UMA HISTÓRIA DE AMOR (*)
Por Marcelo de Lima Araújo
 
Perdi meu animal de estimação. Faleceu numa segunda-feira. De nada adiantaram os três dias no CTI. Antes, seus últimos dias, se acontecessem, fossem comigo no aconchego do lar. Garanto que nada lhe faltaria que estivesse ao meu alcance. Shanna era o seu nome. Uma gata velha, de pelo rajado. Tudo começou quando a encontrei perdida num parque, ainda pequenina. A partir daí, foram 18 anos de convivência. Momentos de carinho. Momentos de zanga. Quando carinhoso, ficava toda entregue em meus braços. Dormia comigo, na cama, junto de meus pés. Era eu quem lhe dava a ração, renovava-lhe a água todas as manhãs. Era eu quem a levava para vacinar. Agora há um vazio na casa. Parece que daria tudo para tê-la de volta. Sinto sua falta, roçando minha perna, andando pela casa, em cima dos móveis, ...As vasilhas com ração e água ainda estão lá, no mesmo lugar. Olho-as e bate a saudade. Certa vez, um vizinho quis assustar-me, dizendo que contato com gatos fazia mal à saúde. Passei a vê-lo com desconfiança. Arrependo-me dos momentos de impaciência. Se pudesse começar tudo de novo, seria mais compreensivo com os seus miados. Mais cuidadoso para não pisá-la. Conversaria mais, ...É, realmente estou de luto. Seu enterro foi num cemitério de cães e gatos. Lá estive no meu enternecido adeus. Obrigado, Shanna, por você ter existido. Torço que, um dia, encontremo-nos numa dessas paragens da eternidade. Será aquele abraço. Descubro, com você, que meu amor, às vezes, vem de coisas tão simples, tão pequenas: uma gata vira-lata que, um dia, achei abandonada num parque.
(*) história verídica. 
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Marcelo de Lima Araújo, nascido em Niterói (RJ). É casado há 44 anos com Siomara de S. T. Araújo, com quem tem três filhos. É funcionário aposentado do Banco do Brasil. É autor de dois livros que abordam questões sociais do cotidiano. Participa de projetos sócio-educativos na condição de instrutor voluntário. E-mail: marcelodelimaaraujo@yahoo.com.br