Como Marvin desaprendeu a amar

Sabe a sensação de aguardar ansiosamente por algo que sempre se sonhou? com algo que se planejou, um amor sem rosto buscado em cada fresta de esperança, filhos com carinho de duas pessoas que se amam intensamente, uma família unida e viver tão feliz que seria impossível querer trair tal convívio. Bem essa era a vida a dois que o Marvin sonhava, era essa a vida que ele buscava nos olhares das garotas que ele tentava buscar para esse papel em seu filme simples e desejado. Sua primeira lembrança foi de uma Camila Moura de seu colégio, admirava de longe, tentava chamar sua atenção, mas infelizmente para ele ainda era novo demais para saber que não seria seu primeiro amor, mas como o amor de criança se perde no tempo com novas histórias somente o nome restou, depois veio uma colega de rua disputada pelos colegas, mas agora quem sabe ele já não desenrolaria? afinal já tinha seus 16 anos aproximadamente e ela era prima de um amigo quem sabe não rola nada e esse amor finalmente vá desenrolando suas tranças pelo tenso garoto, nada feito nesse episódio curto da sua vida, ela não o via atraente e desinibido, afinal todos os colegas já sabiam chegar em uma mulher e ele não, tudo era pecado, tudo era errado, negar se conhecer, pressionado por um falso e “paterno” faça o que eu digo, mas não o que faço, sempre repressor sempre de falso moralismo, tolo Marvin sempre obediente, vai que Deus o punisse por desobedecer a quem a moral só aparecia no púlpito e da boca pra fora, mas vamos cortar algumas partes que não remetem ao tema e evitar que quem o leia passe horas de labor . Acontece que o Marvin toda vez que encontrava uma garota ficava tão nervoso com a possíbilidade de ser a dama dos seus sonhos que passava mal, uma vez assim o foi com uma garota que o nome não permaneceu mas a lembrança sim, engraçado ora nomes ficam ora as lembranças, que bom que algum desses inquilinos sempre resolvem ocupar um espaço. Ela ela linda, loira, morava depois da linha do trem, no que na época era quase um sítio depois do Pitimbu em Satélite, com ela mas era muito limitado nas ações, talvez porque sua mãe sempre dizia que as mulheres preferiam os cavalheiros, que detestavam assanhados e etc. Então seguiram creio que dois encontros com sua musa loira, em um ficaram de mãos dadas conversando e ele tal qual um grupo de periquitos presos em uma gaiola testava a sua afeição, ela esperando mais ações e ele esperando que ela o achasse digno de seu amor, (risos) quem pouco se atreve na vida e segue prioritariamente os passos definidos por rígidas religiões, dogmas, pais, fatidicamente é como um pássaro de asas cortadas que só conhece o chão, nunca se atrevendo a voar, naquela época ele não sabia que o bom da vida era essa incerteza, que ao contrário de reprimir seus hormônios e sua vontade de a beijar por horas deveria sim ser não o grosso, não o cavalheiro distante, mas o garoto que queria passar um tempo com a garota, o cara que arrisca. Ela então o diz que gostava dele mas que o mesmo falava demais, já no segundo encontro ele vai em sua casa, passa um tempo com ela e novamente nervoso vai embora passa mal no ônibus e fica com medo de parecer um tolo na frente dela desistindo de mais um possível grande amor.

