Quando a razão é mais forte que a emoção.
Julia levantou-se mais cedo e preparou o café para Toni, deixou a mesa posta antes de sair para trabalhar e planejava fazer uma surpresa ao marido, pois ele só sairia por volta das dez.
Ela pegou o metrô e, ao se deparar com alguns lugares vazios, sentou-se e ficou observando as pessoas, como fazia diariamente. De repente, seu coração disparou quando notou a presença de Túlio. Olhou novamente para se certificar, mas não havia como ser engano. Os cabelos estavam mais longos e com alguns fios brancos, a barba por fazer, mas era realmente ele. Depois de quase dez anos separados, só o destino para pregar uma peça daquelas.
Julia tentou disfarçar e procurou não olhar para ele, mas, assim que o banco ao seu lado ficou disponível, Túlio se aproximou e a cumprimentou:
— Oi, Julia, como você está diferente!
— Oi Túlio, quanto tempo...
— Que surpresa agradável — respondeu Túlio.
Apesar de Julia se sentir incomodada, tentou manter um diálogo educado, pois não demoraria para chegar ao seu destino, comentando que desceria na próxima estação. Sem hesitar, Túlio disse que desceria ali também.
— Julia, vamos tomar um café? Um reencontro depois de tanto tempo não pode terminar com um adeus em uma estação do metrô.
Julia, embora um pouco resistente, pensou em Toni e em como não era certo fazer aquilo com ele, mas logo a ansiedade e a curiosidade falaram mais alto, e ela acabou aceitando o convite.
Assim que se sentaram à mesa, Túlio comentou sobre a aliança que avistou na mão de Julia.
— Você se casou?
— Sim, já estou casada há dez anos. E você, continua com a Roberta?
— Não, foi apenas um grande erro que cometi, foi um envolvimento sem importância. Eu sei que a magoei muito, naquele momento não pensei em você e agi por impulso.
— Túlio, você não precisa me explicar nada.
— Eu sei, mas me culpo até hoje por deixar você sair da minha vida.
— Túlio, eu já superei tudo isso, e você também precisa deixar para trás, é passado.
— Julia, quando a vi no metrô, foi como se um filme passasse em minha cabeça. Voltei a lembrar dos nossos momentos naquele apartamento minúsculo, onde fui muito feliz. Acho que foram os meses mais felizes da minha vida.
Neste momento, Julia se sentiu orgulhosa em saber que havia tocado sua vida para frente e que era quem ainda Túlio estava naquela situação, arrependido e sozinho.
Começou a recordar o sofrimento que passou por causa dele. Depois de seis meses de convivência, ele havia se transformado e estava sempre irritado, já não era tão atencioso, chegava tarde e a deixava sozinha a maior parte do tempo.
Até que, quando procurou saber o que estava acontecendo, Túlio confessou que estava se sentindo sufocado naquele relacionamento, explicando que não aguentava mais e que queria dar um tempo.
Muito irritada, ela pegou suas coisas e retornou à casa dos pais. Ficou inconsolável durante semanas, sentia a sua falta e permanecia horas à espera de uma ligação que nunca foi recebida.
Depois de algum tempo, resolveu ir até o apartamento de Túlio para conversarem. Como ainda tinha as chaves, entrou sem bater.
Ele não estava na sala e Julia seguiu em direção ao quarto, onde ficou paralisada ao surpreendê-lo na cama com Roberta, sua melhor amiga.
Com lágrimas nos olhos, encarou ambos, que não esboçaram nenhuma reação e que nada tinham a dizer, afinal, os fatos falavam por si mesmos.
Julia bateu a porta e saiu correndo para nunca mais voltar.
Logo as lembranças se desfizeram e ela voltou à realidade.
— Túlio, preciso ir, já estou muito atrasada.
— Julia, preciso te ver novamente, há tanta coisa que ainda preciso lhe falar.
Trocaram os números de telefone, despediram-se e cada um tomou uma direção, mas Julia estava visivelmente abalada. Talvez aquela sensação estivesse relacionada ao fato de ainda despertar o desejo em outro homem. Depois de tanto tempo sem sentir aquilo, precisava admitir que era positiva para o ego de qualquer mulher.
Logo veio a culpa e a tentativa de manter em mente que não havia qualquer problema em conversar com um antigo namorado, mas por mais que tentasse justificar sua ação para si mesma, a culpa não desaparecia.
Lembrou-se de como Toni foi seu grande amigo, consolando-a na época em que Túlio a traiu, mantendo-se presente em todos os momentos, amparando-a e impedindo que ficasse sozinha nos momentos de tristeza.
