O Complexo Amor: A Traição (Trecho)
Minhas mãos tremiam sobre o volante, sentia o meu rosto queimar, e as palavras de Fernanda ainda ecoavam em minha memória. Trazia comigo sobre o banco do passageiro ao meu lado, as provas do adultério. Desviava o olhar, sempre que possível, sobre aqueles papéis, pois, faziam meu sangue ferver.
Corri direto a casa de minha mãe, onde Eduarda deveria estar, na intenção de dar um basta naquilo tudo, não agia pela razão, e, portanto, não media consequências. Estando a poucos metros de distância dali, comecei a dirigir mais devagar, esperando tomar folego o suficiente para suportar o impacto da iminente discussão. Mas, logo que entrei no recinto, percebi a ausência de quase todo mundo, com exceção de Rose, que dormia. Sentei-me na poltrona da sala de estar por alguns instantes antes de pegar a chave da chácara que jazia sobre a estante, e partir para lá.
Não demorei muito para que chegasse ao local, e não tinha muita ideia do que realmente pretendia encontrar por lá, talvez, quisesse um tempo sozinho para pensar sobre a vida, sobre a minha vida. Abri a casa, e logo quando entrei, e caminhei em direção ao quarto, vi algo que muito me entristeceu. O colchão, sobre a cama de casal, era o mesmo da antiga casa, o mesmo que havia visto tantas coisas, boas e ruins. Cai em prantos diante dele, enquanto passava as minhas mãos sobre o tecido, contemplando o amargor de saber que fora ali mesmo, uma das cenas do crime, o antro do pecado mortal.
Chorei, confesso, igualzinho a uma criança com muita dor, esperando ser consolado pela mãe que parece nunca vir. O som ao redor, cessou para ouvir os meus lamentos. Tudo estava indo tão bem, nós erámos alegres, sorriamos juntos, brincávamos juntos. Aprendi a conviver com nossas dissemelhanças, e acreditava realmente poder traspor a elas. Éramos íntimos um do outro, e não existia segredos entre nós, pelo menos, assim eu pensava, porém, com a traição, tudo veio a baixo. “Quem era ela?” – Perguntava a mim mesmo – “Será que nunca a conheci de verdade? E se sim, por que? Por que me limitei a ver nela, apenas o que eu queria ver?”
“Por que você fez isso comigo amor? Por que?” – Sussurrava, com olhos encharcados, debruçado sobre o colchão.