Passam anos e vamos ao colégio novamente, lugar de intensas recordações, amigos, paqueras, aprendizados de todos os leques, novamente o amor bateria em sua porta mais duas vezes, uma com uma garota loira, cheia de vida, que ele gostava mas não sabia nem chegar nela e nem como a falar, em um episódio na praia ele ainda lembra de no caminho a olhar e ela deitar sobre seu ombro e aquilo parecia tão belo que ele não queria estragar o momento falando algo, novamente como era ela linda e viva o medo de tentar ser audacioso demais e perder a amizade o fez ficar recuado mais uma vez e lá se foi outra chance, já no fim de seu tempo no colégio e uma das poucas vezes que conheceu garotas legais nas igrejas, algumas sempre o chamavam de amigo, de um cara legal, nada de interessante que se queira ter ao lado com certeza, voltando a garota ela partilhava de dois ambientes com o Marvin, e um deles sua voz de tão linda o fazia se sentir leve, cantando na igreja parecia realmente que se encontrava anjos ali e não pessoas que falavam e não cumpriam, já no colégio a sua beleza a fazia almeijada pelos mais diversos olhares, em um determinado dia que ela falta a escola tem-se uma brincadeira em sala de aula sobre declarações poéticas e eis que sua chance se esvai de tentar a dizer o que sentia, na verdade um colega tenta e não teve bons resultados o que faz com que ele pense ainda mais se seria certo arriscar perder ela ao seu lado ao menos como amiga, mal sabia que ela iria sair de sua vida sem que ele tivesse a chance de dizer pessoalmente que a amava, chorou como nunca por sua partida, quieto e como todo bom equilibrado garoto escondeu seu choro para si, depois manda uma carta para sua amada, porém se ele mesmo não se ajudará quem diria o destino? Quando se nem os dados consegue jogar porque esperar pela sorte? La se foi até agora a maior perda de seu coração.

Novamente o Marvin é teimoso e acredita piamente que mesmo tendo sido romântico demais ele ainda assim conseguiria sua garota, em suas linhas e mais linhas ensaiava versos para sua futura amada, até que um dia ele conhece uma pela internet, simples a garota, conversa boa, sofrida da vida, quem sabe ele não pudesse a ajudar e conseguisse assim ganhar seu amor? Ele conversa e conversa até que propõem se encontrar, já se passaram anos mais ainda a imagem do dia é nítida em sua recordação, marcam em um local que ela conhecia, perto da praia na descida para o chaplim, para praia dos artistas, ele se arruma em uma felicidade extrema de a ver ao vivo e poder ter a chance de a tocar, sentir seu cheiro e seu calor. Não diferente das outras vezes ficou nervoso, no meio do caminho passou mal, mas não quis desistir pois aquela poderia ser a mulher de sua vida, ele sobe a ladeira ofegante, mas feliz e a encontra esperando linda, ela atravessa e saltitando o abraça, mesmo com o tempo ele lembra do abraço e dos corações palpitando junto, e pensou que naquela hora deveria ter a coragem de a beijar, e assim a propôs e fez, um beijo desengonçado como ela dizia, sem muita prática (coisa que ele não tinha). E naquele momento seu lado romântico renascia, mais apimentado verdade, tanto que ela inocentemente se surpreendia ao ver o que um telefone não seria escondido vergonhosamente em sua calça folgada e surradinha. Depois daquele dia lembra-se de cada ínfimo momento, seu primeiro amor com ela, natural pois ele tanto aquele dia havia praticado em sua mente, tanto que ela desconfiaria de que não seria sua primeira mulher naquele dia. Mas suados de uma longa caminhada deitados numa rede em um local que ele tinha planejado alugar para passar um dia juntos, tão intenso cada cheiro, os beijos , a respiração tudo parecia mágico como todos os infinitos filmes de romance que via, melhor era vivido. Seguiram alguns meses, idas românticas a pracinha, no escuro da noite nos cabelos de Marvin a Elita mechia, faziam planos de como viveriam, quer fosse numa casa, barraco qualquer coisa com ela ao lado era o que ele queria, sentia a dor de seu sofrimento quando como uma pessoa estranha seus familiares a maltratavam dia após dia, e isso o corroía fazia querer mais e mais a proteger de tudo, qualquer coisa ele faria, tanto que em 3 meses eles se casam, um dia 1 em julho de 2010 ele obtinha a maior realização que compreendia ter feito em sua vida, casar com a mulher que para ele era a sua perfeita companhia, decidiu que qualquer outra coisa que não ela não faria mais sentido em sua vida, que sem ela parecia sem vida e vazia, alugaram um ap e foram viver ele era pura felicidade dia após dia, sem doença que o atingisse quer seja dor ou mal humor, pois no fim do dia ela a veria. Por tolice ou inocência ele deixou muitas aproximações, familiares que lá iam, creio que hoje ele entende que de tempo a sós precisariam, mas ela já nos primeiros dias de casada mostraria que sua prioridade diferente da dele seria, decide que vai trabalhar em um plantão conferindo estoque na primeira semana de casados até a madrugada em seu trabalho, ela dizia que não podia dizer não senão o emprego perderia, ele achando ruim mas aceitou pelo amor que por ela tinha.

