DIÁRIO DE UMA GORDINHA - Cap. 3

Controlei todo o tesão que tomou conta de mim, a duras penas. Doutor André apareceu sorridente e pimpão na porta do Gabinete com o tal do Aírton atrás. Entendi perfeitamente o motivo de tantas calcinhas úmidas na empresa.

- Gisele - meu chefe apontou para o Aírton, - este é o nosso novo colaborador, Aírton de Pádua. Ele irá ocupar o lugar do Silva e será meu assessor direto. Vocês vão trabalhar juntos. Algumas vezes você irá se reportar diretamente a ele.

Não absorvi metade do que o Doutor André disse. Levantei super sedutora e me deparei com uma mão grande e morena se estendendo na minha direção.

- Olá, bom dia! - segurei e apertei forte aquela mão cheia de dedos. Dedos que poderiam fazer loucuras no meu corpo. - Seja muito bem-vindo!

Discretamente ele me olhou de cima a baixo, com aqueles olhos verdes lindos. Aliás, ele era todo lindo. Mas, por algum motivo, achei que depois daquela "sutil" inspeção, Aírton não gostou muito do que viu.

- Bom dia - devolveu ele, formal e sem mostrar os dentes. Bem ao contrário de mim que expus toda a minha arcada dentária.

Meu sorriso ficou congelado no rosto. Cheguei à triste conclusão que não fiz a menor diferença para ele. Bosta. Doutor André o cutucou no braço e disse:

- Vamos circular pela empresa, Aírton. Quero que conheça seus novos colegas.

Aírton saiu acompanhando o meu poderoso chefe sem sequer olhar para trás. Ou para mim. Fiquei plantada no meio da sala esperando um "até mais, garota", um gesto acolhedor, qualquer coisa que me fizesse sentir desejada. Mas não. Aírton saiu imponente e sem me dar a mínima.

Filho da puta.

Voltei para o meu lugar completamente desenxabida e rejeitada. Do que ele não havia gostado? Do meu cabelo? Batom? Roupa?

Do meu corpo?

A cabeça ruiva de Cássia apareceu na porta. Ansiosa.

- E daí? Como foi?

Olhei desanimada para minha colega. Ela ainda continuava excitada.

- Foi o quê?

- O primeiro contato com o muso - Cássia entrou na sala e apoiou as mãos na minha mesa. - Eles estão circulando pela empresa. Começaram pelo outro lado. Não posso demorar muito aqui ou não serei apresentada a ele. O cara é legal?

Lembrei da voz de narrador, dos ombros largos por debaixo do terno bem cortado, da boca deliciosa e do cabelo loiro.

- Ah, ele é normal.

- O quê? Normal?

- É. Você vai ver que o Aírton não é nada demais. Nada mesmo.

- Você pirou.

- Negativo. Você irá comprovar por sua conta.

Deixei Cássia confusa. Eu mesma queria negar Aírton. Como ele ousara a não me achar atraente? Aquilo não ficaria assim. Minha nossa, eu preciso transar com aquele cara. E só fazem três minutos que eu o conheço.

- Bem, eu... - Cássia deu meia volta. Antes de sair da sala, se virou para mim. - Depois eu digo o que achei.

- Tudo bem - respondi, fingindo estar digitando ferozmente um texto. - Você vai ver que eu tenho razão.

Na minha cabeça achei que era bem possível Aírton tratar todas as mulheres da empresa daquele jeito arrogante.

Me enganei redondamente.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 06/09/2015
Reeditado em 06/09/2015
Código do texto: T5372563
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