Não me acorde (capítulo 10)
Viktor acordou simplesmente sem entender nada. O que ele podia entender? Ele tentava assimilar um sonho em que ele sabe que está sonhando, Ostos, a Senhorita V e Meladie.
— Ótimo! Quando eu estou quase ficando ameno com toda essa história de Senhorita V, vem esse sonho totalmente estranho!
Viktor vê que o livro que ele estava lendo ainda está lá.
— Ok, vamos ver... — fala Viktor pegando o livro — Não, não.
Viktor deixa o livro de lado, se levanta e começa a pensar alto enquanto anda em círculos pelo quarto.
— Certo, vamos tentar pôr as coisas em ordem e na calma. Eu não posso me queixar de nada surreal, sobrenatural, já que estou sonhando com essa moça há dias, então vou aceitar o sonho de agora como se fosse apenas outro sonho totalmente estranho. Bom, Ostos apareceu, Ostos conhece a Senhorita V, pelo que me parece. Ostos sabe meu nome, tem um ótimo humor, parece sábio, tranquilo, feliz e humilde. Hm... acho que só isso, ainda é um enigma. Acho que irei na loja dele descobrir o que ele sabe sobre mim.
Viktor saiu bem cedo, já que tinha despertado do tal sonho às cinco horas da manhã. E ao chegar naquele mesmo local da loja...
— Ali, é aquela.
Viktor foi andando até a loja, que, por sorte, estava aberta.
— Com licença, o Ostos está por aqui? — falou Viktor com uma moça que estava na bancada da loja.
— Ostos? — falou a moça com um olhar de desentendimento.
Viktor logo se assustou.
— Jânio, cê sabe quem é Ostos? — falava a moça olhando para um colega que estava dentro da loja.
— Ostos... Ostos... Ah! Sim! Era o senhor que estava trabalhando aqui há uns dias. Aquele que pediu pra trabalhar só durante aqueles dias, sabe-se lá o porquê.
— Ah! Sim, sim... — a moça vira para Viktor — Moço, ele não tá mais aqui, ele só estava aqui há uns...
— Tudo bem, eu ouvi. Obrigado. — falou Viktor a interrompendo.
Viktor saiu da loja com um olhar de decepção e parou do lado de uma árvore.
— Por que ele fez isso comigo? É uma brincadeira na qual não está me fazendo bem... — falou Viktor com uma cara de tristeza mesclada com indiferença.
Viktor foi pra casa, só que dessa vez ele estava com um olhar diferente, seu olhar era frio. Era como se ele não tivesse mais sentimentos, ou energia.
— Filho, hoje você não trabalha, por que saiu cedo?
— Fui ver um amigo.
— Hm...
Estranhamente, a mãe de Viktor não tagarelou dessa vez. O normal seria ela fazer várias perguntas e o chamar pra comer algo, mas ela viu seus olhos, e daí não precisou mais ser dito nada.
Viktor agora só queria deitar na sua cama, e deitou.
— Alguém está brincando comigo, não sei se é Deus, não sei se é a vida, mas é uma brincadeira sem graça...
Viktor parou por um tempo com os olhos abertos, se sentou e...
— POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO? NÃO VÊ QUE NÃO DÁ EM NADA? NÃO TEM NINGUÉM RINDO AQUI! SE VOCÊ QUER SE DIVERTIR, MUITO BEM, DIVIRTA-SE, MAS LONGE DA MINHA CABEÇA, LONGE DOS MEUS SONHOS!
Viktor falava de uma forma como nunca tinha falado antes, ao redor dos seus olhos só se via uma leve vermelhidão, sua boca agora gritava num formato que nunca tinha gritado antes, era raiva, decepção, intolerância.
— HEIN? POR QUE VOCÊ NÃO RESPONDE? QUEM É VOCÊ? DEUS? A VIDA? OSTOS? A SENHORITA V? NÃO ME IMPORTA MAIS!
E nesse momento, a última frase que Viktor tinha gritado começou a voltar em eco na sua mente, até ele deitar e adormecer...
"NÃO ME IMPORTA MAIS!..."
"NÃO ME IMPORTA MAIS!..."
"NÃO ME IMPORTA MAIS!..."
Ficando mais baixo, cada vez mais baixo...
"NÃO ME IMPORTA MAIS!..."
"Não me importa mais!..."
— Amor, eu vou ali no banheiro rapidinho, tá?
— Tá bom.
O sonho se passava numa casa. Viktor estava casado com uma mulher, e os dois estavam na casa de uns amigos.
Viktor não sabia que estava sonhando, dessa vez era apenas mais outro sonho comum na vida dele.
— Viktor, o que acha daquele quadro que vimos semana passada? Ele não era bonito?
— Bonito é pouco pra aquela beldade. Era arte pura.
— Viu, amor? Eu não disse? — falava Tobias à sua suposta esposa no sonho.
Viktor reparava bem a casa de Tobias e sua mulher, quando de repente ele sentiu sua mão meio estranha.
— O que é isso na minha mão? Por que meus dedos estão pregados um no outro? Isso não condiz com a realidade.
Viktor sabia o que estava acontecendo, pois aquilo realmente não condizia com a realidade.
— Estou num sonho!
É estranho quando percebemos. A primeira coisa que Viktor fazia quando percebia era testar se realmente é um sonho, e tentar acordar...
Mas dessa vez não.
Ele escondeu sua mão e correu pro banheiro onde sua esposa estava...
No caminho em que Viktor corria, começava a lembrar do último sonho que teve. Lembrou do momento em que chegou na suposta loja de Ostos e viu que ele não estava lá. Lembrou do primeiro sonho que teve com a Senhorita V, lembrou de tudo, inclusive do quanto ele estava desmoronado por algo ou alguém estar brincando com a vida dele, lembrando dos gritos que ele deu antes de adormecer.
— Amor! Abre aqui!
Ela, assustada, abriu...
— Olha isso! Não é real! Isso é um sonho! — falava ele mostrando suas mãos.
— Como assim? Tá louco? Por que entrou assim no banheiro?
Viktor segurou o rosto da moça e disse:
— Me escuta, não tenho tempo — Viktor começa a chorar — Eu te amo muito. E não é a realidade que vai me impedir de te amar. Eu te amo!
— Viktor, o que houve? Você vai nos fazer passar vergo...
— Não! Eu te amo! Não fala! Não me faz te amar mais do que eu já te amo!
— Viktor...
— Não!! Não diz nada!! — Viktor virava o rosto pra baixo, enquanto fungava e as lágrimas caíam no chão... — A realidade é dura! A realidade não deixa eu te amar lá fora!!
Ele beija forte a moça e...
BUM! As luzes se apagam, não há mais nada, nada mais tem cheiro, nada mais tem som, nada mais tem cor...
Ele acorda com o gosto do beijo dela na boca, e com lágrimas por todo o rosto. Volta à realidade, e volta a chorar, como nunca chorou antes na vida.