As Noites Brancas:Capítulo 2-Bom dia,Rebecca!

Olá.

Saudades de mim?

Eu estava dormindo.Tendo uma boa noite de sono.Isso até o meu celular apitar.Meus olhos se abriram de imediato,como se eu tivesse levado um puta susto.Enquanto meu coração batia mais rápido que pistão de Ferrari e estava louco pra sair pela minha guela pra dar um ‘’Oi’’ pro mundo,eu tentava procurar em minha mente o momento no qual eu deixei o celular do lado do meu travesseiro.

Mas enfim.Isso não vem ao caso agora.Peguei o celular pra ver o que era.

Era uma mensagem do WhatsApp.Uma mensagem de bom dia.De uma menina.Da Rebecca.

A mensagem não era nada de mais.Apenas um simples ‘’Bom dia !’’*

(*Nota do Autor=Eu não sabia que dava pra fazer esse emoticon no Word.Sério!)

Ah,cara.Lá vamos nós.De novo.

E não pense que eu me esqueci de você.Acha que eu não te notei perguntando pra si mesmo ‘’Quem é Rebecca?’’?Calma que eu vou te contar quem ela é.E de brinde,vou contar pra vocês uma história que ocorreu entre nós dois.

Meninas,essa história tem altas doses de ‘’ain,que fofo!’’.

Então,é o seguinte.A Rebecca é uma amiga minha do Ensino Médio.Do último ano,pra ser mais exato.Lembro exatamente como nós nos conhecemos.Era o primeiro dia de aula.Eu me dirigia á minha sala,como de costume,quando eu vi uma menina muito bonita,perdida,tentando achar a própria sala.Cheguei perto dela e perguntei qual era o problema.Só que teve um detalhe:Não foi difícil ignorar a carinha de ‘’Poodle feliz da vida quando vê o dono trazendo uma vasilha de ração’’.E quando acabei a explicação,percebi que tinha dado a informação da minha sala.Conclusão:Ela estava na minha sala.No momento em que chegamos,ela se sentou na cadeira atrás de mim e perguntou,toda sorrisos ‘’Se importa se eu me sentar aqui atrás de você?’’.Mandei um sim.E pronto.E parece que o resto do ano dela se resumia a mim.O primeiro pra quem ela mandava bom dia.O primeiro com quem ela puxava conversa no intervalo.O primeiro pra quem ela chamava pras festas nas quais ela fazia ou ia.O primeiro pra quem ela pedia ajuda ou algum conselho.E só.Sendo que eu me considero feio.Com narigão,óculos e rosto gordinho.

‘’Mas ela é feia?’’.É aí que você pergunta.

Não.Ela não é.Pra falar a verdade,quem chamar ela de feia recebe um atestado de retardado.

Sabe por que?Talvez ela seja a menina mais linda que eu já vi em toda a minha existência neste mundo cruel.

Tente visualizá-la na sua mente.Magra.Magra mesmo.Branca igual leite industrializado.Rosto magro com detalhes afiados,como se tivessem sido desenhados pelo próprio Da Vinci.Olhos azuis-claros.Cabelos que mesclam o negro e o loiro.Piercing de ouro no nariz.Dentes brancos igual pérolas.Resumindo:Bonita igual a uma modelo.

‘’Mas por quê você não namora ela?’’.Posso ouvir você falando.Vem mentir não,filha da puta!

Bom,eu não namoro e nem namorei ela simplesmente porque...Eu não quis.E nem quero.

Eu sei que você deve estar se estapeando por eu perder uma oportunidade dessas.Mas eu não namoro ela porque eu não tenho interesse em ser mais do que um amigo dela.

Ela sim.Ela quer me namorar sim.Nem precisa perguntar pra ela.Ela já me deu a resposta desde o momento que me conheceu.

Só que isso já teve um ‘’auge’’.

