Saboto-me
O celular despertou essa manhã e, como em todas as outras, antes dos meus olhos conseguirem ficar abertos, li as notificações.
Então, abri a tela do aplicativo e lembrei que tinha mandado a mensagem que não devia. E olha, eu nem ingeri álcool na noite passada. O mesmo arrependimento que senti no primeiro segundo após o clique em "enviar" me acometeu quando a vi a janela de nossa não-conversa no primeiro lugar da lista.
Abri, com medo, aquela tela e foquei nos tiques azuis. Ainda estavam cinza. Subi os olhos para o horário, a última visualização tinha muito antes do meu ato de coragem.
Um suspiro de alívio.
Segui minha vida com algumas pausas para a realização do roteiro angustiante. Até que, de repente, quando eu menos esperava, os tiques mudaram de cor e o horário foi substituído por "online". Palpitações, ansiedade e nada de resposta.
Eu, longe de ser uma mulher bem resolvida, me saboto todos os dias. Saboto-me esperando uma mensagem que não vai chegar ou buscando sinais que não existem quando ela finalmente chega. Saboto-me enquanto me impeço de agir de forma natural para não te fazer pensar que sou uma criança-insuportável-pegajosa-e-sem-noção.
Saboto-me quando deixo de te dizer o que quero, e saboto-me mais ainda quando digo. Porque eu tenho medo da resposta e não aprendi a esperar pacientemente por uma.
Quando pedi para você ser sutil, eu queria uma resposta. Só não queria uma patada. Sua sutileza foi tanta que eu entendi o recado no silêncio. E eu preferiria não ter entendido, se não fosse o fato de que minhas tentativas em vão deixaram meu caminho livre para fazer o que eu já deveria ter feito antes: seguir em frente.
Acaba aqui a minha solidariedade (a não ser que você peça, porque eu não nego bondade) e minha imaginação também perde a fertilidade quando o assunto for você (mesmo que apareça quando eu já não quiser mais nada).
Começa, agora, a minha busca por novos olhos brilhantes que preencham o vazio que você quase completou.