Fim da Inocência
Acordara cedo, bem antes do sol aparecer… Vestiu-se com uma roupa leve, calças de linho marrom, blusa florida e sandálias de cordas e couro. Na cabeça um chapéu de palha de abas largas… Organizou uma cesta com frutas, pães, bolos e sucos e saiu para o campo ao encontro do namorado, que a esperava na beira do rio. Tinha o que? Uns dezesseis anos de idade e ele era bem mais velho e impaciente, tinha acertado aquele passeio já ha bastante tempo. Seria um dia inesquecível, a beira do rio, prometera! Ela já não tinha tanta certeza assim… Gostava muito dele mais já o achara bem mais interessante! De longe ele se destacava em relação aos demais meninos da sua cidade… Muito bonito, alto, magro, parecia ser o próprio personagem das lendas, tantas vezes ouvidas! Suas atitudes eram de um rapaz já bem vivido e com a experiência dos seus vinte e sete anos a conquistara. Ele o viu de longe, estava encostado no carro … Se abraçaram ele a beijou e prontamente a levou ao paraíso! Era sempre assim… Longe dele era tudo mais fácil, perto dele as coisas se complicavam e ela não se possuía mais, não mandava mais em si... Seu perfume a confundia, sua voz sempre suave falava de coisas nunca antes escutada, parecia fábulas… Histórias de príncipes, belas adormecidas e dragões! Depois ele pegou a sua mãos e foram então rumo ao rio e por um momento a menina pensou nos negros d'água: e se eles aparecem e os deixam em uma situação constrangedora? Sem roupas? Já ouvira falar que tinha acontecido antes com outros casais… Sorriu do inocente pensamento e seguiu em frente! Encontraram uma linda margem rodeada de árvores frondosas e pequenos arbustos floridos… Ela estendeu a toalha, organizou os sanduíches, bolos, sucos e frutas. Depois de tudo pronto, tirou a roupa e foi para a água, precisava se acalmar, estava se sentindo um pouco ansiosa. O rio estava calmo e suas águas densas e mornas a acalmou, fechou os olhos e deixou-se aquecer pelo sol da tarde… Depois, ficou olhando para ele que só de calção de banho olhava para ela, ele se demorou um pouco a entrar no rio, dando assim quem sabe, uma pequena chance da menina reconsiderar… Ele vagarosamente se aproximou, a tomou nos braços, a beijou como sempre fazia mas com mais urgência, de forma diferente, calidamente, profundamente... Ela, meio adormecida, ouviu lá longe um suave canto… Uma doce e monótono som! Uma música que parecia mais um lamento e que jamais sairia dos seus ouvidos. Seria a Iara lamentando-se ao rio? Fechou os olhos e deixou-se levar, embalada mornamente, também, pelo som do rio… E aos poucos foi acompanhando-o em uma estranha dança… E assim, mansamente, magicamente ele, tirou-lhe a venda e a despertou para a vida!