Não me acorde (capítulo 15) [FINAL]

Começou a chover.

Parecia cena de filme: Viktor sentado na calçada de uma loja, escorado na parede. A parte da loja que o cobria da chuva era bem curta, então os pinguinhos de chuva já caíam sobre ele. Ele estava quase que se enrolando um pouco na manga longa da camisa. Seus olhos ficavam abertos forçadamente, apertados, quase fechando. Seu cabelo estava totalmente bagunçado. A chuva começava a deixar a visão de sua frente embaçada, ele conseguia ver a calçada do outro lado, mas meio embaçado.

— Bom, é isso. A essas alturas, a Senhorita V já deve estar muito longe. Por mais que ela tenha perguntado sobre mim pra Meladie, ela não achou. Então ela sabe que é muito difícil me encontrar. Hum... Haha! — dando uma pequena risada — Ela deve ter sonhado comigo também... Ela já veio me procurar aqui, não achou, deve estar procurando em outro canto, ou deve ter desistido, que nem eu.

Viktor começou a lembrar de todos os sonhos...

Deu uma pequena risada, e falou:

— Eu lembro de tudo. A pele dela é linda... O jeito que ela olha pro lado, em quase todos os sonhos. O cabelo dela, não importa o sonho, sempre é lindo. A cintura dela é bem fina. A parte debaixo dos olhos dela é meio funda, isso é atraente, e eu só percebi isso agora. O jeito que ela mexe no cabelo... Como eu posso perceber tudo isso agora? Haha! Mas... — Viktor, do nada, começa a chorar — eu falhei.

Viktor parecia estranho.

E seu pensamento começava a palpitar...

"Mas, sabe de uma coisa? Eu vou encontrá-la um dia, quando eu tiver uns quarenta anos, eu vou encontrá-la, eu tenho certeza. Ainda tem tanto tempo pela frente. Tanto tempo!"

Por mais que Viktor estivesse empurrando sua autoestima pra cima, a realidade era inevitável.

Viktor voltou a chorar, mais forte, e falou chorando...

— Não é possível! Se era pra eu ficar sonhando com ela, que fosse ao menos pra eu encontrá-la!

A esse ponto, Viktor já tinha se cansado de tudo. De procurá-la, de chorar, até de pensar, e quis apenas relaxar.

Viktor continuou com a cabeça escorada na parede, mas dessa vez a relaxou mais, que ela até desceu um pouco.

Viktor não conseguia mais pensar em nada, estava exausto.

Ele passou mais alguns segundos ali, com os olhos semiabertos, olhando pro embaçado da chuva...

...

...

...

...

...

Do outro lado uma moça.

Do outro lado uma moça com um olhar cansado, com um corpo meio afobado, inquieto.

Do outro lado, uma moça molhada, encharcada da chuva.

Do outro lado uma moça com uma tatuagem no pé da barriga, um olho com um lágrima escorrendo.

Viktor vê tudo. Viktor se levanta.

A moça olha pro outro lado da rua, põe a mão na testa num gesto de querer ver melhor o que tem na sua frente.

A moça arregala os olhos, e começa a andar bem devagar em direção a Viktor.

Viktor não sabe como está respirando, porque não consegue mais sentir sua respiração.

Viktor começa andar devagar, e a levar a chuva forte na sua cabeça, no seu corpo.

Os dois vão chegando perto.

Os dois chegam um na frente do outro, param, e ficam se encarando por alguns segundos.

Eles vão chegando mais perto, como de quem quer escutar a respiração do outro.

As mãos sem querer se tocam, mas nenhum deles olha pra baixo, só conseguem olhar pra frente.

Os corpos começam a quase encostar um no outro.

O rostos ficam a dez centímetros de distância.

Viktor consegue reparar nos pingos de chuva que escorrem no rosto da moça.

Eles chegam mais perto.

Viktor consegue ouvir e sentir a respiração da moça e, nossa, como está forte...

O nariz de Viktor está a quatro centímetros do nariz da moça.

As bocas vão chegando mais perto.

As bocas estão a dois centímetros de distância uma da outra.

Viktor consegue sentir a temperatura exata do corpo da moça.

As bocas estão a um centímetro...

Até que...

Que...

As bocas se encostam...

Os dois fecham os olhos. Um beijo acontece...

BUM! As luzes se apagam, não há mais nada, nada mais tem cheiro, nada mais tem som, nada mais tem cor...