A criação
Sentado em um lugar privilegiado, no cume da mais alta montanha, Ele observava tudo.
Viu o mar, imenso, cheio de vida, revolto, parecia até um organismo independente, suas ondas bailavam como uma respiração ritmada e contínua.
Enxergou os peixes multicoloridos, que brincavam nas ondas, as baleias procurando comida, golfinhos fazendo acrobacias só para Ele, tubarões, com seu sorriso sinistro, olhavam para Ele e o reverenciavam.
Olhou as florestas, quentes e úmidas, cada árvore, cada flor, todos cumpriam seu papel com precisão, viu árvores frutíferas que matavam a fome de inúmeros animais, viu cada animal, um por um, sentiu muito carinho por eles, todos esperavam d´Ele o sustento e a vida.
Observou as savanas, exóticas, com animais grandiosos e ferozes, que se tornavam bichinhos de estimação diante d´Ele , leões e gatinhos ronronavam aos seus pés, rinocerontes e cães abanavam a calda a espera de um olhar.
Viu desertos, oásis, campinas, vales, matas, cachoeiras, toda a sua obra, inspecionou cada coisa com atenção, e viu que tudo era bom.
Decidiu então fazer sua obra prima, seu projeto mais perfeito, mais aguardado e sonhado, um ser a sua imagem e a sua semelhança, um ser que se relacionasse com Ele, que pudesse ser seu amigo, que compartilhasse com Ele da existência eterna.
Mergulhou suas mãos no pó, formou cada osso, tendão, nervo, veia, músculo, órgão, pele, cabelo, olhos, boca, dentes, tudo perfeito. Ainda faltava uma coisa, o sopro divino, a alma vivente. Soprou nas narinas e transformou barro em corpo, alma e espírito. Três em um, assim como Ele.
E mais uma vez, viu que sua obra prima, a coroa da criação, era boa e perfeita.
Aprovou tudo o que fez, e foi descansar.