O amadurecimento da paixão parte 3.

Para que não se percam na leitura, sugiro a visualização dos dois textos publicados anteriormente.

Taissa me encarava, surpresa após ouvir tudo que eu disse para ela.

- Não sei o que dizer, Dani. Você me pegou de surpresa. Muita coisa mudou daquele tempo pra cá, nós dois mudamos muito. Não sei se quero pensar nessas coisas agora sabe? Nós dois nos olhávamos, conversando seriamente pela primeira vez na vida acredito eu.

- Não tem problema, eu te entendo. Até porque, motivos pra não querer nada comigo não te faltam. Eu nunca te valorizei e agora tô querendo correr atrás do tempo que eu mesmo joguei fora. Não faz sentido, né? Eu disse já soltando-a, mas sem parar de encará-la.

- Não é nada disso. Você é bonito, inteligente. É um garoto diferente. Mas eu quero ficar um pouco sozinha, viver a vida e deixar as coisas acontecerem. Mas isso não significa que a gente não possa ficar um dia. Espero que não se afaste de mim, sério. Ela disse com uma sinceridade que por alguns instantes chegou a me comover. Mas durou pouco. Porque em seguida me veio na cabeça que ela não queria estar comigo, mas se o outro palhaço quisesse ela com certeza aceitaria.

- Tudo bem, Tai. Pode ficar tranquila que eu não vou me afastar de você. Já amadureci bastante comparado há alguns anos atrás. Pretendo errar um pouco menos daqui pra frente. Dei um sorriso de canto, que foi mais forçado que qualquer outra coisa. É só aquele complemento que você dá para que a pessoa não desconfie que está com raiva ou algo do tipo.

Ela sorriu de volta e disse: - amigos então? Concordei, claramente contrariado obviamente.

Resolvemos então ir para casa, já que aquele jogo de futebol havia durado mais que o esperado e eu precisava de um banho urgentemente. Me despedi dela e entrei, sem fazer questão de olhar para trás e descobrir o que ela estaria fazendo ou para onde ficaria olhando.

Ao entrar em casa, meu primo estava sentado na sala assistindo televisão e mexendo no celular. De longe, eu disse a ele que ia tomar um banho e que depois conversaríamos. Ele ficou me sacaneando pelo atual estado que me encontrava é claro, mas não liguei muito e fui para o chuveiro.

Depois de tomar banho e jantar, fui para o quarto e meu primo veio também. Já deitados e sem nada de interessante para se fazer, eu já cogitava até dormir como se o amanhã nem fosse chegar. Mas o estorvo que se encontrava ao meu lado não deixaria que isso ocorresse com tanta facilidade.

- E aí, como foi lá com a mina? Te deixei sozinho com ela, não vem com essa de que não rolou nem um beijinho.

- Sai, moleque. Não rolou nada. Já te falei que eu só sacaneava a mina quando estudamos juntos, agora eu vou comer gostosinho na mão dela. E anota aí, talvez nada faça eu conquistar aquela garota de novo. Disse isso com desânimo, como se soubesse em que lugar daria tudo aquilo.

- Qual foi mano, nunca te vi desse jeito. Que tristeza é essa? Não desiste não, mulher é assim mesmo. Tu sabe como elas são. O problema é que você tá correndo muito atrás, e se tu continuar fazendo isso provavelmente ela vai preferir o cara que ignora ela. Dá um tempo e deixa ela te procurar, espera pra ver se ela sente sua falta.

- E se ela não sentir? Perguntei, como quem tem medo do resultado que pode atingir um projeto mal sucedido.

- Aí quer dizer que por mais que você tente, ela sempre vai preferir outra pessoa. Se ela não te quiser, tu vai partir pra outra e esquecer essa mina. Tá me entendendo? Ele disse sério, mas rindo segundos depois.

- Estou sim. Agora vou dormir leque, já aconteceu muita coisa hoje. Tô precisando esfriar a cabeça. Amanhã a gente conversa, já é?

- Tranquilo meu parceiro. Sabe que te amo né, se precisar de alguma coisa é só falar comigo. Vamo dormir então. Disse pedro, já virando para o outro lado.

Antes de dormir, fiquei pensando por longos minutos em tudo que vinha acontecendo nesses últimos dias. Fiquei um pouco confuso, pois não estava sabendo administrar essa adversidade de sentimentos que se instalaram na minha cabeça sem pedir permissão.

Depois de muito refletir, decidi encerrar por ali a minha busca por explicações sentimentais. As pessoas sempre me disseram que essa coisa de se apaixonar era difícil, mas para mim a teoria era um exagero criado com a intenção de assustar os desavisados. Que nada, acabei por descobrir que o desavisado era eu. E que se era para assustar, a iniciativa realmente tinha sucesso.

