Pequenas histórias 118
Silvio e Silvia 7
O amigo estava sentado ao fundo do bar, no lugar mais escuro, um canto estratégico onde sabia que não seria importunado. Ao entrar, correu os olhos pelo ambiente, na verdade não estava procurando ninguém, muito menos ele, no entanto foi acusada de persegui-lo, de vigiar seus passos. Silvia não estava mais interessada em e no que e nem por onde Silvio poderia estar. Ao distinguir sua figura no meio das sombras perdidas, achou-se na obrigação em cumprimentá-lo, ainda eram amigos, ou não eram? Com a atitude de Silvio perante desconhecidos, pelo menos para ela Marcus até aquele momento era e continua sendo um desconhecido, só foi confirmar que a amizade entre eles já não era a mesma. Marcus estava sempre por ali, já o tinha visto perambulando a caça, como ouvira falar. Não era uma pessoa para se confiar e nem para se desconfiar, talvez um Zé Ninguém esperando estar no lugar certo e na hora certa. Quem sabe pensa que com o Silvio tenha achado o seu lugar certo e a hora certa? Quem vai saber, perguntou. O que a desgostava era ver o amigo entrar numa fria, pensava ela, e não poder fazer nada, ou melhor, não participar, ter sido posta para escanteio, da falta de confiança e, por que não, falta de amizade de Silvio. Certo, disseram: nada de se apaixonarem, mas implícito ficou se um dos dois se interessasse por alguém, pelo menos dissesse, comunicasse ao parceiro. Coisa que Silvio não fizera. Vinha se encontrando com Marcus há um tempo, até com certa intimidade, soubera. Não o cobrou, não era de cobrar e não gostava que cobrassem dela. Magoada não perdoaria o amigo nem hoje, nem amanhã. Saiu do bar, deu as costas para tudo aquilo como se nada ocorrera.
Sentiu uma tristeza pesada, uma tristeza que abrangia a noite, a cidade, o mundo, os acontecimentos. Por outro lado, foi envolvida por uma paz refletindo nos nervos relaxados, na apática morosidade da noite. Agora o que tinha que fazer era juntar os pedaços, um por um, reverificar com atenção os erros, aparar as arestas mais pontiagudas, limpar bem limpo, e depois publicar. Faria isso mesmo. Procurou na agenda do celular a palavra Silvio. Depois em Excluir, quando apareceu no visor a pergunta: Deseja excluir esse contato da sua lista? Sim, digitou. Pronto. Silvio já não lhe pertencia mais, já era, ficou nas sombras do passado.
Olhou a noite através da janela da sala. A vida continuava sua existência apesar de tudo. Deu de ombros. Amanhã publicarei no meu blog, quem sabe surja um olheiro e goste e queira editar, transformar em filme, curta, teatro ou minissérie, quem sabe? É talvez, tudo pode acontecer, não é? Pensando dessa maneira, fechou o Word, desligou o micro, apagou as luzes da sala e foi deitar pensando num novo projeto...
pastorelli