão de um navio Fantasma, receberá o apelido de Holandês Voador porque vivia como pirata que parecia preso ao mar, era dono de um belo e fornido navio de velas roxas, visto que pouco atracava na terra, e nos mares era veloz e sumia tal como surgia, sem ser percebido, logo trouxe a mente imaginativa dos homens do mar a lenda do perigoso Navio fantasma.

Embora as autoridades o tratassem por criminoso, na verdade ele era guardião dos mares, assim se sentia, era um tanto orgulhoso em seu jeito de agir como herói.

Escoltava navios de viajantes no intuito de defende-los de ataques piratas; já os navios comerciais das novas terras de Colombo Peter e sua alegre tripulação permitiam serem salteados, para depois saltear os mesmos piratas e era ndepois dessas ocasiões que a terra recebia seus pés, pois para o "Holandês" os homens das terras de Colombo eram injustos e em terra ele distribuía todos os tesouros do novo continente em medidas iguais aos necessitados que encontrava.

Peter não pensava muito em amor, as damas dos cais pouco lhe interessavam nos raros momentos em que atracava, no entanto seus olhos eram atraídos pela lua, o céu da noite e as estrelas faiscantes e distantes lhe animava o desejo no amor, sentia o coração oprimido e a necessidade de voar e pousar ao lado dela?
-Mas quem é ela?

Ela não existia, era somente um canto mudo de sereia que vinha de todas as partes e por isso não vinha de lugar algum.
Estranho! As garrafas de Eleonora nunca eram devolvidas pelo mar, nenhum caiçara de sua aldeia nunca, se quer, viu uma delas boiando no lençol das muitas águas...

Mas certa noite em um pedaço de mar distante do pedaço de mar que vigiava Eleonora, Peter escuta barulhos estranhos no casco de seu navio, ignora por um tempo, mas passaram a ser constantes, ao debruçar na murada e olhar para baixo arqueou de uma sobrancelha...

Primeiro estranhou que garrafas pudessem causar estrondos em um navio razoavelmente grande; mas depois se irritou em ver toda aquela sujeira, o mar era sua casa, e resmungou insultos aos piratas porcalhões jogando suas garrafas vazias ao mar... Mas calme... Não estavam vazias, haviam bilhetes dentro, de certo algum nalfagro pedindo socorro...
Poderia ter acordado sua tripulação, mas ele mesmo em ato quase de desespero pescou garrafa por garrafa, não eram muitas, mas o bastante para dar trabalho. Nove garrafas no total, que ele quebrou sem pensar.

No primeiro bilhete ele notou o esmero na letra e sentiu o perfume da poesia que dizia:
-Eu vou esperar, tal como o holandês voador que sonha com seu dia em terra...
Eu vou esperar mesmo que seja um instante que farei eternidade...
Eu vou esperar dando meus beijos aos ventos que cruzam oceanos sem fim para te tocar.
E se esperar for o meu destino
Eu vou esperar sorrindo... E quando chorar será de gratidão, pois eu te tinha perdido na imensidão e hoje pude te achar...
Eu serei como Jó resistente aos testes divinos...
Eu sempre estarei aqui, por mim, por ti, por nosso amar!
Eu vou te esperar....-
De: Sua princesa
Para: O meu Herói

Estarrecido e emocionado Peter lia cada carta recheada de frases como: “ me encontre”
“ Não demore”; “ olhe para a lua ela reflete o brilho dos meus olhos”;
“ quem és e onde te encontrar?”

Ao final da leitura Peter já amava aquela princesa e já se fazia o seu herói, muitas perguntas misturadas a uma dor fina que lhe aguilhoava o peito minavam de sua alma: Como a encontraria?

O destino havia levado as cartas até ele, então, mesmo que isso lhe custasse uma fé desconhecida, Peter não viu outra alternativa se não entregar-se ao destino.

Desceu para sua cabine e no balanço suave de um mar em calma, sentou-se em um gabinete, que mais parecia um cravo que não mais emitia som, molhou a pena no tinteiro e escreveu:
"Minha querida princesa, como agradou-me seu romantismo...
Tocado por sua fé lhe aviso que seguirei limpando o mar de sua poluição amorosa e chegarei ao seu encontro...Espere!
Quem assina: O Seu Herói"Holandês Voador"

Peter colocou o bilhete em uma garrafa e depois de beija-la a lançou no mar...


Final (?)

E então, receberá Eleonora a resposta de seu amor?
Peter segue o rastro das garrafas e enquanto houver fé em ambos corações o destino é quem dita as correntes do mar e o vento nas velas...
A esperança dia após dia diminui a distância e logo o Holandês Voador e a encantada Eleonora serão um só coração... Ambos são pássaros de uma asa apenas e abraçados podem voar, pois somente juntos são completos... Mas tudo ainda depende da fé que faz acontecer o que tem de acontecer.



Luana Thoreserc
24/02/2016
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 26/03/2016
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