Dezoito horas, acusa meu relógio... De praxe, disparo logo um “até amanhã” a todos no escritório e, num breve instante, já me encontro em meu carro. Hora de ir pra casa, rever meus guris e receber os afagos de minha amada, coisa que mais amo em dias estressantes iguais ao de hoje...

Sigo em frente pela Avenida... A cada metro percorrido, sinto mais forte o ressoar da bagunça que as crianças estão fazendo lá em casa. Eu sempre digo, quando amamos alguém, mesmo longe, estamos juntos! Graças a Deus estou chegando! Por falar em Deus, mas que calor infernal faz hoje hein? Há dias não vejo uma nuvenzinha sequer no Céu...

Bom, aproximo-me de casa e, ainda há vários metros distante, já se faz impregnar em minhas narinas o cheiro delicioso do jantar que minha doce amada está preparando, com tanto amor, esperando minha chegada... Nossa, ela sempre advinha quando estou morrendo de fome! É como eu digo, onde há amor, tudo ao nosso redor traz a presença de quem amamos... Nunca nos sentimos sós...
Finalmente, após dobrar a esquina, chego em casa. Mais que depressa abro a porta do carro e saio aos galopes para abrir o portão da garagem, pois, a chuvinha que caíra hoje durante a tarde toda, resolveu se transformar no dilúvio bíblico!

Após reviver essa passagem do livro do Gênesis e começar a sentir inveja de Noé, enfim, estou casa! Fecho o portão da garagem e caminho pelo pequeno corredor que dá acesso à porta de entrada. Porém, por um instante resolvi parar em frente à janela e contemplar minha família lá dentro... Olha só a criançada, meu Deus, como são espoletas!!! Ah, olha lá minha doce amada, linda como sempre, com o seu cabelo liso, solto ao sabor do vento e usando aquele vestido azul claro, o qual tanto me seduz... Como é linda!

Chega de olhar. Coloco a chave na fechadura da porta e a abro. Nossa, a casa está um breu... uma escuridão que à vista parece ser os momentos antecedentes à Criação! Apalpo a parede até achar o interruptor e acendo a luz... Agora arde os olhos, irritados com a luminosidade repentina... Caminho até a mesa e deixo as chaves sobre esta, perto do vaso de flores. Começo então a tirar meu casaco, mas logo resolvo ficar com ele por mais algum tempo; o frio está congelante hoje!

Fui então até a geladeira e a abri, mas me ocorreu que não estou com tanta fome como de costume e quer saber? Não perderei meu tempo com fogão para fazer janta; mais tarde eu lancho...

De qualquer forma, peguei um copo de leite puro e fui até à sala... A título de esclarecimento, bebo leite puro porque detesto café... Bom, já na sala, sentei-me no sofá e liguei a televisão para assistir o noticiário das dezenove horas. Enquanto via as reportagens, acendi um cigarro e meus olhos por alguns segundos desviaram-se da televisão e começaram a fitar o porta-retratos da família, o qual fica logo acima da televisão, na estante...

Com os olhos fixos no porta-retratos, dei a terceira tragada no cigarro, mas em seguida me lembrei que não fumo. Então, apaguei o cigarro no cinzeiro e decide desligar a televisão; a novela das dezenove horas está chata hoje! Um enredo horroroso o qual conta a história de um casal que viviam juntos, mas que não havia amor entre eles... Ora, eu sempre digo, onde não há amor, mesmo estando juntos, se está sozinho! Em seguida, terminei de beber o copo de suco que estava tomando e fui tomar banho...

Fui ao banheiro e tomei aquele banho! Demorado... Após o banho, fiz o lanche que eu havia prometido para mim mesmo e decidi que era hora de me recolher; amanhã é novo dia! Fui indo em direção ao quarto. Mas ao passar pela sala, fitei novamente o porta-retratos na estante, por mais alguns segundos...

Após contemplar mais uma vez os meus pais e meus irmãos na foto do porta-retratos (não sei o motivo, mas hoje me bateu uma saudade deles, daqueles tempos bons que passamos juntos e que não voltam mais), fui em direção ao quarto...

Lá no quarto, coloquei meu celular sobre a cômoda e o ajustei para despertar às 6:30 horas (bendita tecnologia!) e me deitei para dormir. Ah, mas não poderia dormir sem antes rezar primeiro! Agradeci ao bom Deus pelo dia maravilhoso que tive e, claro, não poderia deixar de agradecer por meus filhos e pela minha doce amada, que comigo repousará neste leito, descansando juntos das labutas deste dia...

Enfim, termino minha oração, deito na cama de casal que tenho (adoro espaço!), puxo o edredom para me cobrir e apago a luz no interruptor, que fica ao lado da cabeceira de minha cama... O breu total, precedente ao Gênesis, retorna à casa! Mas logo penso: por que dar tanta importância à escuridão? Depois de alguns minutos a luz retornará, pois, nunca ouvi dizer que há como apagar a luz nos sonhos... Ah, os sonhos! Tão reais e irreais ao mesmo tempo. Uma luz apagada, pode parecer acesa... Será que tal condição pode-se aplicar ao amor? Digo, quando o amor está aceso, você não se sente sozinho, mesmo estando longe. Mas quando o amor se apaga, você se sente sozinho, mesmo estando juntos... Neste caso, não seria uma coisa contrária a outra? Meu Deus, que embaraçosa contradição!

Enquanto reflito, ouço o celular despertar anunciando minha hora de se levantar... Numa rápida espreguiçada, me viro para o lado de minha amada, dou-lhe um beijo de leve no rosto e falo ao seus ouvidos para que continue dormindo e não se preocupe, pois, hoje eu faço o nosso café o qual gostamos tanto de tomarmos juntos...
Patrick Vargas Amaral
Enviado por Patrick Vargas Amaral em 11/10/2015
Código do texto: T5411395
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