853-AMOR, SUBLIME AMOR -cap.final de Amor Sem Limites

Terminada nossa feliz e movimentada viagem de lua-de-mel, voltamos a Paraíso, aonde chegamos numa segunda feira.

Como seria normal, teria início então a nossa vida em comum, igual à de todos os recém-casados. Não para nós, que tínhamos ainda um período antes de chegar à felicidade de habitarmos nosso lar, doce lar.

Havíamos alugado uma casa onde já estavam os móveis e os presentes recebidos no dia do casamento. Os móveis haviam sido feitos por meu pai, um artista em trabalhos em madeira, nos estilos que Enny e eu havíamos escolhidos. Lindas peças para salas, quartos e copa, adornados com torneados e entalhes de bom gosto e esmerado feitio em madeira de lei. Começamos, pois a guardar nossos pertences e presentes recebidos, tarefa que nos tomou o resto da semana.

No dia 22 de novembro partimos novamente para São Paulo, onde eu já residia há mais de um ano.

Retornei ao trabalho. Era funcionário do Banco do Brasil na agência do bairro Ipiranga. Estava transferido para a agência de Paraíso, com inauguração marcada para vinte de janeiro do próximo ano.

Enny e eu concordamos que seria impróprio alugarmos um apartamento em São Paulo para habitarmos por apenas dois meses.

— Vamos morar em um hotel que seja modesto, simples, familiar.

E assim, instalamo-nos no Hotel Viena, nas proximidades da Estação da Luz, local central e ao mesmo tempo conveniente para mim, dado que era ponto inicial de bondes e ônibus para o bairro para onde deveria me locomover todos os dias.

Vivemos então dias de tranquila felicidade. Meu trabalho era na parte da tarde, de tal forma que tínhamos as manhãs só para nós dois e almoçávamos juntos. As noites eram dedicadas para irmos aos cinemas, às lojas chiques que ficavam abertas até as dez, ou simplesmente passearmos juntinhos pelas avenidas e praças bem iluminadas. Era um tempo de tranqüilidade e segurança na grande metrópole. Passear a pé era ainda prazeroso e tranquilo.

Nos cinemas do centro vimos os melhores filmes em exibição na época. Ir ao cinema era, por si só, um requinte. Os cinemas do centro de São Paulo tinham instalações luxuosas. Havia até um na Avenida São João, Cine Olido que requintadamente mantinha uma orquestra para executar as músicas nos intervalos de meia hora, entre uma sessão e outra. Outro, Ouro Branco¸ tinha as poltronas em couro branco. Cine São Luiz e Ipiranga eram cinemas enormes, fachadas iluminadas feéricamente e com bons filmes.

“Vidas Amargas” “Rebelião na Índia”, “Tarde Demais para Esquecer,” “Sayonara”, “Como Agarrar um Milionário” eram filmes que faziam sucesso em Cinemascope, causavam filas às quais Enny e eu enfrentávamos para comprar os ingressos, sempre agarradinhos, na maior felicidade.

Dia 8 de dezembro é uma data inesquecível, marcada por visita ao meu primo Pedro Gobbo Sobrinho, em Vila Prudente e enfrentamento de violento temporal noturno, incidente que está descrito com detalhes em outras páginas desta história de amor (“Onda de Calor”).

Entretanto, ficamos apenas uns vinte dias no hotel. Dona Matilde, proprietária da pensão onde eu residira antes de casar ofereceu-nos um quarto de casal para habitarmos. Confortável, no segundo pavimento da casa, era muito conveniente, pois a pensão ficava há apenas quatro quarteirões da agência do banco onde eu trabalhava. Foi a nossa nova residência por mais algumas semanas.

Aos domingos saíamos a visitar parentes, primos que residiam de há muito tempo na capital. A simpatia de Enny conquistava a todos e passamos maravilhosos dias na maior felicidade.

Passamos o Natal de ´58 no apartamento do casal Jorge Flávio de Morais e Zélia Bicego, minha prima. Entre troca de presentes, taças de champanha, abraços e votos de boas festas e feliz Natal, passamos a noite inesquecível na companhia de pessoas maravilhosas: Dona Geni, Zezinho e Lucy, mãe, irmão e irmã de Jorge.

O ano novo prometia mais felicidade para Enny e para mim.

A data marcada para a inauguração da agência do Banco do Brasil em São Sebastião do Paraíso foi 20 de janeiro, data do padroeiro da cidade. Deixamos São Paulo na véspera e na hora da cerimônia lá estávamos: Enny trajava um elegante vestido cinza-prateado, e sapatos combinando e era a mais linda mulher da cerimônia. Ficamos juntos todo o tempo e eu orgulhosamente a apresentava aos novos colegas de trabalho.

Voltamos, ao final da inauguração, à nossa casa. Entramos com pé direito e agradecendo a Deus tanta felicidade.

Estávamos, enfim, no que havíamos sonhado durante muitos anos: o nosso lar, doce lar.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte,m 8 de agosto de 2014.

Conto # 853 da Série 1OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 17/08/2015
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