Sempre tinha uma palavra de consolo para oferecer sem nada pedir em troca, com intenções sinceras e o objetivo de ajudá-la a superar aquela situação.
Foi ela que deu o primeiro passo para transformar a grande amizade que surgiu entre eles em um relacionamento mais forte, puro e generoso. Depois de dois anos de namoro, resolveram se casar. Foi uma cerimônia simples, somente para os amigos mais íntimos.
Naquele dia, quanto voltou para casa, Julia estava dispersa e Toni logo notou a diferença no comportamento da esposa.
— Julia, você está bem?
— Desculpe, estava só pensando no começo do nosso namoro.
— O que fez essas lembranças surgirem agora?
— Nada demais, não posso recordar?
— Pode, mas hoje você está diferente.
Julia resolveu não comentar o reencontro inesperado que teve com Túlio, achou melhor não o incomodar com um assunto que não teria desdobramentos, concluindo que nunca mais veria o antigo namorado.
Para sua surpresa, seu celular tocou naquele exato momento. Atendeu-o e ficou muito nervosa quando viu o número no visor.
— Algo errado, Julia?
— Não, nada, foi engano.
Desligou imediatamente o aparelho e sentou-se para jantar.
Durante todo o jantar, ficou inquieta. Não conseguia se concentrar enquanto pensava no que Túlio queria com aquela ligação e o porquê de ter feito o contato ciente de que ela poderia estar com seu marido naquele momento.
Toni percebeu o nervosismo de Julia, mas resolveu não insistir para que ela falasse. Quando foram se deitar, Julia parecia perturbada e se virou para o lado, fingindo dormir.
No dia seguinte, retornou a ligação de Túlio e, depois de suas insistências, resolveu marcar um novo encontro.
— Julia, desculpe a decepção que lhe causei.
— Túlio, já lhe disse que isto é passado, eu já superei tudo. Você deve me esquecer e parar com as ligações, afinal, sabia que eu estava com meu marido.
— Eu não quero atrapalhar sua vida, eu sei que você estava pensando em mim.
E, assim, Túlio começou a cercar Julia, que se sentia lisonjeada ao ver que aquele homem bonito e muito charmoso flertava com ela. Sabia onde tudo iria terminar e passou a viver um grande dilema, considerando que uma relação extraconjugal nunca havia passado por sua cabeça. Não queria em hipótese alguma causar sofrimento a Toni.
Julia passou a viver angustiada, na dúvida entre contar tudo a Toni ou simplesmente continuar a omitir a situação, pois nada demais havia acontecido entre ela e Túlio.
As investidas de Túlio continuavam e cada vez mais ele insistia que fossem até seu apartamento, que era o mesmo de antes, para que Julia pudesse recordar e talvez ceder de uma vez por todas.
Julia queria ir, e tentava encontrar justificativas para afastar o sentimento de culpa em seu interior. Foi então que, certo dia, resolveu confidenciar seu drama à Renata, uma de suas amigas que a conhecia desde a época de solteira e que havia acompanhado o estrago causado por Túlio em sua vida.
Renata tentou argumentar de todas as formas, ressaltando os defeitos de Túlio, lembrando-a de como ele havia sido canalha e de como Toni fora tão generoso com ela, mostrando-se um parceiro fiel, leal, bondoso e que só pensava em fazê-la feliz. Comentou sobre os dez anos de casamento, sobre os planos dos dois em comprar uma casa maior, sobre o sonho de terem filhos.
Assim, tentou mostrar à amiga que os dois haviam construído uma história, questionando se valeria a pena trocar tudo aquilo por uma aventura:
— Quem garante que Túlio realmente mudou, afinal, você está encantada por sua versão do passado e o homem que está flertando com você é outro. O que ele faz da vida? Por que continua morando no mesmo lugar depois de tanto tempo? Onde ele trabalha, tem filhos, já se casou? Você deve contar tudo que está acontecendo para o Toni, você não pode esconder nada dele.
Julia percebeu que a amiga tinha razão e que não tinha as respostas para todas aquelas perguntas. Quando se encontrava com Túlio, somente recebia suas investidas e nenhum diálogo pessoal era iniciado. O antigo namorado somente elogiava suas roupas, os cabelos e o modo como se portava.
Resolveu ir até o apartamento de Túlio e, como seu carro não estava no estacionamento, resolveu esperá-lo. Quando ele chegou, Julia desceu do carro e foi ao seu encontro. Túlio ficou surpreso, e, depois de se beijarem e abraçarem, subiram rapidamente para o apartamento.