Andavam muito, sem muito dinheiro sobrando, mas cada coisa simples tinha um significado com ela, desde andar abraçados na rua a sair pra comer um espetinho a noite, contado em cada pedaço para ver até onde com seu dinheiro podia, e mesmo na dor era feliz quando via seu sorriso ou quando deitado no seu colo o mundo esquecia, esse com certeza foi seu maior amor e mais a frente a maior dor que ele não imaginara que sofreria, cada lembrança caminhada, cada local, música, qualquer coisa é um ceifeiro de parte de seu coração, pois cada vez que se lembra morre pouco a pouco sentindo a dor dessa desilusão, mas isso é mais para frente por enquanto o encontro dos dois gerava felicidade sem comparação, outra vez em sua inocência achou que se conseguisse economizar aluguel comprariam um cantinho só seu e que finalmente ele que tanto insistia por filhos poderia ter os seus quando seu cantinho tivesse, foram para casa da sua mãe, que realmente não ajudou com piadinhas e ironias, criando dia a após dia uma rixa mútua entre as duas pessoas que ele mais prezava em sua vida. Após alguns meses insustentáveis ela decide se mudar pra casa dos pais dela e diz que ele quiser poderia a seguir, novamente por amor ele o faz, o que era simples pois onde ela estivesse sua felicidade estaria, mal sabia ele que por maus bocados passaria, assim o foi brigas e mal estar, transtornos para a defender e dificuldades enquanto parcelas do sonhado apartamentos pagavasse para o sonho desfrutar um dia, creio que muitos já passaram por isso e um dia os chama a MRV e diz que mais vinte mil a vista deveriam dar de entrada, na época em um kitnet apertado sofrido estavam, em dias ela chorava e isso partia seu coração, já tinham muitas tristezas e mais essa? Nessas epócas houveram muita separação, brigas e situações. Um determinado dia ele fica doente e vão para o hospital, ela estressada diz que não passará mais de quinze minutos pois ele tinha ficado doente porque queria e ela precisava do emprego, ele mesmo triste entendia, sabia que essa necessidade de emprego dela era pra que os dois pudessem melhorar um dia e deixou passar, entrando no hospital ela o surpreenderia pois sua fisionomia muda quando um homem mais velho vem descaradamente a arrodiar, não cria que nenhuma mulher notasse quando um homem está interessado nela, ele que sempre foi tonto para essas coisas notou porque ela não? Ela de quinze minutos fica 45, e sem olhar para o doente na cama encarando o homem e ele a ela era como se terminasse de o matar ali mesmo na cama, primeira facada que daria para assassinar seu coração. Ele inconformado com a situação diz: Você disse que ia esperar 15 minutos somente e estava toda estressada comigo pois eu estava doente, já fazem 45 minutos e você toda sorridente ai conversando sem sequer ver se estou bem. Ela se toca e decide ir embora o deixando remoer sua dor no coração que já era maior que a que o tinha levado ao local naquele dia. Ele começou a crer que ela já não o amava da mesma forma, que as brigas e sua situação mais simples em termos financeiros a fariam procurar outra opção, mas acreditava que o amor mudaria tudo que ela veria seu sacrifício por ela dia a dia e decidiria que ele era seu amado, seu coração. Em uma das vezes que ela estava doente ele a leva para o hospital e fica com ela até tarde, sai vai para casa a deixa e não dorme para esperar a resposta dos exames que só sairia as 3 da manhã, vai sozinho de madrugada andando pois estava preocupado se tinha algo grave e não queria esperar para saber de manhã, cansado volta depois de receber um resultado de uma aparente alergia, mas satisfeito por nada grave, é humano e pensa em qual diferente foi da sua a situação, mas a ama profundamente e deixa para lá pois ela lhe dava o amor que sempre sonhara, ou pelo menos acreditava que ela o amava.