Fechei meus olhos e apaguei, deixando o sono me dominar junto com toda aquela carga de acontecimentos acumulada. Tive sonhos bem estranhos, acredito que faziam jus ao meu estado recente de compreensão mental.

Acordei me sentindo bem no dia seguinte. Confesso que me surpreendi, não esperava que uma noite de sono pudesse fazer tão bem como costumavam dizer com frequência os mais velhos. Por que os adolescentes sempre acham que sabem de tudo, hein? Nos consideramos tão superiores, mas ficamos feito idiotas com uma simples paixão não correspondida.

- Levantei da cama e percebi que Pedro ainda dormia. Se eu fosse um cara que não gosta de bagunça, o deixaria ali dormindo e seguiria meu caminho e minhas tarefas. Mas não, eu não faria isso até por saber que ele no meu lugar jamais permitiria que eu continuasse a tirar meu sono tranquilamente.

Sorrateiramente, me abaixei e comecei a balançá-lo. Sacudi aquele moleque de todas as formas, mas parecia que ele tinha tomado uma garrafa de vodka pura. Não acordava de jeito algum.

Aproximei a minha boca do ouvido dele e comecei a assoprar, gritando em seguida:

- Acorda, Cinderela! Seu sapatinho já tá te esperando na sala. Comecei a rir e continuei: - bora moleque, parece uma mocinha dormindo. Já são quase meio dia. Levanta e vamo tomar café, hoje é dia de jogo do Flamengo.

- Tu é muito otário moleque. Espera que isso vai ter volta. Só espera! Disse ele, irritado por ter sido acordado.

Comecei a rir e respondi: - tá de sacanagem né? Não tem volta nenhuma, isso já está resolvido. Tu não fez questão de me acordar ontem? Agora tá aí seu castigo de volta. Para de chorar e levanta logo.

Acredito que ele percebeu que eu estava certo, pois desistiu de argumentar e levantou. Ou talvez o sono era tanto que ele preferiu não gastar palavras para discutir comigo. Acabei rindo sozinho ao pensar nisso, e fui tomar café antes de sair de casa.

Após o café e o banho, escovei os dentes e fui para a rua. Não tinha erro, o horário marcado era sempre o mesmo. Caso ainda não tivesse ninguém no portão, era só aguardar que todo mundo chegava.

Fiquei encostado no portão da casa de Taissa. Isso pode parecer estranho ou proposital, mas não era. Eu tinha esse costume mesmo antes de ela se mudar para lá.

O tempo foi passando e ninguém aparecia. Achei estranho e pensei até em ligar para um dos meus amigos, quando o portão da casa de Taissa se abriu. Eu estava encostado e com as mãos escoradas no portão, o que fez as mesmas tocarem os seios de quem lá estava.

Fiquei completamente sem graça e virei de frente, dando de cara com aquela loira de olhos azuis. Era Taissa mesmo, com um sorrisinho sem graça no rosto, acredito que ansiosa para ouvir que tipo de explicação eu lhe daria.

Se eu dissesse que não gostei, sem dúvidas estaria contando uma mentira absurda e que não faz parte da minha personalidade. Mas como era cedo para que ela soubesse disso, optei por esconder os fatos e fingi que aquilo tinha me incomodado bastante.

- Desculpa, Tai. Foi sem querer, juro. Eu tava aqui esperando os moleques chegarem e você abriu o portão do nada. A minha justificativa fazia sentido, já que realmente foi sem querer. Eu seria um tarado personalizado se tivesse em mente que ela abriria o portão e que as minhas mãos iam diretamente em seus seios. Porém, o que eu não contei a ela foi que eu gostei bastante daquele acaso do destino.

- Tudo bem Dani. Não tem problema. Você pode! Ela disse, me deixando um pouco perplexo com as palavras que saíam de sua boca.

Respondi apenas com um sorriso, o que foi suficiente para que ela percebesse que eu fiquei surpreso com sua resposta. Achei que isso fosse intimidá-la, mas nada aconteceu. Mudamos de assunto e começamos a falar sobre o jogo do Flamengo de logo mais.

- Contra quem o nosso time joga hoje? Ela perguntou-me, com aquele sorriso que eu não cansava de admirar. Acabei descobrindo que eu era completamente apaixonado por sorrisos, e sou até hoje.

- Hoje é Flamengo e Fluminense. Fla Flu! Vai ser um jogaço. Não perco por nada. Começa 7 e meia da noite, só procurar que você encontra o canal.

