Firefly (Vaga-lume)

Aquele garoto adorava contemplar o pôr do sol. Adorava sentar na beira da sacada do seu prédio, sendo descuidado, porém nunca caía. Ah, sua única distração era olhar a doce ilusão do céu, observava tudo, as diversas tonalidades, os pássaros que ali passavam, as estrelas... Um certo dia até tomou uma para si, deu um nome para ela, Firefly, vaga-lume. Sua doce e amada estrela estava todos os dias do ano no céu. O garoto sempre chegava da escola quando começava a escurecer, sempre ia ver seu amor.

Que loucura, não é? Amar uma estrela! O pobre garoto acreditou fielmente na hipótese de que a estrela não ia decepcioná-lo.

O garoto viveu assim até seus 30 anos. Nunca teve uma namorada de carne e osso, nunca teve uma companhia, estava sempre atolado em seus cálculos e em sua Firefly. Mas... houve um dia em que sua estrela não apareceu. Por onde ela estava? O garoto, que agora já era homem, ficou desolado. Esperou pelo próximo dia, e outro, e outro... Esperou muito tempo, pois quem ama espera.

Após anos descobriu que a sua estrela já estava morta havia muito tempo. Não sabia que mesmo depois de mortas, a luz das estrelas continuam a mostra aqui, por causa da longa distância.

Sua estrela, morta.

Seu erro foi tomar para si uma estrela já distante. Já com a luz pálida. Já desaparecida. A dor aumentou ao subir na velha sacada e não vê-la onde deveria estar. Que garoto louco! Onde já se viu amar uma estrela? Mas não dizem que toda forma de amor é válida? Seu amor era mais puro e singelo do que de muitos casais por aí.

O homem se atolou em sua dor e luto, jurou não amar mais nada. Sua estrela já estava fria, distante, sua estrela não existia à mais de três séculos.

Um dia o garoto já homem decidiu contemplar o pôr do sol novamente. Ainda era descuidado, entretanto já não tinha sorte. Tropeçou, vacilou, se segurou para não cair. Sentiu aquele vento no rosto e sorriu, pois o vento batendo nos cabelos era bom. Se soltou, abriu os braços e se sentiu um pássaro, se sentiu livre, gostou da sensação de cair. Disse uma adeus para o pôr do sol e fechou os olhos. Não se preocupou, estava indo encontrar sua estrela já distante, quem ama sempre dá um jeito de estar junto, seu jeito foi esse.

Adeus, garoto-homem da estrela, cuide dela onde estiver.

Leticia Moura
Enviado por Leticia Moura em 10/02/2016
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