Trecho do romance "Andirá". ( Andirá rejeita Manai, por que ela é muito franzina) prefere Iteassu.

"O juramento de Manai"

Manai é menina moça, cunhan-tã, que nem é mulher direito. Serve mesmo é para andar com os curumins, mas, ela olha para Andirá com olhos de menina arretada,

- Andirá vai ser meu. Eu vou pegar ele pra mim. E as outras meninas riem.

A cada vez que o rio enche é um ano e mais três anos se passaram. Agora Andirá já está taludo pode se ver em seu peito alto. Vai precisar de uma mulher e o rei lhe oferece Manai. Ela tem linhagem real, é sobrinha do rei.

Embora já sendo mulher, Manai não cresceu muito e pequena e tem as mãos espalmadas como as pequenas aranhas. Tem os quartos estreitos e os peitos pequenos. Olhos pretos como asa de anu.

Naquela noite, Manai vai até Andirá e deita na rede com ele. Andirá leva um susto e sai da rede. Pede a Manai que se vá. Ela fica triste e começa a chorar.

E no outro dia Andirá é chamado diante do rei, que fica irritado com Andirá e pergunta por que ele desprezou sua sobrinha.

- Ela é cunhan-tã. Não presta para deitar.

- Ela já sangrou e passou pelos dois anos de Quarentena já pode casar e ter filhos.

- Eu não a quero.

Ofendido por tal insolência o rei resolve castigar Andirá condenando-o a cortar lenha durante muitos dias para suprir a aldeia na estação chuvosa.

E, assim Andirá foi cumprir sua pena.

E assim, todos os dias podiam se ouvir o barulho de andirá cortando lenha no mato. Andirá chegava a casa com as mãos cheias de calos. Caia na rede e dormia como pedra. Quando começou a estação chuvosa andirá terminou sua tarefa, podendo assim descançar.

Mas, Manai jurou vingança. Ela só ficaria feliz quando pudesse fazer Andirá sofrer. Ele teria que pagar pelo desprezo que lhe deu.

Andirá trepa no ingazeiro. Dali pode ver as mulheres passando. Umas são como frutas verdes que não amadureceram ainda. Outras são mães de filho. Outras poderiam servir pra deitar, mas, já tem marido.

Se chegar Iteassu, essa sim é mulher bonita. Tem a idade de Manai. Mas seus quartos são largos. Seus peitos fartos e sua boca cheirosa. Quando caminha ela parece que desliza por sobre a grama. Tem a voz bonita que parece um cantar. E, existe tanta graça em seus olhos de jaguatirica. Quando a vê lembra de coisa boa.

- Oi! Andirá.

Andirá pula do galho da árvore, segura suas mãos e lhe cheira o pescoço. Desliza aos pela suas costas e aperta-lhe a banda.

- Quero te falar...

- Melhor sentir.

E com muitas caricias permanecem abraçados.

- Um abraço, é como pitanga.

- O coito é como o cajá, Andirá.

- O amor é felicidade que chega com a noite. E o calor terno na beira da rede. O sol ama a lua. Mas não pode tocá-la. Eu, que o mundo se esqueça. Quando amo é com força e meu ferrão parece de arraia. Você morde meus lábios e balbucia palavras de carinho. Com sua mão me acaricia. Tem um momento certo para se amar. Pode ser de madrugada quando a Estrela da Manhã aponta no céu ou na boca da noite quando a estrela vermelha aparece ponteando a noite escura.

- A estrela vermelha. Esta é minha estrela, é nela que fiz minha marca. E todas as noites dos dias quentes hei de mirá-la. É a estrela bonita, a estrela poranga. Tem a cor da pena da arara, a cor do urucum do peito da piranha caju. Quando amo é como uma seta que sai errante, mas, atinge em cheio o alvo.

- Queria ter o pescoço da coruja para ficar te vigiando o tempo todo e para qualquer lado que você fosse, eu estaria te olhando. Queria você nestas noites frias. Pois teu corpo me aquece e ao longe ouço o pio do bacurau. E do teu lado estou sempre ávido de amor como o macaco prego. Quando te toco, meu sangue ferve. Meus olhos ficam arregalados. Agora sou gavião pronto para raptar sua presa. Desço do céu em voo rasante. Enrijeço minhas garras e me preparo para o ataque. Rasgo os céus em sua direção e te capturo rápido como um relâmpago. Depois do amor você me da paz. No calor de peito e repouso meu corpo, alivio minha alma e em seus olhos encontro a verdade que tanto havia procurado. Quero a paz de teu sorriso, o calor do teu amor, respirar o teu hálito.

- Dorme amor! Porque uma nuvem encobriu a estrela vermelha e a estrela da manhã ainda não chegou. Andirá, nossos destino está entrelaçado. Nossas vidas são partes de mesma história. Nascemos um para o outro.

(continua).