Não me acorde (capítulo 14)
— Nossa...
Viktor acordou sorrindo, lembrando do sonho. Dessa vez sem exaltação, aperreio. Ele apenas acordou bem, ele sabia bem que aquele tinha sido o primeiro sonho que teve com a Senhorita V.
Viktor, após se levantar, voltou a pensar.
— Nossa! Antes de ontem ela perguntou sobre mim pra Meladie, preciso tentar achá-la! Essa é a chance!
— Viktor almoçou bem rápido e saiu, em direção à praça que joga basquete às vezes.
— Bom, foi aqui que a Meladie falou com a Senhorita V, agora é só esperar.
Acontece que Viktor esperou, esperou como nunca tinha esperado algo na vida, pois tinha se passado duas horas e ele estava super desperto, como se estivesse ali há apenas dois minutos.
— Hã? — franzindo a testa — O sol já está se pondo?
Cinco e meia da tarde, e nada da Senhorita V.
Viktor realmente nunca tinha esperado algo com tanta paciência, pois o relógio já apontava pro número oito. Sim! Já eram oito horas da noite, e nada.
— Que milagre minha mãe não ter me lig...
TRIMMMM! TRIMMMM!
— Claro, tinha que ser clichê...
Viktor atende o celular.
— Viktor? Cadê você? Você passou o dia fora de casa...
— Mãe, desculpa, eu tava resolvendo umas coisas do trabalho. Hoje vou dormir na casa do Tobias, tá bem?
— Tudo bem, filho, mas coma alguma coisa, tá certo?
— Tá bom, mãe.
— Levou escova de dentes?
— Mãe, eu só vou dormir lá, de manhã já volto pra casa.
— Ah, tá bom... Mas na casa do Tobias não faz muito frio, né?
— Mãe! Não se preocupe, eu tô com uma camisa beeeem quentinha.
— Tá bom, meu filho.
— Pois tá, mãe, beijos, até amanhã.
— Beijos, meu filho. Cuidado. Juízo.
Viktor desliga o celular.
— De onde eu tiro tanta paciência?
As horas se passavam, e já era meia-noite...
— Meu Deus! Já é meia noite! Como o tempo passou tão rápido? Acho que me distraí olhando pras diferentes casas que tem por aqui.
Já que estava tarde, Viktor preferiu ficar debaixo de uma loja que tinha na esquina, lá era mais seguro.
Viktor ficou lá, todo encolhido, não sabia nem mais o que estava procurando...
Com frio, com sono...
— Hmmm, bom, por aqui deve ter livro bom.
Viktor estava numa livraria enooorme. Era uma livraria de uma faculdade. Por ali, poucas pessoas passavam no momento, já eram sete e meia da noite.
— É, me enganei novamente. Vou ter que ir mais pro fundo.
Viktor foi andando até o fundo da livraria, onde ia ficando mais escuro, até chegar na última fileira de livros. Lá não ouvia-se nenhum som, e as luzes eram super fracas.
Quando Viktor dobrou pro lado da fileira que ficava de frente pra parede, havia uma pessoa lá... Bem, vocês já sabem. Mas, como nos primeiros sonhos, Viktor não sabia que estava sonhando...
— Cê sabe se por aqui tem livros de poesias, ou cordéis, tipo do Patativa do Assaré?
— Ah, quem dera. — falava a moça sem tirar os olhos da fileira, como se tivesse procurando algo.
— Você também tá procurando poesia?
— Miró.
— Miró de Muribeca?
— Você conhece?
— Claro. Não é meu preferido, mas é um dos mais.
— Nossa... — daí a moça já não olhava pra fileira de livros, ficava encarando, meio que sem querer, Viktor.
— Qual seu nome?
— Viktor. E o seu?
— Você vai achar meio estranho. Hahaha...
— Eu gosto de coisas estranhas.
— Hum... — olhando um pouco pra baixo — Veny.
— Veny... É apelido ou...
— Não, é o nome mesmo.
— Eu gostei.
— Hum... que bom. — dando uma pequena risada e voltando a olhar pra fileira de livros.
— Veny, eu vou procurar um pouco mais aqui do outro lado da fileira. — começando a virar pra trás.
— Não... — Veny segurou sua mão.
Viktor olhou diretamente pros seus olhos e...
BUM! As luzes se apagam, não há mais nada, nada mais tem cheiro, nada mais tem som, nada mais tem cor...
Viktor acorda com os olhos cansados, como de quem dormiu na calçada.
— Veny... Gostei desse.
Ele continua sorrindo um pouco, olhando pro nada e...
— Que horas...
Viktor olhava pros lados, com os olhos apertados, com o cabelo assanhado e meio escorado na parede.
Viktor pega o celular.
— Nossa! Já são seis da manhã!
Viktor perdeu um pouco do seu sorriso quando lembrou que não conseguiu encontrar a Senhorita V. E era, provavelmente, a sua última chance.