A AMANTE

A gente começou a ficar depois de um tempo. Ele, casado. Eu solteira e pouco me importando com o estado civil dele. Digamos que eu queria curtir o Mateus e não seria uma aliança no dedo que me impediria de fazer isto.

Eu conhecia a mulher dele de passagem. Ela já havia aparecido algumas vezes no trabalho. Pessoinha sem graça aquela. Corpo sem curvas, cabelo sem um corte especial. A roupa? Um jeans simples e uma camiseta básica branca era o seu look. Em outra mulher ficaria bem. Mas nela...

Bom, meu caso com o Mateus seguiu em frente. Foi até mais longe do que eu imaginava. Encontrávamo-nos duas vezes por semana, ocasiões estas que ele inventava uma desculpa esfarrapada para a trouxa. Se ela acreditava, não sei. O certo é que nossos encontros eram ardentes e inesquecíveis. De repente me vi amante dele. Mateus me contava suas aflições e suas conquistas. Até as briguinhas com a mulher ele me narrava. Eu a tudo escutava. Parecia ser a minha função. O refúgio do Mateus. Eu adorava aquilo. Minha alma sempre livre se acostumou a pertencer a ele. Não me dei conta que esperava ansiosamente que Mateus acabasse com aquele casamento fake.

O nosso último encontro já começou diferente. Enquanto ele conduzia o carro em direção ao motel, percebi que meu amor estava muito sério. Quase não falava. Achei que fosse um problema grande, talvez com a mãe, que andava adoentada nos últimos dias. A transa também foi esquisita. Mateus custou a se entregar. Aliás, ele não se entregou. Eu reuni todos meus esforços para fazer com que Mateus se concentrasse em mim, no meu corpo. Por fim, mais tarde, enquanto estávamos deitados na cama, ele pigarreou e olhou para mim. E disparou sem sequer dar tempo para me preparar para aquela bomba:

— A Vanessa está grávida.

Eu fiquei em silêncio. Não tinha nada a ver com aquilo.

— Acho que não é justo com ela que eu a traia agora, justo neste momento tão delicado.

Eu acusei o golpe, mas não demonstrei. Sem olhar para ele, levantei-me da cama, tomei um banho tentando raciocinar. Voltei ao quarto e Mateus já estava vestido, em pé e desconfortável. Pus minhas roupas e ele me levou para casa, ambos calados dentro do carro. Minha garganta estava apertada, se eu falasse qualquer coisa podia explodir em lágrimas. Quando ele parou frente ao meu prédio, voltou-se para mim e tentou dizer alguma coisa. Porém, eu não lhe dei tempo. Peguei a bolsa, abri a porta do carro e saí apressada. Mateus jamais veria minhas lágrimas.

No dia seguinte eu me acordei com o coração pequeno, mas ciente que nada iria me derrubar. Coloquei minha melhor roupa, meu batom vermelho e fiz chapinha no cabelo. Cheguei deslumbrante no serviço e ignorei Mateus para o bem de nós dois. Recebi alguns elogios masculinos e percebi a expressão dele de ciúmes. Minha alta estima estava nas estrelas quando a tal da Vanessa chegou perto do horário do almoço. De repente parecia que o escritório inteiro já sabia daquela gravidez maldita. E eu deixei de ser o centro das atenções. Vanessa foi paparicada e parecia muito feliz ao lado do marido. Ele, idem. Não participei daquela palhaçada. Fui almoçar ─ ou pelo menos tentar ─ sozinha mesmo. Chorei pela rua sem me importar com nada. Voltei mais renovada. No final da tarde pedi transferência para outra filial.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 11/10/2015
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