DIÁRIO DE UMA GORDINHA - Cap. 11

Gato filho da puta.

Joguei o que sobrou do frango dentro do lixo e abri a geladeira, desolada. Peguei o resto do presunto e do queijo e fiz um enroladinho. Era o que tinha para comer. De noite, cozinhei arroz branco e comi misturado com ovo frito. No dia seguinte eu precisava ir urgente ao supermercado se não quisesse morrer de fome. Até a ração do Saddam tinha terminado. Será que foi por isto que o bicho se atracou no meu frango?

Com fome. Foi nesta condição que deitei naquela noite. Fome de comida de verdade e do Aírton. Cretino. Desgraçado. Sem vergonha. Divorciado também, o que era uma luz no fim do túnel (não sei pra quem). Comecei a fazer cálculos mentais para me distrair. Com quem seria a primeira transa do Aírton? Apostei na Cássia. Ela estava desesperada atrás de sexo já fazia um tempo, desde que o último namorado tinha lhe dado um pé na bunda com louvor. Seis meses que a Cássia tentava dar para alguém, sem sucesso nenhum. Sobrou até para o estagiário-gatinho-surfista do financeiro. Talvez ela até tivesse conseguido alguma coisa se a mãe do cara não tivesse invadido a empresa chamando a Cássia de pedófila na frente de todo mundo e do Doutor André também. Bom, esta história eu conto depois...

Naquela noite sonhei de novo com o Aírton. Ele estava sentado em um trono vermelho rodeado por Bárbara, Virgínia e Cássia. Completamente nu e com uma coroa de ouro na cabeça. E o pau dele era enorme! As meninas soltavam gritinhos excitados acariciando aquele homem maravilhoso. Então ele me viu. Em pé, eu os observava um pouco afastada, tímida, perto de uma porta. Aírton deu uma piscadinha de leve e me chamou com o dedo indicador, empurrando as putas com um gesto brusco para o lado.

Acordei.

Três horas da manhã, excitada e com fome. Era o cúmulo do abandono. Uma ducha gelada resolveu parcialmente a questão.

Acordei às oito horas da manhã, atrasada e quase em pânico. Pontualmente às 8hs e 38 min entrei na minha sala de cabelo arrumado, batom rosa e impecável no meu salto alto. Dois dias sem o Aírton era para enfiar os dez dedos naquele lugar em que você está pensando e rasgar.

- Oiê.

Era a Cássia. Sério, suportar a Cássia de manhã cedo era para os fortes. Me virei não muito simpática quando fui surpreendida por aquele berro histérico:

- Cadê a sua barriga?

- No mesmo lugar onde estava ontem.

- Não é isto! – ela chegou mais perto e foi logo pegando no meu abdômen. – Você está mais murcha.

- É para ser um elogio?

- Me conta o segredo!

- Segredo porra nenhuma – falei meio irritada. Cruzes, será que o resultado da minha dieta forçada estava fazendo efeito?

Cássia foi até a porta e chamou:

- Virgínia! Vem cá ver uma coisa!

Virgínia surgiu em cinco segundos e se deparou com Cássia apontando para minha barriga escandalosamente.

- Olha ali! O-lha a-li! A Gi está murcha!

Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Virgínia se aproximou devagar com as duas mãos estendidas prontas para afofar minha pança.

- Sai! – recuei dois passos e bati com a bunda na quina da mesa. - Tire estas garras de cima de mim!

Não deu. Fui apalpada pela Virgínia como se eu fosse uma melancia na feira.

- Nossa, é mesmo. As gordurinhas diminuíram um pouquinho! Gisele, que milagre é este? Já sei! Você está apaixonada!

Lutei para não ficar vermelha.

- Rá! Eu? Apaixonada? Só se for pelo Saddam!

Uma voz grossa e sedutora veio da porta:

- Olá, gatonas!

Nós três olhamos ao mesmo tempo para ver quem era. Rodolfo. Antes de Aírton, reinava soberano com sua morenice, coxas grossas e bunda perfeita. Já tinha traçado quase toda a mulherada faminta da empresa, menos eu e a Cássia. Esta, por sinal, quase se mijou quando o viu.

- Oi, Rooo!

Rodolfo entrou na sala com seu ar cafajeste e garanhão. E fez um convite:

- Topam almoçar comigo, o Sandro e o Tadeu?

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 05/11/2015
Reeditado em 05/11/2015
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