Certo dia,um dos professores passou mal na sala dos professores e teve que ir embora pra casa.Tivemos aula livre.E enquanto a sala estava ruindo no caos das conversas e desenhos no quadro,eu fiquei entediado e decidi escrever um poema que preso na minha cabecinha.Levei menos de 10 minutos pra terminar ele.Porém,antes de pensar em revisá-lo,um amigo meu,no despertar do seu ataque de safadeza,soltou um ‘’O que você escreveu aí?!’’ e pegou ele da minha mão num piscar de olhos.E deu ele pra Rebecca..Falou que era um poema escrito pra ela.No momento que ela estava em um dos cantos da sala.Rodeada de amigos.Ela leu.Descobriu que era a minha letra.

E a merda foi realizada.

Até o final do ano,todos da sala ficavam cantando ‘’Nicolas e Rebecca,o casal da sala!’’.

Isso me deixava nos nervos.(Sim,meu nome é Nicolas.Prazer).

Na maioria das vezes,eu achava a brincadeira legal.Mas eu temia que ela achasse que eu gostasse mesmo dela.E se eu desmentisse isso...Seria um mar de lágrimas por parte dela!

O melhor foi no último dia de aula.O pessoal ia se despedindo uns dos outros.Mas tinham aqueles que ficavam me lotando o saco com perguntas do tipo ‘’Pô Nicolas,quando tu vai se declarar pra Rebecca?’’.Porém,eu tinha um plano.

Se eles queriam uma declaração,eles iriam ter uma declaração.

Passei o intervalo inteiro procurando por uma flor nos jardins da escola.Nem comi.Esperei milênios pra fazer essa porcaria de uma vez.E na hora da saída,a sala inteira nos cercou.Ainda pediam uma declaração.Por fim,cedi a tentação.Tirei o óculos.Joguei o cabelo pro lado.E falei:

‘’Mesmo que o advento do tempo tente apagar nossas memórias

Mesmo que a distância apague nossas vozes

Tua beleza singular sempre vai me acompanhar

Uma beleza digna de uma obra de arte

Nem um pouco objetiva e chata

Mas uma beleza subjetiva,que encanta o olhar,que seduz o coração

Que engrandece o bobo,que ridiculariza o herói,que dá esperança ao fracassado

E,o mais importante,que encanta este sonhador como eu

Seus olhos embebidos da mais pura pureza

Seu toque de algodão,me faz parar nas nuvens

Sua voz que chega aos meus ouvidos,tão quente quanto a música dos anjos

Seu sorriso que me preenche com a mais reconfortante das alegrias

E o seu amor,capaz de fazer este bobo chorar

Por ser incapaz de lhe presentear algo melhor do que esta flor’’

Detalhe:No instante que eu recitei o último verso,eu tirei a flor do meu bolso e coloquei-a no orelha dela.Combinou direitinho.E,pra completar,cheguei perto dela,dei um beijo na bochecha e sussurrei no ouvido dela:’’Eu te amo’’.A sala inteira foi a loucura.Ela ficou vermelha,não disse nada,mas abriu um baita sorriso.

Não bastava eu estar com fome.Timidez era pouco pra definir o que eu sentia.Mas eu fiz.

E no dia da formatura,quase chegamos às vias de fato.

Ela me puxou pro lado.Disse que realmente me amava.Que não queria viver sem a mim ao seu lado.Que eu era perfeito pra ela.

Tentei dizer o que tinha que dizer sem prestar atenção na sua bela maquiagem.No seu cabelo bem cuidado.No seu belo vestido verde esmeralda.Mas eu finalmente disse,com uma mão em uma das bochechas dela (a mesmas que eu beijei):Eu apenas gostava dela como uma amiga.Nada mais do que isso.Seu rosto esboçava uma tristeza tão intensa que me fez ficar triste também.Ela só respondeu com um ‘’Eu entendo’’.

E seguimos as nossas vidas depois disso.Isso até ela me dar esse ‘’Bom dia’’.Ver essa mensagem me fez lembrar de toda essa história.

Enfim.Respondi a mensagem dela com um ‘’Bom dia’’,larguei o celular no quarto e fui para a mesa de refeições,esperando por um café-da-manhã.Nada mais do que um pão com manteiga e um copo de leite.Porém,eu vi panelas naquela mesa.Sim.Panelas.Feijão,bife de porco,uma tigela de gelo,uma tigela de salada,um prato com bananas fritas,jiló,lentilha e uma imensa panela de barro com feijão tropeiro.

