Talvez não seja tão ruim
Assustada.
Perdida.
Ansiosa.
Esses eram um dos poucos adjetivos que me definiam no começo de novo ano. Desde a descoberta do pai do meu filho, senti que seria o fim da minha vida perfeita onde existiam apenas eu e meu pequeno Theo. Sim, dei o nome do pai a ele, queria que algo me lembrasse do homem que me presenteou com esse pequeno anjo.
Mas, na virada desse ano, ele descobriu a existência do pequeno e mesmo que isso me deixasse chateada, não poderia privar o pai de ter direitos e deveres sobre o filho e ainda mais, não poderia privar o meu filho da convivência com o pai. Iria conversar com o Theo, mas a mulher dele estava presente e aquilo tudo estava desandando. Meu filho ficou nervoso com a queima de fogos e decidi que era hora de ir embora. Fui com o pai indo em meu encalço e foi ali que a mulher se tocou das semelhanças e o circo estava armado.
Para a sua família, eu era a amante do marido marinheiro que vivia mais tempo fora de casa do que junto da família. Para Theo, eu era apenas um caso antes do casamento. E eu, queria fugir o mais rápido possível daquele antro que não estava fazendo nem um pouco bem para o meu pequeno que queria começar a chorar em meu colo.
Os dias passaram e apenas recebi um oficial de justiça em minha casa alegando que eu tinha um mandato de comparecimento. O processo? Investigação de paternidade solicitado por Theodoro Furlan.
O que me espantou foi que, o meu Theo é apenas Theo, deixei o nome curto e descubro que o pai tem o nome completo, isso sim é novidade. E segundo é que, corro o risco de perder meu filho.
O pequeno alheio a tudo que acontecia, brincava e sorria para a televisão que estava no seu canal de desenhos favoritos. Estava aguardando o telefonema do meu advogado que ficou ciente de tudo e como tudo aconteceu e me garantiu que jamais perderia meu filho. O homem com quem me relacionei não manteve contato, apenas tive telefonemas bem difamatórios de sua esposa, humilhante eu sei.
Estava ansiosa para receber a ligação que foi um susto ouvir a campainha do apartamento tocar. Verifiquei se Theo estava tranquilo em seu tapete colorido e fui abrir, a minha surpresa foi encontrar o mesmo par de olhos que acorda todas as manhãs comigo a minha frente segurando uma pasta.
Sem cerimônia alguma, ele entrou olhou em volta e fixou no menininho que estava o fitando da mesma forma. Agachou-se e acarinhou os cabelos do pequeno, surpreendentemente, Theo pediu colo para um estranho que aceitou de bom grado e naquele momento percebi o erro que havia cometido, afastar pai e filho.
Tinha o telefone dele, sim. Poderia ter ligado, sim. Tive coragem para o fazer, não.
O homem apenas acenou com a cabeça para a pasta que estava agora em cima da poltrona, sentou-se no chão com o menino e pôs-se a brincar de algo que talvez fosse estranho para ele.
Peguei a pasta e abri.
Certidão de Divórcio.
Abdicação do Processo de Investigação de Paternidade.
Doação de Bens Imóveis.
Compra e venda de imóveis.
Olhei e tudo estava agora no nome do meu Theo. O pai estava divorciado, não queria saber o motivo e nem o porquê, ambos sabemos que o máximo que pode acontecer conosco é uma amizade forte e duradoura por nosso amor em comum, mas ele fez tudo isso por meu menino?
Sorri, deixei os papeis de canto e olhei para o homem entretido com o menino à sua frente. Uma lágrima escapou dos olhos e ali percebi que isso, talvez não seja tão ruim.