Uma foto misteriosa
Revirando um baú de antigas recordações de família, logo após o falecimento de minha vózinha Duda, encontrei algo que me chamou a atenção.
Lá estava um menino franzino de grandes olhos arregalados, meio a uma montanha de cabelos cumpridos, uso da época do retrato.
Suas roupas eram bem antigas e sérias. O que destoava com aquela criança, que se assemelhava ali a um feitor de escravos, tamanha a seriedade de sua imagem. Seu sorriso era um mero esboço entre os lábios finos.
Então, passei a perguntar a todos da família, sobre a tal criatura estranha:
- Será o tio Bruno, ou vô Toninho?
E todos diziam, Não o vô Toninho era loiro. Já o Tonho da tia Cleuza, talvez...Não, não pode ser. Ele nunca teve uma foto de infância.
Por ser o meu cérebro ainda adolescente, passei a voar nas asas da minha imaginação.
- Ou quem sabe. Nas da maionese.
Até o dia que uma família vizinha, que havia se mudado há tempos, veio nos visitar.
E entre vai e vem de lembranças e comparações como:
- Nossa como ela cresceu... e Fulano e Beltrano?...
Surgiu, então: - Temos fotos que Vó Dudinha guardava de recordação. Você quer ver?
Nisso, ao chegar a vez da foto misteriosa, Rosa soltou gritos de alegria.
- Até que enfim encontrei a foto de meu vôzinho Argemiro. Como será que ela veio parar aqui?
Todos nos entreolhamos. E meio a uma profundo silêncio entendemos, naquele instante, o porquê de tantos mistérios.
Eles haviam ficado viúvos muito cedo e não se casaram depois disso;
pois as famílias eram grandes demais com dez filhos, ainda pequenos, de cada lado.
Os papéis de bombons da vó Duda, que abrigavam bilhetinhos sem assinatura, com um só destino, "Ao meu amor.", foram a chave do tal mistério.