A ESCOLHA DE SOFIA

“O bater das asas de uma borboleta na floresta amazônica pode causar um furacão na baia do Texas”. James Gluk- A Teoria do Caos

     Vitória tinha dez anos de idade e morava em uma favela, na periferia da cidade. Seus pais, muito pobres, já estavam conformados com aquela vida miserável e não tinham esperança de que, um dia, pudessem melhorar de vida. Em consequência, a aparência da menina Vitória refletia aquela vida sem perspectiva que ela vivia. Ela frequentava a escola local, e sempre se apresentava suja, mal vestida, com uma aparência desleixada, os cabelos em desalinho, tudo denotando o total abandono e a descrença no futuro, que era a tendência das pessoas que viviam naquele ambiente pouco saudável.
      Havia na escola de Vitória uma professora, que além de inteligente, era  muito bondosa. Ela sentia uma pena enorme da menina, e seu coração se apertava ao ver uma criança tão bonita ser criada daquele jeito. Sofria ao vê-la suja, maltrapilha, com aqueles cabelos desgrenhados e os dentes puídos. E principalmente em ver a sua desesperança e conformidade.
     Um dia ela resolveu tomar uma atitude. Depois de obter o consentimento dos pais dela, levou a menina para sua casa e lhe deu um belo banho. Depois foi com ela a uma loja e comprou-lhe roupas novas. Levou-a a um dentista, que a ensinou a tratar dos dentes.
     Quando a menina voltou para casa, á noite, seus pais quase não a reconheceram. Sua mãe, ao ver o quanto ela era bonita, resolveu que não ia deixar mais que ela ficasse tão suja e fosse para a escola tão desarrumada. Assim, passou a exigir que a menina tomasse banho todos os dias, que escovasse os dentes e praticasse, regularmente, bons hábitos de higiene. E ela mesma, que nunca se preocupara com tais coisas, passou a se comportar dessa forma e exigir de todos os membros da família um comportamento similar.
    O pai, vendo a nova imagem da filha, linda, limpa, comportada, e mediante a pressão da esposa, que passou a exigir uma melhor qualidade de vida para a família, ficou com vergonha e começou a trabalhar com mais afinco. Logo conseguiu economizar dinheiro suficiente para melhorar as condições de sua casa, fazendo dela a mais bonita e confortável da favela.  
    Seus vizinhos, vendo a beleza daquela casinha, o automóvel na garagem e a prosperidade que havia na casa da família da menina Vitória, começaram a se sentir um  tanto constrangidos. Em consequência trataram de melhorar a aparência de seus barracos de tal forma, que em pouco tempo a maioria deles havia se transformado em bonitas casinhas, limpas e arrumadas. A Prefeitura, vendo o progresso que se instalara ali,  se viu abrigada a colocar os serviços públicos necessários, e assim, a antiga favela se transformou num bonito bairro, com imóveis valorizados e uma boa qualidade de vida.
    E tudo começou com o pequeno gesto de uma professora condoída com a situação de uma desconhecida garotinha. Hoje, a escola do bairro, que foi a antiga favela, leva o nome dela e Vitória, ela também, agora uma bela e inteligente professora, é a diretora.