Dormi demais?

Bom,a cara que os meus pais e meus irmãos ao me ver em pé e cansado indica que sim.

Somente naquele momento eu lembrei da hora no relógio do meu celular quando eu vi mensagem de Rebecca:12:17.

É.

Peguei um dos pratos na mesa,coloquei somente feijão tropeiro nele e comi com uma tremenda voracidade.Senti orgulho de mim mesmo ao ver o meu prato esgotado de comida depois de alguns minutos.

Depois do rápido e inesperado almoço,pretendia passar a tarde inteira deitado na minha cama enquanto ouvia minhas bandas favoritas.A Perfect Circle,Celldweller e Mastodon.Bandas como essas.

Isso até a minha mãe me chamar para acompanhá-la ao Shopping para comprar roupas para mim e para os meus irmãos.

Tinha escolha?

Decidi ir com ela mesmo assim.

O percurso de carro até o Shopping não demorou muito.Eu consegui ficar ouvindo minhas músicas até chegarmos no estacionamento abaixo do Shopping.Nós saímos do carro e vimos o estacionamento quase deserto.Isso me deu um certo ânimo.Sério mesmo.

Quando finalmente entramos no Shopping,pude sentir o ar fresco do ar-condicionado bater em meu corpo.A imagem das lojas abertas foi como brilho para os meus olhos.

Adoro o ambiente do Shopping.As lojas,o ar-condicionado,as lanchonetes...

Estar lá sempre me dava um certo conforto.E um pouco de nostalgia também.Nostalgia das noites nas quais eu e meus irmãos ficávamos no fliperama torrando fichas e vendo que ia mais longe.

Chegamos na loja na qual a minha mãe sempre compra as nossas roupas.

Pensa numa floresta qualquer.Agora substitua as árvores por cabides com várias roupas,a terra por um chão branco e coloque duas mesas de caixa no centro.É assim que a loja é.E o passeio na loja se resumiu a minha mãe vendo roupas,comparando tamanhos e pedindo meus palpites.Em alguns minutos,eu não estava nada diferente de um porta-casacos.Felimente,como o meu gosto musical é bem versátil,eu conseguia me entreter com as músicas da rádio da loja.A maiora das músicas passavam na rádio.Porém,quando Set Me Free do House Boulevard começou a tocar...

...Eu perdi a cabeça.Essa é uma das minhas músicas favoritas!

Lembro muito bem do dia no qual eu conheci ela.Estava na casa de um amigo,num condomínio.Nós estávamos jogando Star Wars:Battlefront enquanto ouvíamos música pelo rádio dele.As músicas do celular dele estavam sendo tocadas.E,no calor do momento,essa música começou a tocar e sua energia me contagiou.

‘’Cara,que música é essa’’,perguntei.

‘’Isso é Set Me Free!’’,ele me respondeu,tomado pela música.

E cá estou eu aqui na loja,pronto para jogar as roupas para o alto e começar a dançar,ao mesmo tempo que eu lembrava da letra da música.

‘’Menino,quê que é isso?’’,minha mãe perguntaria.

‘’Calma Mãe,isso é Set Me Free!’’,eu falaria,tentando justificar a minha dança inesperada.

Ainda bem que isso não aconteceu.

Qual é o problema?Essa é a única música que me faria parar o qualquer coisa e começar a dançar.

Enfim.Enquanto minha mãe terminava de pagar as roupas no caixa,minha pobre barriga de iguana suplicava por uma refeição farta o bastante para satisfazer uma pessoa obesa.Bem,eu não sou do tipo de pessoa que costuma comer muito,mas quando eu fico com muita fome,qualquer comida poderia vir a calhar.

Sugeri à minha mãe para comermos antes de voltar para o carro.Não demoramos em achar uma lanchonete perto da loja de roupas.Minha mãe comprou um Sundae e eu comprei um copo de 700 mL de milk-shake de Ovomaltine.Acho que esse é o copo que eles chamam de ‘’grande’’.Não dei atenção a isso.Dei mais atenção à minha fome.