- Pode deixar. Também não vou perder não. Mas e os seus amigos, não iam vir jogar bola aqui?

- Boa pergunta. Tô esperando esses filhos da mãe já faz um tempão e nada. Devem tá dormindo ainda essas belas adormecidas.

Ela riu bastante do meu comentário e disse: - você continua o mesmo de sempre né?

- Fiquei pensativo sobre a sua pergunta meio afirmativa, e disse: - depende do ponto de vista. Antes eu só brincava, hoje eu já sei diferenciar um pouco mais as coisas. Aprendi que a vida pode ser uma brincadeira, mas só em certos momentos. Se você brincar demais acaba cometendo muitos erros.

- Nossa, que reflexivo isso. Mas eu concordo contigo. Que bom que agora tem esse pensamento. Ela sorriu, e mesmo que houvessem ali milhares de pessoas, só eu saberia o que aquelas palavras e aquele sorriso significavam. Como seria bom se desse para voltar atrás, não é Daniel? Eu pensava enquanto a olhava.

Eu devia responder qualquer coisa só para trocar o assunto, ou até mesmo insistir no que seria uma tortura psicológica para mim. Mas antes que eu pudesse definir uma escolha, meus amigos chegaram correndo já chutando a bola sem muita força na minha direção.

Dominei a bola e deixei ali de lado, enquanto falava com eles:

- Caramba, achei que vocês só chegariam amanhã de manhã. Que foi, a mamãe botou de castigo por não fazer a lição de casa foi? Demos risada e eles responderam:

- Eu só acordei agora. Fui dormir tardão ontem, até tomar café e fazer tudo que tinha que fazer lá em casa demorou um tempão. Disse Rafael, se justificando.

- E eu tava esperando esse mané chegar aqui pra vir, só por isso que não cheguei antes. Se justificava Bruno, o que morava mais perto de mim. Praticamente do lado da minha casa.

- Já é então, o importante é que já tá geral aqui. O Pedro já vem, a Cinderela tá lá colocando o sapatinho. Todos riram e começamos a jogar bola só entre a gente, enquanto Taissa observava.

Todos queriam impressioná-la de algum jeito. Seja pelas jogadas, seja pela marcação. O que era um fato consumado é que jogar bola com uma garota tão linda observando era bem mais emocionante que um jogo sem atrativo algum.

O sol estava quente, o asfalto fervia. Continuamos até onde deu e depois ficamos só conversando até umas 5 da tarde. A essa altura Taissa já tinha entrado, e o assunto logicamente girava em torno dela.

- Ela é muito gatinha, né? Disse Rafael. - Demais, concordou Bruno.

- É, só que essa gatinha vai ser minha. Nem que seja a última coisa que eu faça. Disse eu, tentando demonstrar uma confiança que eu mesmo sabia que não tinha.

- Eu sei que tu tá amarradão nela mano. Quer dizer, todo mundo sabe né. Foi só um comentário mesmo. Mas eu vou meter o pé, não aguento mais. Esse sol acabou comigo hoje. Vai assistir o jogo do Mengão? Perguntou Rafael.

- Claro que vou! Acha que ia deixar de assistir um jogo do Flamengo? Até parece que não me conhece. Ainda mais Fla Flu. Já é então rapaziada, qualquer coisa a gente se encontra amanhã de novo.

- Batemos na mão um do outro e cada um foi para sua casa. Eu também entrei e fui direto tomar um banho, perguntando do chuveiro mesmo a minha mãe para onde Pedro tinha ido. Já que ele levantou e não apareceu na rua para nada o dia todo.

- Tá ficando doido? Teu tio veio aqui e buscou ele, faz umas 3 horas já. Fiquei admirado por não ter reparado no momento em que ele foi embora, e não entendi o motivo de ele não ter ido se despedir de mim. Mas tudo bem, eu já estava acostumado com essas saídas repentinas dele com meu tio. Fiquei rindo pelo acontecido e saí do banho.

- Fiz um lanche e aguardei o passar das horas, louco para que o jogo do meu time começasse logo. Foi então que finalmente o narrador anunciou as escalações e eu me concentrei totalmente na televisão, ansioso esperando o início da partida.

O jogo começou e alguns minutos se passaram. O placar se mantinha em 0 x 0, e isso já me despertava uma certa impaciência. Quando eu me preparava para beber água, escutei uma voz me chamando de longe:

- Dani? Dani? Repetia a pessoa diversas vezes.

