850-UNIÃO DE CORAÇÕES APAIXONADOS-Capítulo de Amor sem Limites
UNIÃO DE CORAÇÕES APAIXONADOS
As promessas todas durante o namoro, as juras de amor eterno, as confidências, os sonhos sonhados juntos, todos nossos pensamentos de namorados encantados e noivos apaixonados atapetaram nosso caminho ao casamento.
Desde os primeiros momentos de nosso namoro, ou até mesmo antes, quando meu amor platônico por Enny era suficiente para manter a esperança, nosso desejo, manifestados milhares de vezes, era o casamento.
Tempos de namoro, de troca intensa de cartas, de poesia, de encontros transbordantes de felicidade, passeios por lugares que a força do nosso amor encha de luminosidade e beleza, tudo, tudo, nos dirigiu para a realização de nosso sonho: o casamento.
E então, o grande dia, o dia mais importante de nossas vidas, amanheceu radioso. Um céu lavado de intenso azul, símbolo de nosso amor sem limites, infinito. O calor da manhã era o mesmo de nossos sentimentos. As cores da natureza se intensificavam aos olhos de amantes e transformava o mundo num caleidoscópio.
Quinta-feira, onze e trinta da manhã, trinta de outubro de 1958. Dia e hora completamente fora dos padrões da época, quando a etiqueta recomendava a realização em fins-de-semana e ao entardecer. De uma forma decisiva, eu escolhi o momento, para grande preocupação de Enny com a possibilidade de reduzida presença de convidados. O que se revelou um pensamento em vão, pois a igreja matriz de São Sebastião estava literalmente lotada para a cerimônia.
A elegância dos assistentes era destacada pela claridade intensa, pois naquela ocasião a Igreja Matriz ainda não tinha recebido a pintura que hoje a caracteriza como uma das mais bonitas da região.
A pontualidade primava por parte do celebrante, Monsenhor Mancini (Jerônimo Madureira Mancini) bem como da parte de Seu Alípio, o pai de Enny. Portanto, quando a porta que separava o átrio da nave da igreja foi aberta exatamente no horário, vi a minha amada cujo brilho ofuscava tudo o mais.
rajava o vestido branco rendado e de cauda, uma discreta coroa de flores nos cabelos e nas mãos o buquê de flores igualmente brancas. Envolta por um brilho intenso de uma auréola de luz.
Ouviram-se os primeiros acordes da Marcha Nupcial de Mendelssohn e Enny, braço apoiado no braço de seu pai, iniciou a caminhada pausada e elegante, rumo ao altar, onde eu a aguardava com uma ansiedade nunca sentida antes.
Ao pé dos degraus que levavam ao altar, Seu Alípio, emocionado, olhos brilhantes por lágrimas latentes, beijou Enny e me abraçou.
De braços dados, Enny e eu subimos os três degraus e nos postamos ante o genuflexório adrede colocado para a cerimônia.
Monsenhor, amigo da família da noiva desde sempre e que tinha carinho especial por Enny, usava paramento vermelho com franjas e filigranas douradas. Fez do ato uma cerimônia muito bonita e uma prédica que enlevou nossos corações.
Descemos o altar e saímos no andamento solene da marcha “Pompa e Circunstância”, de Ketelby, cujas notas enchiam a grande nave.
À porta da igreja, posamos para fotos tiradas por amigos. Em seguida, nos dirigimos ao “Studio Pimenta”, para a fotografia oficial.
De lá, no mesmo carro DKW dirigido por Seu Alípio, fomos para a festa do casamento. Era cerca de uma hora e nossa fome superava, naquele momento, qualquer romantismo.
Para o churrasco oferecido aos convidados, uma grande barraca coberta de lona fora erguida em um campinho além dos trilhos da estrada de ferro. Abrigava mesas, cadeiras, o serviço de chope e bebidas e a mesa com o bolo de casamento.
Em outra mesa especial estavam o Juiz de Paz e seu ajudante, para a realização do casamento no registro civil. Dr. Luiz Ferreira exercia a função com a assertividade que a cerimônia exigia: elegante, a faixa de Juiz de Paz colocada sobre ombro atravessando o peito e falando com clareza as palavras do cerimonial. Também nos dirigiu bonitas palavras, referindo-se ao nosso conhecimento e amizade desde os tempos da escola primária.
Ao lado da barraca, uma valeta cavada no chão era a churrasqueira, e quando chegamos já sentimos o cheiro da carne assada que parecia encher o mundo. Logo depois do casamento civil, foi dado inicio ao churrasco.
Foi o momento de recebermos, entre bocados de carne e goles de chope ou refrigerante, os cumprimentos dos convidados. A Impressão é que havia sido decretado feriado municipal, pois todo mundo estava no nosso casamento.
O número de padrinhos era limitado, pelo costume, a quatro para cada nubente, um casal para o casamento na igreja e um casal para o casamento civil. Os padrinhos de Enny foram Maria Esther Espósito e seu noivo, Enéas Guidi; os tios Manoel Mafra e Olga. Meus padrinhos foram Delson Scarano e esposa, Dona Otilia; tio Armando Muschioni e Beatriz Fidelis Marques, minha querida prima.
O bolo foi partido e repartido pelas três horas. O calor era intenso,mas os convidados permaneciam firmes `beira da churrasqueira, entornando copos e mais copos de bebida gelada.
Depois, eu e Enny fomos para a casa de seus pais, onde ela trocou de roupa, pois até então usara o vestido de noiva. Passou a trajar um elegante conjunto de linho vermelho, casaquinho e saia tipo tubinho,
Subimos para a casa de meus pais, onde também eu troquei de roupa, substituindo o formal terno (paletó, calça e colete), quentíssimo, por uma roupa apropriada para viagem.
Às oito horas e vinte e cinco minutos embarcamos no trem noturno para São Paulo, primeira etapa da nossa Lua de Mel.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 2 de agosto de 2014.
Conto # 850 da Série Milistórias