Já não saia com os amigos e sua vida era a dela, sair só com ela, estar feliz só com ela, brincava com as meninas mas nem a sonhava em trair, até que começou a ver ela ser o que ele nunca quis ser, mentir e ocultar compras, dizer que era obrigação do homem sustentar tudo da casa, apagar mensagens do celular, atender ligações nervosas, dizer que era engano, ir a festas do trabalho onde o cônjuge nunca podia ir, constantemente ia a casa da mãe, achava ruim quando ele na dele ia , estavam um casal juntos mas se separando dia após dia, isso doía muito nele, via o sonho de ter sua filha fugir a cada dia. Ele que antes respeitava sua privacidade agora precisava encontrar a verdade, já que mesmo ele a pedindo para dizer nunca assim ela o fazia. Instalou no computador um keylogger e pegou seus movimentos e suas conversas, uma delas o deixa triste e meio confuso quando ela fala pra uma amiga que o tinha visto e depois saiu correndo, ele sabia que o ex dela a tinha maltratado, mas antes disso sabia que muitas gostam do ex bad boy, do cara mal que não ligava para elas e isso o deixava triste. Quando a atitude de evitar que ele pegasse seu telefone ficou muito intensa ele se aproveita e assim o faz no seu telefone, vê que ela recebe uma longa ligação e que o número é de um Ab em sua agenda, para que Ab? Somado ao constante atendimento telefônico desnorteada ele não se aguenta e joga verde, sabe que tem algo errado e que ela esta de conversa/caso com alguém mas quem? Decide que vai falar que sabe que ela anda falando com o ex, assim o faz e ela nega até que ele mostra o número e diz que vai ligar, ela então tenta enrolar, diz que ele ligou só para saber do natal, se ela estava bem, que tinha sido só isso. Então ele fala que em mais de 4 minutos é impossível que a conversa seja tão curta, começa ai a desmoronar o sonho, a confiança, o amor. Depois disso ele decide que se aparecer alguém ele também tem o direito de testar um outro amor, tenta mas não tem muita habilidades com as mulheres, tem um encontro com alguém que faz seu coração pulsar forte novamente, mas ela o rejeita.

Ele decide que não dá mais para viver uma mentira, as brigas voltam, mesmo estando com raiva das mentiras dela dói no coração a ver sair cansada para trabalhar depois de noites de briga, não entende porque ela que não parece lhe amar ainda insiste em brigar pra manter somente uma aparência, não queria isso para sua vida pois já tinha visto o que a falta de amor causa a uma família, mesmo a amando muito ainda decide que é hora de se separar, ainda continuam se encontrando, pra ele é difícil e creio que mesmo não o amando pra ela também, mas só sexo não segura uma casa por fim o divorcio é assinado, faltaria a venda do apartamento que mostraria que as conversas dela de que permaneceria sua amiga iriam desaparecer, ela realmente queria um canto seu, para isso tinha que suportar quem não amava, a pessoa que tinha dado tudo por ela, que a tinha mostrado que ela tinha que lutar por um emprego melhor, que tinha passado por humilhações por ela, que havia deixado de escutar a todos que diziam pra não casar, que queria ter filhos e viver agarrado pra toda vida e morrer velhinho ao lado dela. Por fim vendido o apartamento a brisa fria se instaurou, ela parecia que o tinha apagado de sua vida, simples como uma borracha e para ele a dor restou, ele agora anda com medo de amar, nem sabe se isso existe, pouco romance escondido agora restou, apagando a mágoa em qualquer abraço, nem que seja comprado, pois é muito difícil segurar essa dor. Por mais que tente se livrar de toda recordação, de toda angustia , se valorizar e seguir, ela ainda permanece viva na lembrança como seu primeiro amor. Assim Marvin ficou depois de Elita, que seu coração pisoteou.