A idade que ela escondia por amor
Lembro-me como se fosse hoje...
Quando eu bati o carro em janeiro de 1931 e cai naquele lago, o raio daquela tempestade me atingiu.
Alguns minutos antes tudo estava acabado para mim. A água congelada abaixou muito a minha temperatura e meu coração já não batia mais.
Receber toda aquela carga vinda das nuvens foi um milagre precedido por uma maldição.
No decorrer dos anos eu percebi que não envelheceria como meus amigos e sabia que minha existência nunca mais seria a mesma.
Comecei a fugir da vida porque se eu fosse viver como uma pessoa normal eu ia acabar decepcionando alguém que eu possivelmente poderia amar.
Mas quem controla as coisas do coração?
Porém eu fugia de cada relacionamento. E todos aqueles que passaram na minha história ficaram com sequelas que até então para mim eram inofensivas. Porém a verdade é que somos responsáveis por aqueles que conquistamos e qualquer estrago que possa acontecer tomamos a culpa para nós como mártir.
A cada década eu era conquistada por mais uma apaixonante pessoa algumas dezenas mais jovem que eu. Maldita empatia. Como contar o seu maior segredo?
Com o tempo eu fui percebendo que não adiantava mais fugir porque a minha vida seria longa, e muito mais longa se eu não começasse finalmente a viver. As histórias que eu achava se repetir, os romances, aqueles amores, eram basicamente continuação dos que eu havia interrompido. Foi quando finalmente decidi encarar a realidade e contar para Ellis que eu estaria ao lado dele até ele envelhecer, mas que ele nunca teria essa oportunidade porque meu gene havia recebido uma dose extra de vida há 80 anos.
- Diga-me algo que eu possa guardar para sempre e nunca esquecer. Perguntei.
- Minha vida não teria mais graça sem ter você ao meu lado. Ele respondeu.
Então eu abri meu coração danificado por raios e ele nem se quer se importou com o meu defeito, contanto que eu estivesse sempre com ele.