Ao entrar no ambiente, ela percebeu que Túlio ainda mantinha a pintura e alguns objetos do passado, parecia que nada havia mudado. A nostalgia tomou conta de Julia, acompanhada das recordações do sofrimento causado em sua vida.
A comparação com Toni foi inevitável, afinal, Túlio representava a pior fase de sua vida e Toni os momentos de paz, harmonia, felicidade, sonhos e planos.
Quando Túlio se aproximou para abraçá-la, Julia se afastou e lhe disse:
— Não posso continuar com isso. Vim aqui hoje para lhe pedir que se afaste de mim. Tenho um casamento feliz e não deixarei que você nem ninguém estrague tudo que construí.
— Não acredito que depois daquele beijo você não quer continuar. Por que subiu até aqui?
Túlio a agarrou e começou a arrastá-la para o quarto. Neste momento, a porta da sala veio abaixo e Toni entrou no aposento. Ele havia combinado com Julia de que, se ela não descesse em quinze minutos, ele subiria para buscá-la.
Ao ver Julia nas mãos de Túlio, Toni se transformou e partiu para cima do rapaz sem dar chance alguma de reação.
— Toni, pare, já chega! Ele teve o que mereceu.
— Está bem. Se eu souber que você está importunando minha mulher novamente, voltarei. Tenha a certeza de que isto que aconteceu aqui hoje foi apenas uma demonstração do que sou capaz.
Toni foi insistente com Julia, que resolveu confiar em seu marido e se abriu com ele. Contou do encontro casual no Metrô, das investidas de Túlio. Pediu que ele confiasse nela, pois tinha que passar pela situação para virar, de uma vez por todas, esta página de sua vida.
Julia trocou o número do seu telefone e mudou-se de cidade com Toni. O casal encontrou e comprou a casa de seus sonhos, perdendo totalmente o contato com Túlio.
No momento em que a razão falou mais forte que a emoção, Julia confiou em Toni e se abriu sobre suas emoções. Ele soube usar sua sabedoria e manteve a confiança em sua esposa, buscando ouvi-la e apoiá-la em sua decisão.
Não podemos viver somente de razão ou emoção quando esses são sentimentos que devem receber a dosagem certa para que não gerem grandes conflitos em nossa vida ou na do próximo.
Julia levantou-se mais cedo e preparou o café para Toni, deixou a mesa posta antes de sair para trabalhar e planejava fazer uma surpresa ao marido, pois ele só sairia por volta das dez.
Ela pegou o metrô e, ao se deparar com alguns lugares vazios, sentou-se e ficou observando as pessoas, como fazia diariamente. De repente, seu coração disparou quando notou a presença de Túlio. Olhou novamente para se certificar, mas não havia como ser engano. Os cabelos estavam mais longos e com alguns fios brancos, a barba por fazer, mas era realmente ele. Depois de quase dez anos separados, só o destino para pregar uma peça daquelas.
Julia tentou disfarçar e procurou não olhar para ele, mas, assim que o banco ao seu lado ficou disponível, Túlio se aproximou e a cumprimentou:
— Oi, Julia, como você está diferente!
— Oi Túlio, quanto tempo...
— Que surpresa agradável — respondeu Túlio.
Apesar de Julia se sentir incomodada, tentou manter um diálogo educado, pois não demoraria para chegar ao seu destino, comentando que desceria na próxima estação. Sem hesitar, Túlio disse que desceria ali também.
— Julia, vamos tomar um café? Um reencontro depois de tanto tempo não pode terminar com um adeus em uma estação do metrô.
Julia, embora um pouco resistente, pensou em Toni e em como não era certo fazer aquilo com ele, mas logo a ansiedade e a curiosidade falaram mais alto, e ela acabou aceitando o convite.
Assim que se sentaram à mesa, Túlio comentou sobre a aliança que avistou na mão de Julia.
— Você se casou?
— Sim, já estou casada há dez anos. E você, continua com a Roberta?
— Não, foi apenas um grande erro que cometi, foi um envolvimento sem importância. Eu sei que a magoei muito, naquele momento não pensei em você e agi por impulso.
— Túlio, você não precisa me explicar nada.
— Eu sei, mas me culpo até hoje por deixar você sair da minha vida.
— Túlio, eu já superei tudo isso, e você também precisa deixar para trás, é passado.
— Julia, quando a vi no metrô, foi como se um filme passasse em minha cabeça. Voltei a lembrar dos nossos momentos naquele apartamento minúsculo, onde fui muito feliz. Acho que foram os meses mais felizes da minha vida.