Logo no caminho para casa,dentro do carro,comecei a sentir novamente a desvantagem de não medir a minha fome.Após o término do milk-shake,minha cabeça mergulhou em náusea e me sentia mal devido à grande quantidade de açúcar que eu ingeri.

Por quê eu ainda faço isso?

Por quê?

No instante no qual chegamos em casa,saí do carro com extremo cuidado para não lançar quase 1L de milk-shake no carro.Por isso,o peso das sacolas de roupas não me incomodava tanto.

Cheguei em casa e, para o meu desgosto,mais comida açucarada me esperando.Um bolo de chocolate,com a forma de um tronco de cone,coberto por granulados.Ao mesmo tempo que eu tentava controlar a minha frágil barriga,tentava adivinha qual era a ocasião que necessitava o preparo daquele bolo sedutor.

Aniversário?Impossível.Os aniversários de todos da casa já passaram.

Natal?Está longe.

Passagem de ano?Mais longe ainda.

Decidi perguntar para a empregada sobre a necessidade de tal bolo.

‘’É um presente de boas-vindas para a família do amigo do seu pai.Eles acabaram de se mudar para perto da nossa casa’’,ela disse.

As pessoas ainda mandam presentes de boas-vindas hoje em dia.

Vai saber.

E como meu pai estava cansado do trabalho,minha mãe estava separando as novas roupas e meus irmãos tinha saído com os amigos,adivinhem quem teve que levar o bolo até lá?

Bingo

Por sorte,a casa deles não é longe da nossa.Na verdade,ela se encontra na rua atrás da nossa.

Fácil.

Apenas contornei a rua.A náusea se agravava por conta do meu medo de sair de casa a noite e ser roubado.Mas por que eu deveria ter medo?Ninguém roubaria um bolo de chocolate.

Achei o prédio.Um belo prédio.Conversei com o porteiro.Falei quem eu era.Ele me deixou entrar.

Entrei no elevador.Sétimo andar.A náusea aumentava.Não sabia se eu poderia resistir por mais tempo.

Saí do elevador.Procurei por uma porta e um número.706.

Achei a porta.Toquei a campaínha.O bolo começava a voltar.

Porém,quando a porta se abriu,a náusea parou.Como num passe de mágica.

Era ela.A menina.A menina que eu vi.A menina que eu vi na madrugada de hoje,na varanda.Agora eu a via.

‘’Oi!’’,ela disse,vestida com seu sorriso,sua curta calça branca e sua camisa amarela.Por alguns segundos,cheguei a confundir a bela pele pálida de suas pernas com o branco das suas calças.Seu cabelo castanho era mais bonito de perto.’’Isso é pra gente?’’.

Não consegui responder nada.Minha boca estava aberta,mas não saía nenhum som que poderia ser entendido por ouvidos humanos.Os únicos sons que saíam dela era iguais aos sons que um animal selvagem faria se estivesse com dor de barriga.

‘’Diga aos seus pais que os meus gradecem pelo presente’’,disse ela.Eu não disse nada.De novo,sem palavras.Ao mesmo tempo,ela tirou um papel do bolso e colocou nas minhas mãos.Eu olhei para o papel.Um número de telefone e um nome.Marcela.

Olhei para a frente.Ela tinha a maçaneta da porta em uma mão e a bandeja do bolo na outra.’’Tchau!’’,ela disse,por fim.Eu acenei até ela fechar a porta delicadamente.

É como se um nobre tivesse conhecido uma bela dama e,encantado por sua imagem,passasse a ver suas jóias como se fossem carvão.

Volto para a casa,sem acreditar no que eu tinha visto.Vi o meu celular.Tinha algumas mensagens novas.Vindas da Rebecca.

‘’Estou com saudades de você.Sente saudades de mim?’’

Hesitante,tentei responder.

‘’Sim,eu estou com muitas saudades de você’’.Foi o quê eu respondi.

Meus dedos escreviam ‘’sim’’,mas o ‘’não’’ imperava dentro de mim.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 18/11/2015
Código do texto: T5453003
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.