Quem entenderá as razões do amor?
Quem entenderá as razões do amor?
Era muito cedo quando Rakel saiu de casa.
A rua estava deserta, mas ela reparou que havia um homem sentado no banco da praça. Olhou com atenção e ficou muito curiosa, pois viu que ele conversava com uma boneca que estava em suas mãos. O que aquele homem estaria fazendo no banco da praça com aquela boneca?
Rakel caminhou vagarosamente para perto dele e ficou quietinha atrás de uma árvore escutando o que ele estava falando. O homem parecia estar conversando com a boneca. Atitude que a fez pensar: “Ele deve ser doido! Como pode um homem conversar com uma boneca!” Mas levou um susto quando ouviu a voz de uma mulher. Olhou! Procurou! E não viu ninguém. Naquele banco só havia o homem e a boneca.
Sem entender o que estava acontecendo, ela ficou mais atenta à situação imaginando que o homem era mesmo doido, pois ele dizia:
- Você precisa entender que é só uma história! Você não é gente e não tem sentimentos. Tente entender!
Mas Rakel tomou um susto quando ouviu uma voz de mulher responder:
- Você disse que me ama!
Ela olhou e viu que só havia o homem e a boneca no banco, então continuou escondida ouvindo o que eles estavam conversando:
- Eu sei! Mas esse é o personagem que eu criei para fazer a apresentação e ser seu par! Ele é igual a você, não existe!
A voz de mulher parecia chorar e dizia:
- Mas ele é você!
Ele sem saber o que dizer ficou calado, então ela falou:
- Quando estamos apresentando é a sua voz que eu ouço! São as suas mãos me conduzindo e se dançamos é o seu calor que sinto! Quando beijamos são os seus braços que me envolvem! Então como pode não ser você? Quer me deixar! Tem outra boneca?
Ele respondeu nervoso:
- Você sabe que não! Eu só tenho você que já faz parte de mim, mas não entende que nunca poderemos nos amar, pois eu sou um contador de histórias e você faz parte da história.
Mas ela insistia:
- Não pode ser verdade! Sem você eu não consigo viver, não consigo ter vida. Sem você eu não existo!
Rakel já estava em prantos ouvindo aquele diálogo triste e chegou até a pensar que também estava ficando louca. Saiu de trás da árvore, se aproximou do homem e ficou surpresa ao ver que era uma boneca de marionete e ele um ventríloquo. Ela olhou nos olhos da boneca e viu que tinha lágrimas pintadas, o que a deixou aliviada para perguntar:
- Posso ajudar?
O homem olhou e ela viu que ele também tinha lágrimas nos olhos, mas eram lágrimas de verdade e ouviu-o falar:
- Eu me apaixonei pela boneca da minha história! E agora o que eu faço, já que ela também me ama? Mas é impossível o nosso amor! Já pedi para ela não me amar! Acho que vamos morrer de amor!
A boneca olhou para o homem e respondeu:
- Não me peça para não te amar que já é tarde!
Rakel sentou ao lado do homem e o abraçou dizendo:
- Calma! O amor sempre arruma um jeito de sobreviver.
Naquele momento Rakel sentiu uma lágrima cair em seu braço. Olhou para cima e viu que era uma marionete manuseada por um contador de histórias mágico e também fazia parte da história contada.
Ela olhou para suas mãos conduzidas por cordões, depois olhou para cima com seus olhos de boneca que pareciam não ter vida e finalmente entendeu os sentimentos da boneca. São coisas do amor! Quem entenderá as razões do amor?
Paulo Ribeiro de Alvarenga e Isa
Criador de vaga-lumes
Iluminando pensamentos
VruuummmmZuuummmm...