Clonagem

Os clones caminharam lado a lado de mãos dadas. Um pouco constrangidos, olhavam um para o outro de soslaio, admirando suas semelhanças. Esboçaram falar e as palavras saíram ao mesmo tempo, numa sincronia surpreendente.

Sentaram em uma mesa antes ocupada. Ela em um esforço grande, deitou a cabeça no ombro dele e ele ansioso, balançou a perna, desequilibrando-a e derramando sobre ele um copo parcialmente usado.

Passada a falta de jeito que comprovava serem um o espelho do outro, ele perguntou:

- Se hipoteticamente a amasse, seria um amor narcísico?

- E ela respondeu: Acredito que não, porque embora criada de você, sou uma parte nova da sua natureza, que desconhece. Mas e se eu o fizesse? Seria reflexo dos sentimentos que sempre existiram em você?

- Também acho que não - continuou ele - pois embora tenha herdado as coisas que sinto, acredito que a forma como as manifeste é único como toda arte, que assume diferentes formas de acordo com quem as vê.

Coraram... Não tinham muita habilidade nesta área que descobriam juntos e nisso eram exatamente iguais. Levantaram desconcertados e querendo sair do embaraço, pensaram em seguir o caminho.

Mas novamente pensaram ao mesmo tempo e na mesma direção. Se esbarraram e arrepiaram. A energia magnética que une criador e criatura.

E sem entender ou tentar explicar o porquê se beijaram. Se amariam, embora no íntimo achassem que se amaram desde que eram parte um do outro. Naquele instante juntos, clonaram o amor.

Fernando Paz
Enviado por Fernando Paz em 19/12/2015
Reeditado em 19/12/2015
Código do texto: T5485025
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