Insidiosamente;
O sentimento abstrato é tacado com fúria na tela lisa, borrões e marcas assombreadas sobrepõe o próprio sentimento inaudível.
Dizem que a vida é para ser vivida; mas sem lógica alguma; não é justa; não é perfeita; mas é a tal vida. É ou não é?
"Ela abomina o vazio. Todavia se entrega ao máximo do abstracionismo entre espátulas e facas, entre os pincéis e as ataduras - parece personagem fictício - arqueóloga? Talvez sim, talvez não. Mas fechou-se por um longo tempo dentro de um quarto em forma piramidal".
Concentrou-se na tela. Tateou à penumbra consolidada no lastro de luz vindo do poste do outro lado da calçada. Injetou a ira num rabisco profundo e marcante. Estrangulou a crina do pincel até o pingar lancinante do vermelho arroxeado. - Tapa na cara, dedo em riste bem no meio da tua cara, seu cafajeste lindo! - imagem baqueada pensando 'filhadaputamente' . - Que crueldade, cara. Desmanchar a tela antes mesmo de eu acabar de contar a nossa história.
Deslizou encostada na parede. Deslizou os dedos sobre os fios dos cabelos grudados na nuca. Sentiu calor. Sentiu horror. Sentiu tédio. Sentiu vergonha. Sentiu-se impiedosa e crudelíssima, dissimulada ao extremo. Sexy e gostosamente embriagada. E na tela escorriam ondas em azuis como se o mar tingisse todo o excesso de alguma fragilidade tão terna.
Relação ambígua - gosto dessa palavra: a-m-b-í-g-u-a. Uma sacanagem bem polida versus sutileza sem caráter. Olhos baixos, timidez exacerbada, tesão a mil ... E a tela retratada em carne e osso; mais carne que osso, gostosa e cheinha...
Nos enganamos insidiosamente.
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The XX - Infinity