HORÓSCOPO

Sempre gostei de ler – ainda era garoto quando descobri o horóscopo – e fiquei deveras impressionado, quando no dia do meu aniversário, e faria dez anos de idade, li que receberia um presente que modificaria a minha vida. Ao andar na bicicletinha azul, que me deu muitas alegrias, eu pensava:
- “Ela está modificando a minha vida. ”
Ao tomar um tombo, e ralar braços e joelhos, tive o mesmo pensamento.

Só muito mais tarde pude ter a percepção perfeita da grande modificação, pois ao acreditar nos prognósticos dos astros, tornei-me um aficionado nas suas previsões, e toda manhã, não saía para o trabalho sem ler a tirinha que me falava sobre o passado, o presente e o futuro.
Certo dia, no horóscopo, estava escrito: o tarólogo poderá indicar o rumo certo, suas dúvidas não mais o incomodarão.
Aquelas palavras vinham a calhar, a empresa em que trabalhava – em fase de grande expansão – estava se transferindo para a área de Campinas, e uma sua concorrente, de menor porte, havia me oferecido um emprego em igualdade de condições, em que não precisaria me mudar.
Então, ainda empolgado com o que havia lido, vi ao pé da página do jornal, um minúsculo anúncio: Mônica Taróloga – Tel: 257 2522.

Em menos de cinco minutos estava ligando para Mônica – a taróloga – e marcando uma consulta. Cheguei ao bairro do Lins de Vasconcelos com vinte minutos de antecedência, passei em frente ao endereço e procurei uma vaga de estacionamento.
Subi ao sétimo andar, não precisei tocar a campainha, avisada pelo porteiro, ela me esperava com a porta aberta. Era uma loura que aparentava ter trinta anos, de olhos verdes e cabelos escorridos até a altura dos ombros, uma mulher de beleza impressionante.
A sala, ornamentada com várias mandalas, como se fossem quadros pendurados na parede, envolviam uma figura de astros, criando um cenário ambientado para se ouvir previsões.
Não houve preâmbulos, Mônica mandou-me sentar numa cadeira de espaldar alto, almofadada em verde, e sentou-se à minha frente.
Ela olhou para mim, profundamente, sem nada falar ou perguntar, eu também preferi não falar para que ela não me analisasse, criando entre nós, um clima perturbador. Seu olhar parecia estar perscrutando a minha alma, enquanto eu estava embevecido por sua beleza.
O baralho, estava em suas mãos, que o embaralhava com mestria. Ela disse:
- Pode repartir em três montinhos.
Assim o fiz, e separei algumas cartas, seguindo a sua orientação.
Ela interpretava as cartas, alternando olhares, ora para as cartas, ora para os meus olhos, explicando:
- Esse é o Sol – um Arcano Maior, que demonstra o seu discernimento ante as situações...
E assim foi, falando sobre a minha personalidade, e lá pelas tantas, disse, apontando para uma carta:
- Você vai decidir sua vida por causa da Grande Dama!
Ao apanhar a carta, ela tocou nos meus dedos, e eu segurei sua mão; enquanto ela fazia a previsão, eu a acariciei.
Toda vez, quando novamente a acaricio, lembro-me do horóscopo: “as cartas do tarô poderão lhe indicar o rumo certo. ” Hoje não tenho mais dúvidas, elas me levaram à Mônica, meu grande amor.