PESADELOS DE AMOR SEM FIM

Já passei noites em claro, sem conseguir dormir e depois sem conseguir acordar. Está com depressão? Dorme o dia inteiro, não sai? Foi o que escutei tantas vezes. Não, estou bem , apenas uma fase ruim, alguns problemas no trabalho. São desculpas. Na verdade , uma fase que dura oito anos. A criança já cresceu , foi para escola e aprendeu a ler. Uma outra já nasceu, andou, está falando. A vida mudou, seguiu em frente. É preciso esquecer, e para cada tentativa de esquecimento uma lembrança a mais, dia após dia. Semana após semana, ano após ano. Os olhos inchados e o olhar triste são distorções do que dá pra se ver apenas por dentro. Por fora tudo parece lindo e perfeito. Um quarto arrumado, uma casa completa. Você tem tudo o que as pessoas lutam para ter a vida inteira. Sim, é já tentei não procurar para não cair de novo nas mesmas ciladas, de amor, mágoas, carências e silêncios. Ninguém gostaria de alguém assim, nem eu mesma me gosto. Quero esquecer, mas o tempo não apaga os momentos. Não dá. Ciladas que o tempo não apaga mais também não muda. Promessas que nunca vão se realizar e sonhos que jamais vão se concretizar. Cenas de um teatro tragicômico dignos apenas de pena e loucura. Quem nunca passou por isto? Existem situações piores, mas isso não consola, nem ameniza. Depois de tantos anos é possível encontrar consolo no álcool. Beber até ficar tonta, de ressaca, não poder ir trabalhar. Para depois acordar, procurar, relembrar momentos, de chorar e chorar muito. E na imagem daquele último instante, naquelas palavras, no toque, dos olhares, de tentar encontrar quem sabe naquele singelo gesto, naquele último momento , naquele derradeiro encontro aquela resposta do que a razão não consegue entender e a realidade não consegue explicar. São pesadelos que acontecem todas as noites, sempre da mesma forma. Única forma.Uma casa, um encontro e um desencontro. A mesma casa, em algum endereço desconhecido, mas sempre revisitado. Tudo simples, pequeno, escuro. O vazio, o silêncio, a espera. Tentativas de explicações irreais da não realidade impossível de mudar. Um lugar no impossível, no improvável, no 'infalável". Das questões que não puderam ser resolvidas, das mentiras que não puderam ser mudadas, tampouco das verdades -ainda que doloridas- mas que também não poderiam ter sido ditas.Mas não é possível mudar o passado, tampouco controlar os desejos. De tudo que não dá pra mudar e que se tenta esquecer,-com a mesma precipitação e intensidade -que se tenta resgatar o último suspiro da morte. A morte de um amor sem fim, de um desejo insaciável , mas também de uma realidade impossível e insuportável. E assim, as vidas perfeitas vão sendo criadas apenas por fora. Escondendo muitos segredos por trás da felicidade plena que se mostram apenas nas fotografias. Porque não há vida real sem que haja imperfeição.

Mariana Montejani
Enviado por Mariana Montejani em 31/12/2015
Reeditado em 31/12/2015
Código do texto: T5496072
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