Neste momento, Julia se sentiu orgulhosa em saber que havia tocado sua vida para frente e que era quem ainda Túlio estava naquela situação, arrependido e sozinho.
Começou a recordar o sofrimento que passou por causa dele. Depois de seis meses de convivência, ele havia se transformado e estava sempre irritado, já não era tão atencioso, chegava tarde e a deixava sozinha a maior parte do tempo.
Até que, quando procurou saber o que estava acontecendo, Túlio confessou que estava se sentindo sufocado naquele relacionamento, explicando que não aguentava mais e que queria dar um tempo.
Muito irritada, ela pegou suas coisas e retornou à casa dos pais. Ficou inconsolável durante semanas, sentia a sua falta e permanecia horas à espera de uma ligação que nunca foi recebida.
Depois de algum tempo, resolveu ir até o apartamento de Túlio para conversarem. Como ainda tinha as chaves, entrou sem bater.
Ele não estava na sala e Julia seguiu em direção ao quarto, onde ficou paralisada ao surpreendê-lo na cama com Roberta, sua melhor amiga.
Com lágrimas nos olhos, encarou ambos, que não esboçaram nenhuma reação e que nada tinham a dizer, afinal, os fatos falavam por si mesmos.
Julia bateu a porta e saiu correndo para nunca mais voltar.
Logo as lembranças se desfizeram e ela voltou à realidade.
— Túlio, preciso ir, já estou muito atrasada.
— Julia, preciso te ver novamente, há tanta coisa que ainda preciso lhe falar.
Trocaram os números de telefone, despediram-se e cada um tomou uma direção, mas Julia estava visivelmente abalada. Talvez aquela sensação estivesse relacionada ao fato de ainda despertar o desejo em outro homem. Depois de tanto tempo sem sentir aquilo, precisava admitir que era positiva para o ego de qualquer mulher.
Logo veio a culpa e a tentativa de manter em mente que não havia qualquer problema em conversar com um antigo namorado, mas por mais que tentasse justificar sua ação para si mesma, a culpa não desaparecia.
Lembrou-se de como Toni foi seu grande amigo, consolando-a na época em que Túlio a traiu, mantendo-se presente em todos os momentos, amparando-a e impedindo que ficasse sozinha nos momentos de tristeza.
Sempre tinha uma palavra de consolo para oferecer sem nada pedir em troca, com intenções sinceras e o objetivo de ajudá-la a superar aquela situação.
Foi ela que deu o primeiro passo para transformar a grande amizade que surgiu entre eles em um relacionamento mais forte, puro e generoso. Depois de dois anos de namoro, resolveram se casar. Foi uma cerimônia simples, somente para os amigos mais íntimos.
Naquele dia, quanto voltou para casa, Julia estava dispersa e Toni logo notou a diferença no comportamento da esposa.
— Julia, você está bem?
— Desculpe, estava só pensando no começo do nosso namoro.
— O que fez essas lembranças surgirem agora?
— Nada demais, não posso recordar?
— Pode, mas hoje você está diferente.
Julia resolveu não comentar o reencontro inesperado que teve com Túlio, achou melhor não o incomodar com um assunto que não teria desdobramentos, concluindo que nunca mais veria o antigo namorado.
Para sua surpresa, seu celular tocou naquele exato momento. Atendeu-o e ficou muito nervosa quando viu o número no visor.
— Algo errado, Julia?
— Não, nada, foi engano.
Desligou imediatamente o aparelho e sentou-se para jantar.
Durante todo o jantar, ficou inquieta. Não conseguia se concentrar enquanto pensava no que Túlio queria com aquela ligação e o porquê de ter feito o contato ciente de que ela poderia estar com seu marido naquele momento.
Toni percebeu o nervosismo de Julia, mas resolveu não insistir para que ela falasse. Quando foram se deitar, Julia parecia perturbada e se virou para o lado, fingindo dormir.
No dia seguinte, retornou a ligação de Túlio e, depois de suas insistências, resolveu marcar um novo encontro.
— Julia, desculpe a decepção que lhe causei.
— Túlio, já lhe disse que isto é passado, eu já superei tudo. Você deve me esquecer e parar com as ligações, afinal, sabia que eu estava com meu marido.
— Eu não quero atrapalhar sua vida, eu sei que você estava pensando em mim.
E, assim, Túlio começou a cercar Julia, que se sentia lisonjeada ao ver que aquele homem bonito e muito charmoso flertava com ela. Sabia onde tudo iria terminar e passou a viver um grande dilema, considerando que uma relação extraconjugal nunca havia passado por sua cabeça. Não queria em hipótese alguma causar sofrimento a Toni.
