PERFUME

Noravides era uma mulher que não tinha uma beleza de chamar a atenção, mas tinha charme, elegância e boa educação.

A todos tratava com cordialidade, não fazendo discriminação entre o rico e o pobretão.

Quando passava deixava o balanço dos seus passos no encanto daqueles que a observava e o seu perfume entre as partículas do vento emanado.

Bom dia, boa tarde, boa noite, obrigada, por favor, faziam parte do seu vocabulário cotidiano.

Saia cedo para o trabalho, após aquele banho perfumado, com a roupa arrumada e o cabelo ajeitado, ora preso, ora nos ombros meio cacheados.

Lá vinha ela subindo as escadas e adentrando na repartição. Alguns da janela já admiravam, lá vem ela com seu vestido marcado, meia fina, bolsa e sapato alto e o cabelo arrumado.

No elevador quem de perto já estava, sentia o perfume da mulher adocicada.

O cheiro vinha da nuca, debaixo dos cabelos aloirados; era ela a mais cheirosa, assim era o comentário.

Mas seu companheiro nunca soube apreciar o cheiro da mulher que o amava, não sei se por ciúme ou por não saber falar, nada dizia, preferia ignorar. Mas nas outras tudo via, tudo achava e ainda sorria para agradar.

Um dia ela foi embora, pegou algumas peças e partiu. Ele não acreditou no que viu.

Sem palavras, sem ternura, sem amor, Noravides assim se sentiu. Partiu e nunca mais voltou e o seu perfume no ar para sempre ali ela deixou.

Seu companheiro agora sobrevive com o perfume nas paredes, na cama vazia, nos vestidos deixados, nos retratos apagados, foi se embora a mulher que ele não soube amar......

Ana Amelia Guimarães
Enviado por Ana Amelia Guimarães em 20/08/2015
Reeditado em 26/08/2015
Código do texto: T5353122
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