Pecado compadecido, penitência reminiscente
Naquela cidade nasceu um elo entre dois corações. Aquele lugar não era Verona e os dois corações não eram os de Romeu e Julieta. Mas isso não fez com que tal amor fosse menos intenso. As noites que aqueles dois corações comungavam, noites que nem mesmo Romeu e Julieta usufruíram, mostrava o tanto que havia de intensidade naquele elo. Lábios se tornavam peregrinos em procissão sobre a pele nua. Lábios que eram devotos e devotados pelos lábios correspondentes. Canonicamente, as mãos se entrelaçavam e os olhares relatavam intenções. Eclesiasticamente, a as palavras ditas confirmavam tais intenções. Desposavam sentimentos e desejos, mas, ao amanhecer, o doce e ardoroso adeus anunciava o próximo reencontro. O dia, penitência reminiscente. A noite, pecado compadecido. Num altar, sonhavam com a benção celestial. Mas tão crucificados como Jesus, aqueles dois sofriam com o anonimato. Contavam com a proteção divina para que o amor se fizesse sobrevivente. Mas sem que a fé se esvaísse, eles esperavam que os arcanjos anunciassem o sonho conjugal.