Pessoa real
Uma garrafa de vodca está na minha frente, quase vazia. Minha cabeça dói, meu corpo dói, minha alma pede ajuda, pois está ferida. Por favor, me ajude.
Não entendo como tudo pode ter mudado tão rápido, eu tinha esperanças! Tudo o que eu tinha era amor e esperança. Mas para que isso? Não adiantou de nada quando tudo desmoronou. As noite estão piores, os pesadelos não me deixam em paz durante o sono. Tenho medo do escuro, pois penso que ele irá me consumir, assim como consumiu você.
Você era tão sorridente, tão bela, tão viva. Hoje você não é mais nada, só lembranças. É horrível imaginar que sua pele macia está submersa por um monte de terra, e seu corpo se decompondo aos poucos. É horrível imaginar que você já não é você, e já não pode ser mais nada. Não pode ser médica, como desejava. Não pode viajar para à França, como planejava. Não pode mais ver o sol nascer e se pôr como fazia todos os dias. Não é capaz de existir, e você existia como nunca, você era real, tinha conteúdo.
Meu corpo treme por imaginar voltar para aquela cama fria, onde logo outro pesadelo irá me fazer acordar gritando, dizendo "não" à plenos pulmões. Não, você não devia ter me deixado. Não, você não podia ser tão cruel. Mas eu sei, a culpa não é sua, a culpa é daquele maldito caminhão. A culpa é minha por não conseguir desviar dele. Por que você e não eu? Eu me contentaria em não existir mais, me contentaria em saber que você iria continuar a sorrir, a correr, a viver.
Eu me contentaria em não sofrer. Me contentaria se você ainda estivesse aqui.