Ela era incrível (2)

Era muito incrível realmente, eu sou suspeito por falar assim, mas minha mãe era incrível. Senti uma imensa satisfação quando ela concordou que eu fizesse tua biografia. Quando ela acabou de contar aquela história no 1.º texto: “Ela era incrível” no qual eu termino dizendo:

--- É Mãe, mais uma história para ir completando sua biografia...

Ela me respondeu:

--- Tem muitas histórias ainda, Lourenço, realmente agora não dá pra continuar, mas vê se não demore muito pra vir aqui e continuar a escrever tudo que pretendo contar. Lembra do que falei: meus noventa anos estão passando (ainda desta vez ela não falou quanto havia passado rs...rss...) eu sei que é difícil pra você vir na minha casa, você mora tão longe!... (a minha casa ficava a poucos metros de distância, vi logo que minha mãe estava tirando um sarro com a minha cara) aí respondi:

--- Pode deixar dona Vitória, não vou demorar muito desta vez...

E pouco tempo mesmo eu já estava naquela varanda com bloco, caneta e sentindo não ter um gravador pra não perder cada palavra que ia ouvir da famosa Dona Maria Vitória, autêntica contadora de história.

Parece ainda ouvir aquela voz:

--- Ah! Lourenço, você veio? Que bom!

E aí ela a começa:

--- Você sabe que nós não vivemos por acaso. A vida é um mistério, por isso que por mais entendido que a pessoa possa ser não sabe uma resposta definida sobre a vida. Então eu penso que pelo menos devemos ter fé. Eu fui catequista, minha obrigação é tentar passar para os outros sobre a religiosidade ou melhor as coisas que nosso Mestre e Salvador Jesus Cristo deixou para nós. E é por isso, meu filho, se tentei passar para os outros, lógico também que devesse passar para vocês meus filhos.

Eu estava ouvindo atentamente, até que a interrompi bruscamente:

--- Mãe, falando em religiosidade eu lembro que papai que nessa hora deve estar com o Papai do Céu, rezava todos os dias 3 terços antes de deitar e a senhora falava para ele:

--- Luiz, não adianta rezar tanto e não ir à igreja, participar dos sacramentos, quer dizer fazer a obrigação que todo católico deve fazer!

Aí minha mãe me respondeu com toda autoridade:

--- Eu chamei a atenção do seu pai sim, mas você quer saber? Ainda bem que ele rezava aqueles terços, porque é um sinal de que ele tinha fé. Você não puxou nem por mim, nem por ele. Eu já não te falei se não quiser seguir a religião que foi batizado, a igreja católica apostólica romana, então deveria seguir a religião de sua esposa porque ela é uma autêntica evangélica. Vê se não fica em cima do muro!!!... (a franqueza e autenticidade sempre foi o forte daquela que era religiosa até no fundo d’água)

Com este puxão de orelha eu ia dialogar com minha mãe dizendo que não pretendia mudar de lado, apesar de estar satisfeito com a religiosidade de minha esposa, influenciando a todos meus 5 filhos a seguir a religião evangélica, (antigamente conhecidos por protestantes) só que aceitava muito o que se afirmava na igreja católica, por exemplo a virgindade de Maria, até acreditando em algumas de suas aparições, algumas destas histórias considero belíssimas e crendo realmente serem sobrenaturais. Ao mesmo tempo não debatia os cultos nas igrejas evangélicas, suas músicas divinas, encantadoras. Era permanente contra sim, alguns grupos radicais dizerem:

--- Venham para esta igreja, pois só aqui está a salvação...

Mas para evitar o debate cerrado com minha mãe, fui logo mudando um pouco o foco que estava formando, falei:

--- Mãe conta aquela passagem que a senhora estava na missa e escutou uma voz.

Aí novamente animada e mais calma ela começou:

--- Eu estava na missa, justamente na hora de receber a Eucaristia, escuto claramente uma voz:

--- Vai para sua casa agora!

Levantei dali e fui mesmo. Chegando em casa no caminho tinha uma mina de água com mais ou menos um metro de fundura, era a nossa mina porque naquele tempo não tínhamos água encanada. Vi uma das minhas crianças que não lembro qual era, mal sabia andar e estava praticamente quase caindo naquela mina, mal tive tempo de puxá-la pelas pernas e a tirei do quase afogamento.

Escutando este relato de minha mãe fiz minha afirmação:

--- Mãe, esta criança era eu. Lembro que estava afogando nesta mina e senti que me puxaram pelas pernas.

Mamãe falou relutante:

--- Ah! Então era você! Viu como devemos não perder a fé?

E voltando o assunto de religião, seguir religião, você...

Eu interrompi novamente:

--- Espere aí mãe, vamos deixar pra outro dia, ainda tem muita história pra por na sua biografia.

É O PRAZER DE ESCREVER E TODO ESCRITOR QUER SER LIDO, QUER DIZER QUASE ESCRITOR.

QUERO DEIXAR AQUI OS MEUS SINSEROS AGRADECIMENTOS PARA AQUELES QUE CONTINUAM ME LENDO. ENFIM É UM PRAZER INDESCRITÍVEL IR ESCREVENDO, ESCREVENDO, OS QUE GOSTAM DESTA MANIA NATURALMENTE ME COMPREENDEM...