Eu sabia quem era. Sim, era Taissa. Saí correndo e fui imediatamente ver o que ela queria, sem me importar com as recomendações do meu primo para não correr tanto atrás. E naquele momento, eu estava literalmente correndo atrás dela.

- Oooi! Disse eu, olhando para ela que estava na janela do quarto que dava no corredor da minha casa.

- Vem assistir o jogo aqui comigo? Tô sozinha. Não gosto disso.

- Nem preciso dizer que fiquei sem ação. Parecia uma mentira bem cretina que seu amigo te conta, você acredita mas fica só esperando a hora que ele vai dizer que não passou de uma brincadeira.

- Claro, me espera lá no portão. Respondi para ela, que sorriu e já fechou a janela. Que outra resposta eu poderia dar? Ela estava ali, me convidando para ficar sozinho com ela assistindo o jogo do meu time de coração. É um convite que eu seria incapaz de recusar nas circunstâncias atuais.

Saí de casa e fui até ela, que já estava na frente do portão esperando por mim. Segurei na mão dela e entrei, observando aquela casa que eu já conhecia tão bem. Foi uma sensação inusitada, entrar em um lugar que eu tantas vezes já havia pisado mas não ser mais de um parente. Deixei minhas avaliações de lado e foquei na situação que o momento me proporcionava, com a ideia fixa de aproveitar todas as oportunidades.

- Fica a vontade, senta aqui do meu lado. Ela disse, e eu sem muitos rodeios sentei logo ao lado dela.

Nada de muito especial aconteceu até ali. O primeiro tempo acabou e o jogo era bom, o placar era de empate. Eu estava bem nervoso com tudo que estava acontecendo, com o jogo e com a presença de Taissa ali tão perto. Mas tentava não deixar transparecer, me fazendo de forte e tranquilo perante a ela.

- Será que dá pra ganhar? Tô nervosa, não achei que fosse tão difícil vencer o Fluminense. Disse ela, querendo saber a minha opinião.

- Vamos ganhar sim. Relaxa. Esse jogo é nosso. Clássico né, é sempre complicado mesmo. Mas o Flamengo vai vencer na raça. Respondi, procurando deixá-la confiante.

- Espero que você esteja certo. Não quero que o nosso time perca pra eles.

O jogo recomeçou e o Fluminense fez mais um gol. Ficamos bem irritados, achando que não tinha mais jeito e que o nosso time perderia.

Então, procurando esquecer um pouco do jogo e deixar o clima mais leve, peguei na mão de Taissa e comecei a fazer carinho. Ela não reagiu, parecia gostar do que eu fazia. Ficamos um bom tempo assim, e para mim não precisava acabar nunca. Poder tocá-la era tão maravilhoso, tão incrível. Eu não necessitava mais de nada. Queria poder cuidar dela daquele jeito sempre.

A cada lance perigoso, Taissa apertava a minha mão com mais força. Eu achava graça, mas não comentava nada. Até que o Flamengo teve uma falta perigosa a seu favor e Renato Abreu, um jogador que tinha muita identificação com a torcida na época fez um golaço, metendo a bola no ângulo do goleiro com um chute que atingiu 138 quilômetros. Eu lembro como se fosse hoje.

Comemoramos e pulamos muito. Parecia até que o Flamengo já estava na final do Campeonato. Me aproveitei do momento e peguei Taissa no colo, levando-a mais uma vez até o sofá e colocando-a novamente ao meu lado.

Ela sorria para mim. Nossos rostos estavam próximos, e se via ali uma mistura de aflição com felicidade. Felicidade pelo que acontecera há poucos segundos, e aflição por não saber o que estava para acontecer com os nossos lábios chegando tão perto. Faltava experiência, sobrava ansiedade. Eu a queria muito, precisava disso. Eu podia até estar idêntico a um idiota naquele instante, mas isso pouco importa. O meu sentimento por ela era mais puro que tudo nessa vida.

Percebendo que ela não reagia, comecei a fazer carinho em seu rosto com uma das mãos e deixei a outra acariciar sua coxa. Com calma, bem devagarzinho. As respirações estavam ofegantes, os nossos lábios pareciam implorar pelo toque. Eu já conseguia sentir o calor da sua boca, e os meus pensamentos se confundiam com aquele imenso desejo de beijá-la como se fosse a coisa mais importante da minha vida naquele momento.

Essa foi a terceira parte de uma história cheia de confusões e muita intensidade. Peço que continuem comentando e deixando suas opiniões, pois esse incentivo de vocês é o que me motiva cada vez mais a seguir escrevendo. Quem quiser conversar comigo por e-mail também, sinta-se a vontade. Até a próxima!