Uma Estrela Incomum
Ester, nome que vem do Hebraico e que significa estrela, nome escolhido por sua mãe Amparo. Chamou-a assim, com a intenção de vê-la um dia brilhar. Contrariando todas as expectativas de sua mãe, por sentir um enorme peso diante aquele compromisso, Ester transformou-se em mais uma estrela apagada, perdida na escuridão do mundo.
Em meio às vielas e ruas escuras e frias enfrentava os perigos à procura de ganhar a vida. Com os nervos em frangalhos se entregava a homens vazios, não sabia nem ao certo para onde iria, sem rumo carregava consigo somente lembranças sobre os desejos de sua querida mãe e muitas incertezas.
Sentia-se desprotegida, no entanto, investigava o desconhecido, percebia o perigo e, mesmo assim, arriscava-se pelo fascínio de sentir o estranho. Corpos tensos que por ela passavam, sem ao menos perceber sua presença, pareciam gritar e carregar em si um abismo profundo. Reconhecia naqueles seres, ela mesma, como imagens refletidas em milhares de espelhos. Encantada pelo perigo, não queria exatidão, nem verdades, queria ser incomum e nesse momento percebia algo de imprestável, sentia uma dor profunda em seu peito que tentava fazer de escudo.
Ester precisava de proteção, sentia medo, às vezes recuava e percorria os densos caminhos para dentro de si, segurava com força entre os dentes um intenso grito. Via-se como apenas mais um entre os milhares de corpos perdidos que travavam batalha entre si e o mundo.
Não sabia ao certo se era aquele universo que pertencia, sentia que nele não havia destino, não havia nada, um mundo em que ela somente percebia o risco que corria quando estava bem perto do fim, porém, naquela noite, algo na escuridão se curvou diante de sua tristeza. Ester não entendeu bem o que se passava. De repente, fora dominada pela angustia de seus pensamentos.
Ela começou a perceber que chegara o momento de se enfrentar, no entanto, ainda cheia de dúvidas fugia, tentava ignorar seu súbito desencanto pelo desconhecido.
Melancólica, não conseguia enxergar que não havia perigo e nem mistério no enfrentamento de si mesma. A vida não perderia o sentido assim, tão fácil. Ester, não conseguia reconhecer em seu corpo o seu melhor abrigo e, perdia-se novamente no seu próprio sentir, preferia continuar naquele mundo estranho, ao qual, não pertencia. Era uma mulher forte, corajosa e muito cativante. Apesar dos conflitos, conseguia resolver seus problemas e também os de sua família. Envergonhada, escondia de sua mãe o que fazia.
Novamente ela fora dominada pelas angustias de seus pensamentos. Perdida pela noite vazia, já cansada, sentou-se na sarjeta sozinha. Um belo rapaz se aproximou e sentou ao seu lado, suas intenções eram boas, queria apenas sua companhia para conversar, mas como Ester não estava acostumada com esse tipo de comportamento por parte dos homens, assustada, tentou fugir. Elias, rapidamente segurou sua mão e explicou: - não precisa ter medo, desejo apenas sua companhia. Um pouco de prosa não vai fazer mal a ninguém. Estou apenas observando você, entendo sua tristeza, o caminho que escolheu trilhar é muito perigoso, uma estrada tortuosa e repleta de armadilhas.
O rapaz tinha o rosto suave que inspirava confiança e Ester, carente, rendeu-se aos encantos de Elias desatando a chorar. Ele, carinhosamente a consolou. Passado algum tempo, eles se casaram, tiveram filhos e, num belo dia, toda família foi visitar Amparo, agora, avó de dois belos netinhos. A mãe de Ester ficou muito feliz, finalmente conseguiu ver sua estrela brilhar.
Ester, por sua vez, pode perceber o brilho radiante nos olhos cansados de sua querida mãe e sentiu que havia finalmente realizado seu sonho. Expectativa, que por um longo tempo tanto a angustiou... Era tão simples.
Essa moça teve um final impar, dos que a maioria que escolhe esses caminhos tortuosos não tem. Hoje, Ester consegue sentir seu corpo como seu melhor abrigo e percorrer sem medo as vielas para dentro de si, mesmo que ainda densas e estranhas.
Sandra Ferrari Radich (FLORILÉGIO)