Julia passou a viver angustiada, na dúvida entre contar tudo a Toni ou simplesmente continuar a omitir a situação, pois nada demais havia acontecido entre ela e Túlio.
As investidas de Túlio continuavam e cada vez mais ele insistia que fossem até seu apartamento, que era o mesmo de antes, para que Julia pudesse recordar e talvez ceder de uma vez por todas.
Julia queria ir, e tentava encontrar justificativas para afastar o sentimento de culpa em seu interior. Foi então que, certo dia, resolveu confidenciar seu drama à Renata, uma de suas amigas que a conhecia desde a época de solteira e que havia acompanhado o estrago causado por Túlio em sua vida.
Renata tentou argumentar de todas as formas, ressaltando os defeitos de Túlio, lembrando-a de como ele havia sido canalha e de como Toni fora tão generoso com ela, mostrando-se um parceiro fiel, leal, bondoso e que só pensava em fazê-la feliz. Comentou sobre os dez anos de casamento, sobre os planos dos dois em comprar uma casa maior, sobre o sonho de terem filhos.
Assim, tentou mostrar à amiga que os dois haviam construído uma história, questionando se valeria a pena trocar tudo aquilo por uma aventura:
— Quem garante que Túlio realmente mudou, afinal, você está encantada por sua versão do passado e o homem que está flertando com você é outro. O que ele faz da vida? Por que continua morando no mesmo lugar depois de tanto tempo? Onde ele trabalha, tem filhos, já se casou? Você deve contar tudo que está acontecendo para o Toni, você não pode esconder nada dele.
Julia percebeu que a amiga tinha razão e que não tinha as respostas para todas aquelas perguntas. Quando se encontrava com Túlio, somente recebia suas investidas e nenhum diálogo pessoal era iniciado. O antigo namorado somente elogiava suas roupas, os cabelos e o modo como se portava.
Resolveu ir até o apartamento de Túlio e, como seu carro não estava no estacionamento, resolveu esperá-lo. Quando ele chegou, Julia desceu do carro e foi ao seu encontro. Túlio ficou surpreso, e, depois de se beijarem e abraçarem, subiram rapidamente para o apartamento.
Ao entrar no ambiente, ela percebeu que Túlio ainda mantinha a pintura e alguns objetos do passado, parecia que nada havia mudado. A nostalgia tomou conta de Julia, acompanhada das recordações do sofrimento causado em sua vida.
A comparação com Toni foi inevitável, afinal, Túlio representava a pior fase de sua vida e Toni os momentos de paz, harmonia, felicidade, sonhos e planos.
Quando Túlio se aproximou para abraçá-la, Julia se afastou e lhe disse:
— Não posso continuar com isso. Vim aqui hoje para lhe pedir que se afaste de mim. Tenho um casamento feliz e não deixarei que você nem ninguém estrague tudo que construí.
— Não acredito que depois daquele beijo você não quer continuar. Por que subiu até aqui?
Túlio a agarrou e começou a arrastá-la para o quarto. Neste momento, a porta da sala veio abaixo e Toni entrou no aposento. Ele havia combinado com Julia de que, se ela não descesse em quinze minutos, ele subiria para buscá-la.
Ao ver Julia nas mãos de Túlio, Toni se transformou e partiu para cima do rapaz sem dar chance alguma de reação.
— Toni, pare, já chega! Ele teve o que mereceu.
— Está bem. Se eu souber que você está importunando minha mulher novamente, voltarei. Tenha a certeza de que isto que aconteceu aqui hoje foi apenas uma demonstração do que sou capaz.
Toni foi insistente com Julia, que resolveu confiar em seu marido e se abriu com ele. Contou do encontro casual no Metrô, das investidas de Túlio. Pediu que ele confiasse nela, pois tinha que passar pela situação para virar, de uma vez por todas, esta página de sua vida.
Julia trocou o número do seu telefone e mudou-se de cidade com Toni. O casal encontrou e comprou a casa de seus sonhos, perdendo totalmente o contato com Túlio.
No momento em que a razão falou mais forte que a emoção, Julia confiou em Toni e se abriu sobre suas emoções. Ele soube usar sua sabedoria e manteve a confiança em sua esposa, buscando ouvi-la e apoiá-la em sua decisão.
Não podemos viver somente de razão ou emoção quando esses são sentimentos que devem receber a dosagem certa para que não gerem grandes conflitos em nossa vida ou na do próximo.