Lanterna dos Afogados
Uma noite de várias outras que parecem infinitas, assim que me encontro atualmente.
Há 2 meses Jorge saiu de casa, ele é meu marido, pai de meus dois filhos, ele saiu para nos dar mais vida, foi fazer o que sua profissão pede, ele é pescador.
- Ciane? Tô indo, volto antes que ocê prepare o jantar - Jorge sempre dizia isso, todos os dias ele saia às 14:00 da tarde , e antes que eu terminasse o jantar ele já tava de volta.
-Vá com deus, te espero na volta - e todos os dias eu repetia a mesma coisa.
Aquele dia deveria ter sido como qualquer outro, pela tarde fui na casa da cumadre Teresa tomar um café, falemo sobre tudo, e quando eu menos percebi já era 16:00, voltei pra casa com uma alegria inacabável, cheguei à cozinha, comecei a cozinhar. Essa era a parte que eu mais gostava do dia, por que era quando meus filhos e Jorge chegavam em casa com uma alegria de mais um dia cumprido, exatamente 17:30 meus filhos chegaram, banharam e sentaram na sala pra vê televisão.
Às 18:00 Jorge ainda não tinha chegado, mas não era a primeira vez, e ele sempre dizia que o mar era imprevisível e a hora da comida é sagrada, então se ele se atrasasse, tínhamos que jantar sem ele.
- O Pai não vem jantar? - Lívia era apegada ao pai.
- Vem, mas iremos jantar sem ele, algo deve ter acontecido que fez com ele se atrasasse um pouco, mas já já ele chega - Eu estava fazendo o que Jorge sempre me ensinou.
Às 19:00 eu resolvi ir pró cais do vilarejo esperar Jorge, ele deveria estar cansado, merecia que eu o ajudasse.
E a noite começou a passar, e Jorge não voltou. Várias mulheres estavam recebendo seus maridos, e eu esperando Jorge, e ali passei a noite, sem perder as esperanças, observando as luzes da lua batendo no mar, um reflexo lindo, como pequenos focos.
Certa vez minha vó em sua santa ignorância me disse que aquelas luzes eram pessoas que haviam se perdido no mar, com lanternas tentando atrair pessoas para o mar, como uma ilusão.
Desde aquele dia, todas as noites , após o jantar, eu saio de casa com uma lanterna, e fico à beira do Cais esperando Jorge. Ligo minha lanterna, e fico focando no mar, quem sabe Jorge visse e viesse atrás, talvez ele estivesse perdido.
Mesmo sabendo que aquelas luzes no mar eram reflexos da luz da lua, desde aquele dia, eu preferi acreditar no que minha avó me disse, pois assim a esperança jamais morreria, e todas as noites eu observava aquelas luzes, esperando que Jorge voltasse da Lanterna dos Afogados, para os meus braços.