Pequenas histórias 113

Silvio e Silvia 2

Desse pequeno incidente, se é que poderia ser chamado de incidente, era mais uma coincidência, na opinião de Silvio, portanto, desse pequeno momento de humor, aos poucos se solidificou um fio, não muito forte de amizade entre eles. Durante o processo de conhecimento, para depois chegar ao relacionamento, Silvia achava que naquela massa de poucos músculos encontraria o que sempre procurou. Não tinha coragem em dizer a sua preferência para o amigo. Silvio não passava e nem pretendia passar uma imagem que não autentica que não fosse simplesmente a dele. Desde o inicio foi sincero com Silvia. Agradecida viu em Silvio um caráter forte, decidido no que queria, e a sua sinceridade é que aconchegou mais a intimidade deles. Silvia nunca pensou na sexualidade das pessoas e, muito menos na sua sexualidade, ouvia muitos comentários disso ou daquilo, nunca tivera intimidade com um homossexual, tanto masculino como feminino, os via sempre à distância, assim cara a cara, falar, tocar, chegar ao ponto de se encontrar, de amar, e o mais estranho, criar uma sólida amizade que ultrapassou o limite da amizade, nunca imaginou que pudesse um dia viver uma aventura dessas. E ali estavam bebericando um à palavra do outro entre copos e copos de cerveja.

Alegres, conversavam sem se preocuparem com o tom de voz. Afinal, eram jovens e, a juventude beijava a face da beleza resplandecendo o brilho de cada um sem preconceito. Sofrendo de solidão levando-o ao caos sentimental, sem entender o que se passava, Silvio encontrou nela um porto, um apoio, não pensava que um dia poderia se expor ao ombro amigo. Não vá se apaixonar, dissera ela. Silvio repetiu. Não vá se apaixonar, disseram os dois, um para o outro. Era uma tarde de domingo, não tinham nada para fazer. Estirados no sofá, a televisão ligada sem que prestassem a atenção, Silvio se comprazia em sentir o calor do corpo feminino tocando sua pele rígida de prazer. Poucas vezes sentira a fragrância feminina como estava sentindo, os bicos rosados comprimindo seu peito cabeludo, a mão carinhosa subindo e descendo, indo e vindo por entre o pijama, às vezes tocando a virilha numa inocência que não levava a excitação sexual, mas a sensação de ter tudo o que a vida poderia lhe dar. E desse tudo tendo às vezes a noção de não ter nada, jamais abriria mão, por nada, disse fixando o olhar no rosto moreno de Silvia, que sorriu ao sentir-se protegida.

pastorelli

Pastorelli
Enviado por Pastorelli em 23/10/2015
Código do texto: T5424345
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