A menina dos fones de ouvido
Eu fazia faculdade numa cidade vizinha a minha e todos os dias eu pegava um ônibus até o ponto onde a van da universidade pegava os alunos que moravam longe, dia após dia eu esperava de dez a quinze minutos no ponto da van e a partir da segunda semana de aula comecei a reparar nas pessoas que sempre estavam ali, mais precisamente em uma morena linda que estava sempre de fone de ouvido e pegava seu transporte um pouco antes de mim. Fui ficando mais a vontade, cumprimentando aqueles que sempre estavam ali, mas ela que estava sempre alheia ao mundo fora dos seus fones, nunca dei sequer um aceno e isso só me fez ficar mais intrigado...
Iniciando a terceira semana de aula decidi lhe cumprimentar mesmo que ela estivesse ainda mergulhada no que tocava aos seus ouvidos, sai de casa segurando firme a mochila e um sorriso brincando nos lábios. No ônibus eu repassava varias maneiras de saudá-la, me sentia uma criança ao fazer amizades na escolinha, praticamente pulei do meu banco quando o ponto onde eu descia chegou, esperei as três pessoas a minha frente descerem e quando desci automaticamente me dirigi ao banco onde ela sempre estava sentada... Mas ela não estava lá. Uma menina que eu nunca tinha visto ali estava sentada em seu lugar, dei um giro ainda confuso e nenhum sinal da menina dos fones de ouvido, deixei meus ombros caírem em um sinal claro de derrota enquanto me arrastava até um canto do banco.
As aulas passaram rápido enquanto eu devaneava sobre a minha derrota do dia, fui para casa e deitado na minha cama olhando para o teto só conseguia ver o rosto dela e imaginar suas expressões faciais enquanto conversávamos me fez dormir com o sorriso no rosto. No dia seguinte precisei faltar e pelo resto da semana peguei carona com um vizinho que trabalhava próximo à minha faculdade, logo veio o fim de semana e na segunda-feira retomei minha rotina de ônibus, neste dia em uma chuva fortíssima. Coloquei o capuz do casaco enquanto descia do ônibus correndo até debaixo da cobertura do ponto, pelo canto do olho vi uma cena até então inédita e não pude evitar arregalar os olhos e sorrir, a morena estava sem os fones de ouvido e olhando ao redor... Tirei o meu capuz e dei alguns passos em sua direção passando pelas pessoas que se escondiam da chuva, sem ensaio, sem tentar prever nada, eu me aproximei e quando ela me olhou alguma coisa em seu rosto mudou, seus olhos estavam de alguma forma ligados ao meu e enquanto meu sorriso insistia em não sair do meu rosto eu levantei meu queixo e disse “Oi”. Mal sabia eu que a menina dos fones de ouvido seria a mulher da minha vida!