PEDRO
Aos treze anos me apaixonei por um homem que não existia. Encontrei Pedro pela primeira vez nas páginas de um livro que havia acabado de chegar em um grande pacote com outros vários livros.
Minha mãe, professora de português, recebia com regularidade pacotes de livros das editoras, para que os indicasse aos seus alunos, e nós, eu e minha irmã mais velha, nos deleitávamos lendo cada um deles.
De início, achei a capa do livro engraçada, e o nome meio ridículo - SPHARION - mas descobri ser um dos melhores livros que já li até hoje.
Além de ser muito bem escrito e envolvente, o livro trazia como subtrama uma história de amor vivida pelos personagens PEDRO e DINA.
Pedro era um homem ao mesmo tempo apaixonado e cheio de dignidade. Tudo o que fazia ou falava era exatamente aquilo que se esperava de um homem de verdade. Mas não era só isso: Pedro era lindo.
Entre as ótimas ilustrações que existiam ali, encontrei uma em que a imagem de Pedro era comparada a de um dos profetas esculpidos por Aleijadinho. Aquele homem triste, sério, com um rosto exótico e aqueles irresistíveis olhos amendoados, mudou para sempre meu conceito de beleza masculina.
Desde então eu procurava um Pedro de verdade para mim. A impossibilidade de encontrar aqueles traços replicados em uma pessoa real me fizeram deixar por conta do destino a minha vida amorosa. E assim vivi os amores que a vida me trouxe, já esquecida daquela figura de perfil tão singular.
Um tempo atrás, ao circular pela internet, divisei aqueles traços fielmente moldados no rosto de um homem. Ali estava Pedro! Com outro nome, uns anos mais velho, mas era ele! Os mesmos olhos puxados, o mesmo semblante circunspecto, os mesmos traços angulosos.
Voltei a ter treze anos naquele dia. Havia encontrado aquele rosto, mas ainda precisava conhecer aquela pessoa. Deu um certo trabalho no começo, mas, muito devagar e delicadamente, fui me aproximando, e o "Pedro" real era tão encantador quanto o fictício. Ele nunca soube desta história e acredito que sequer um dia vá ler este texto, mas era bom que soubesse que eu o amava desde menina, e que lamentei demais quando o nosso relacionamento chegou ao fim.
Se um dia chegar a ler este conto, ele saberá alguma coisa sobre mim, em troca de todas aquelas que um dia ele contou sobre si.
Infelizmente agora é tarde, ele já não está comigo, e eu não tenho mais treze anos. Meu Pedro se foi e voltou para a página do livro ao qual sempre pertenceu.
Aos treze anos me apaixonei por um homem que não existia. Encontrei Pedro pela primeira vez nas páginas de um livro que havia acabado de chegar em um grande pacote com outros vários livros.
Minha mãe, professora de português, recebia com regularidade pacotes de livros das editoras, para que os indicasse aos seus alunos, e nós, eu e minha irmã mais velha, nos deleitávamos lendo cada um deles.
De início, achei a capa do livro engraçada, e o nome meio ridículo - SPHARION - mas descobri ser um dos melhores livros que já li até hoje.
Além de ser muito bem escrito e envolvente, o livro trazia como subtrama uma história de amor vivida pelos personagens PEDRO e DINA.
Pedro era um homem ao mesmo tempo apaixonado e cheio de dignidade. Tudo o que fazia ou falava era exatamente aquilo que se esperava de um homem de verdade. Mas não era só isso: Pedro era lindo.
Entre as ótimas ilustrações que existiam ali, encontrei uma em que a imagem de Pedro era comparada a de um dos profetas esculpidos por Aleijadinho. Aquele homem triste, sério, com um rosto exótico e aqueles irresistíveis olhos amendoados, mudou para sempre meu conceito de beleza masculina.
Desde então eu procurava um Pedro de verdade para mim. A impossibilidade de encontrar aqueles traços replicados em uma pessoa real me fizeram deixar por conta do destino a minha vida amorosa. E assim vivi os amores que a vida me trouxe, já esquecida daquela figura de perfil tão singular.
Um tempo atrás, ao circular pela internet, divisei aqueles traços fielmente moldados no rosto de um homem. Ali estava Pedro! Com outro nome, uns anos mais velho, mas era ele! Os mesmos olhos puxados, o mesmo semblante circunspecto, os mesmos traços angulosos.
Voltei a ter treze anos naquele dia. Havia encontrado aquele rosto, mas ainda precisava conhecer aquela pessoa. Deu um certo trabalho no começo, mas, muito devagar e delicadamente, fui me aproximando, e o "Pedro" real era tão encantador quanto o fictício. Ele nunca soube desta história e acredito que sequer um dia vá ler este texto, mas era bom que soubesse que eu o amava desde menina, e que lamentei demais quando o nosso relacionamento chegou ao fim.
Se um dia chegar a ler este conto, ele saberá alguma coisa sobre mim, em troca de todas aquelas que um dia ele contou sobre si.
Infelizmente agora é tarde, ele já não está comigo, e eu não tenho mais treze anos. Meu Pedro se foi e voltou para a página do livro ao qual sempre pertenceu.