Observando André se aproximar Rita sentiu o coração disparar.
 
O rapaz propôs dar uma volta enquanto a conversa acontecia.
Apreensiva demais Rita logo contou a novidade que tinha citado existir durante a manhã.
_ Eu e Pedro começamos a namorar.
_ Como você pode namorar aquele pilantra, Rita?
_ Não fale assim, pois minha opinião e gosto precisam ser respeitados.
 
André não conseguia digerir a estranha notícia. Desde novinhos ele, Rita e Magali criaram laços bonitos e duradouros.
O porvir esclareceu que o carinho oferecido a Magali, além da ternura fraternal, alcançava outros horizontes. Eles namoravam há quase cinco anos, planejando o casamento em dezembro.
Ritinha, a caçulinha do grupo, sempre mereceu uma atenção especial. André a considerava frágil, meio ingênua, delicada. 
Ouvindo a surpreendente informação, o moço confirmou que não errou efetuando essa avaliação.
Como aceitar o fato tão inesperado? Pedro era um marginal sem sugerir a menor centelha de recuperação.
Como Rita que, até efetuar a confissão, jamais havia revelado qualquer simpatia pelo perigoso vizinho, topava agora namorá-lo?
 
Os embates e questionamentos continuaram.
Rita falou firme:
_ André, eu pretendo ficar afastado de você e Magali. Não posso tolerar vocês ofendendo meu namorado.
_ Fico triste, Ritinha, mas talvez seja a melhor decisão.
 
Ritinha olhava André partindo angustiada, pois a cena permitia prever que a conversa dificilmente seria renovada.
Os papos descontraídos do trio, os passeios, tantos programas alegres e animados, Rita, escolhendo a companhia de um rapaz com preferências bem diversas, deduzia que passariam a embalar a preciosa nostalgia relembrando a excelente amizade a qual eles construíram.
Ela verificou duas ligações de Magali.
Era um hábito todas as conversas contar à querida amiga, mas agora bastava aguardar André resumir o conteúdo do encontro que ela fez questão de marcar somente com o simpático rapaz.
 
**
A florida praça parecia lamentar o silenciar do burburinho, as pessoas dispersando, os bancos cada vez mais vazios.
O vento frio anunciando chuva e a madrugada querendo se aproximar justificavam poucas almas permanecerem no local.
 
Rita não percebia o tempo correr nem os primeiros pingos caindo, tudo anulava fácil o desencanto profundo o qual experimentava.
Já sentia falta dos agradáveis encontros ali mesmo, trazendo Magali, André, guloseimas, pipocas, réfris, risos, mil causos, fofocas inocentes, um universo o qual ela julgou prudente anular.
Desse jeito ela impedia ser inevitável confessar o sentimento enorme e incontrolável, que, nos últimos anos, não cessou de aumentar bastante virando tormento, tortura, culpa.
Nunca arriscaria dizer a Magali que ter apenas a amizade de André não compensava o querer beijá-lo, tocar o moço, obter suas carícias, sonhar formar uma bela família ao lado do rapaz, enfim, ocupar exatamente o espaço da maravilhosa amiga.
E andré? Aqueles olhos ternos e sedutores decidiriam evitá-la caso ela ousasse fazer a verdadeira revelação.
 
Ah! Rita o amava demais. Lutou contra, tentou mentir, negar, resistir, porém o coração, cruel carrasco sem piedade, escolheu nutrir a chama proibida e ganhou o rosto da intensa dor, afligindo feroz.
Almejando não enlouquecer, nasceu a confissão absurda, um incoerente romance com o vizinho Pedro, que sempre insistiu paquerando Rita.
A verdade, bem mais simples, faria um estrago incalculável, ponderou a triste apaixonada que começava a provar o frio abraçando a praça.
 
De manhã, antes de levantar, Rita confirmou que Magali não voltou a ligar. Os amigos, decepcionados e preocupados, não mais insistiriam no contato conforme ela bruta pediu a André na conversa derradeira.
Talvez assim o gostar impossível maltrate menos, concluiu a romântica jovem, a última vítima do amor, que, algumas vezes, nós imaginamos buscar a direção errada.
 
Por que Cupido realiza escolhas caprichosas?
Por que as setas que lança nunca erram o alvo?
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 13/02/2016
Reeditado em 13/02/2016
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