Não me acorde (capítulo 12)

Viktor corria.

— Aqui — falava ofegando — cheguei.

Viktor estava em frente ao Pop Pizzas.

— Ooooi? Meladie? — falou abrindo a porta — Você tá aqui?

Estava vazio, em silêncio.

— Meladie?

Viktor andou por todo o canto lá dentro, e nada. Até que decidiu sair. Foi até a porta do Pop Pizzas e ficou olhando pro lugar mais um pouco...

— E pensar que eu já comi tanto aqui quando era menor...

Era incrível o silêncio que reinava dentro de lá, nem carro passava do lado de fora...

...

— Hoje tá frio, né?

— Aaaaaaaahh!!

— Hahahahahaha!

— Droga, Meladie! De novo?!

— Hahahahaha! Você fica parado aí fazendo o quê, garoto?

— Nossa, que... Vou evitar entrar aqui quando eu não souber onde você está.

— Pois nunca mais vai entrar, hoje é minha última visita, vim pegar só algumas coisas que faltam.

— Ah, é verdade, você vai sair daqui. Quer ajuda?

— Como é que eu poderia recusar, né? Uma velha como eu não aguenta nem mais o peso dos ossos. Vamos, venha.

— Não fale isso!

Viktor e Meladie entraram dentro de uma sala que fica atrás de um balcão.

— Mas, e aí, garoto? Por que você tá aqui de novo? Não já sabe que o Pop Pizzas vai fechar?

— Sim, sei sim, na verdade eu vim porque quero falar com a senhora.

— Comigo?

— Sim.

Meladie pensou em fazer alguma piada, mas realmente não tinha sentido nenhum ele ir atrás dela.

— Pois... o que você quer? Realmente eu não faço a mínima ideia do que seja, o Pop Pizzas fechou, eu não sou de ajudar os outros em muita coisa, tô toda desgastada, informação qualquer outro vizinho daqui pode lhe dar. Se bem que você tem mais intimidade comigo por já termos conversado, então deve ser isso. Vamos, conte.

— Não... não é algo que qualquer vizinho possa dizer.

Meladie ficou calada porque realmente nada vinha a sua cabeça, ela não imaginava nada que pudesse ser a tal pergunta.

— Meladie, é... por acaso... você...

— Fala logo, garoto, deixa de empacar!

— Meio que você... conhece alguma menina, ou mulher que comece com a letra V?

— Com a letra V? Claro, conheço muitas. A Dona Virgínia, a Dona Valquíria...

— Dona Virgínia? Valquíria? Qual a idade dessas mulheres?

— Ah... faz um tempim que não falo com elas, mas acho que da última vez elas tavam com uns 56 anos, por aí. Talvez ainda estejam. Ou não, né, garoto, hoje em dia o povo morre é cedo!

— Não, deixa. Vamos tentar de outro jeito...

— Ok.

— Você conhece alguma menina ou mulher que tenha uma tatuagem... assim... no pé da barriga? É um olho com uma lágrima escorrendo.

Meladie ficou olhando pra Viktor, com cara de estranheza.

— O que foi?

— Que estranho você perguntar isso, porque foi exatamente essa menina que veio me pedir informação ontem.

A feição de Viktor mudou bruscamente, seus olhos arregalaram e ele passou a falar sorrindo.

— Sério?! Então você lembra?! O que ela falou?! Ela tinha realmente essa tatuagem?! Me conta!

— Calma, garoto... Ela tinha sim, era exatamente essa tatuagem de um olho chorando, eu sei disso porque fiquei olhando pra tatuagem. Eu geralmente não gosto de tatuagem, mas essa eu achei bem bonita.

— Sim, sim! E o que ela te pediu? Onde foi isso?

— Ela na verdade queria saber sobre... Espera aí, garoto. Seu nome começa com a letra V, né? É Vinícius, Victor, Vicente...

Viktor nunca tinha arregalado tanto os olhos, e ele tinha parado de sorrir, agora estava boquiaberto... E calado.

— Hein, garoto? Eu tenho a memória fraca mesmo.

— Ah! Desculpa! Sim! Viktor! Meu nome é Viktor!

— Pois ela tava querendo saber se eu conhecia algum garoto, ou algum homem, que começasse com a letra V, aí eu falei, né, do Seu Valmir, do Seu Virgílio...

— ONDE FOI ISSO?!

— Foi numa pracinha aqui perto, fica a uns trinta minutos daqui, tem até uma quadra da basquete lá, sabe?

— Sim! Sei sim! Jogo basquete lá!

Viktor tentou se acalmar, viu que desse jeito podia não dar certo.

— Pois é, foi lá.

— E isso foi há quanto tempo?

— Foi ontem.

— Foi ontem?! Ah... ontem, ok. — tentando se acalmar.

— É, era por volta de cinco da tarde.

— Meladie, muuito obrigado, tá? Você deu as informações certas, agora vamos lá levar essas coisas.

— Esses jovens de hoje em dia... tão mais avançado que internet, que agora é comunicação por telepatia!