O ÚLTIMO SOLDADO - 9 de 10

Luan parou de frente à biblioteca e abriu a porta do carro para Aura.

- A que horas você sai?

Ele perguntou e Aura respondeu, saindo do automóvel:

- Às uma da tarde.

- Eu posso te buscar, saio da empresa ao meio-dia.

- Luan, eu...

- Não, não venha com picuinhas! Eu venho te buscar.

- Já vi que é inútil tentar te fazer mudar de opinião.

Ela disse sorrindo e deu de ombros. Luan ligou o carro e depois disse:

- Aproveitamos e saimos para almoçar juntos.

Antes que Aura pudesse dizer algo em discórdia, Luan já estava dobrando a esquina. Ela entrou na biblioteca e cumprimentou a amiga de trabalho, Ravenna, ela que fazia a limpeza do local.

- Bom dia, Ravenna!

- Olá, Aura! Chegou mais cedo hoje...

Aura colocou sua bolsa sobre o balcão e com um sorriso discreto, falou:

- Pois é, hoje eu vim de carona.

- De quem?

- Luan, um amigo meu.

- Huuum...

- O que foi? É só um amigo!

- Unhum, sei...

Ravenna sorriu e passou o espanador nas prateleiras repletas de livros e Aura sentou-se no balcão e ligou o computador.

- Para com isso, Ra! Eu já disse, é um amigo, mais nada!

- Ah...

- Ele vem me buscar e vamos almoçar juntos.

- Ha, ha! Tá vendo aí? Aposto que vão se beijar um montão...

Ravenna pegou a vassoura e simulou estar beijando ela. Aura reprovava com olhar o comportamento da amiga e disse-lhe:

- Deixa de dizer maluquices! Eu nem sinto nada por ele...

- Unhum... Puxa vida, ele vem vindo ali!

- Cadê? Sério?

Aura olhou rapidamente pela a janela aberta, mas não havia ninguém chegando e Ravenna sorriu e falou:

- Viu? Tá louquinha por ele!

Aura meneou negativamente a cabeça e voltou a se sentar, a amiga deixou o serviço de lado e foi sentar-se junto a ela.

- Mas me conta, como ele é? Cabelos louros, olhos azuis, corpo sarado? Alto?

- 1,30m, só dois dentes na frente, vesgo...

- Credo! Fala sério, Aura! Como ele é?

Aura se punha de pé e caminhou até as prateleiras... Passava as mãos nos livros e passeava os olhos nas lombadas de diversas cores.

- Ah... Ele é bonito.

Ela disse e Ravenna cruzou os braços e perguntou:

- Só isso?

Aura olhou, incompreensiva, para a amiga e disse mais:

- É um homem normal.

- Ah, já sei, safado e cafajeste.

- Não! Ele é muito cavalheiro e respeitador... Pelo menos foi o que deu a perceber ao longo do jantar.

- Espera aí, vocês jantaram juntos?

Aura viu que tinha dito algo que não devia e expremeu os olhos, sabia que Ravenna ia acabar perguntando aquilo.

- Foi um simples jantar, Ra, mais nada.

- Ah, mais eu quero saber dos detalhes... Vai, me conta tudinho! Como foi?

Aura regressou ao balcão e, timidamente, foi dizendo:

- Fomos a um restaurante maravilhoso, não sei se você conhece... Um que tem umas portas enormes de...

- Tá, tá, continua!

- Então, escolhemos um champanhe, conversamos, rimos juntos...

- Vocês se beijaram?

- O quê? Não!

- Ah. E depois?

- Depois? Depois ele me levou para casa, me acompanhou até a porta...

- Aí sim vocês se beijaram!?

- Não, Ra, não nos beijamos! Quer dizer... Ele me deu um beijo de despedida, quase em minha boca, não sei se fez de propósito...

- Sério? Uau! E foi bom? Quente, frio, seco, molhado? Você tremeu?

Aura olhou surpresa para Ravenna e franziu a testa, então falou:

- Ra, só foi um celinho de despedida, na bochecha.

- Não, você disse que foi no canto da boca...

- Tá, tá... Mas nem foi na boca!

- Mas foi no canto.

Aura respirou fundo, mas por dentro estava a rir das brincadeiras de Ravenna.

- Quando ele chegar aí, me avisa. Faço questão de limpar os livros todos de novo, só para ver como ele é!

Falou Ravenna, organizando as mesinhas de leitura.

- Sei não... Você vai achar ele o maior ogro.

- Fica tranquila, amore, ele é todinho seu!

- Ravenna!

Foi aquele assunto para a manhã toda, Ravenna ainda cantou "com quem será?" e ficou o tempo inteiro fazendo coraçãozinho para Aura, mas Aura sempre pedia sorrindo para que ela fizesse silêncio, pois as pessoas não conseguiriam ler com alguém tagarelando sem parar.

Quando eram 12:40, um carro parou de frente à biblioteca, era o carro de Luan. Depois de quase ter perdido um jantar com Aura por causa de seu atraso, ele sempre procurava chegar 20 minutos antes. Esperou dar 13:00 h no relógio, e quando eram justamente, perfeitamente, exatamente 13:00 h da tarde, ele desceu do carro e entrou na biblioteca.

- Olá, boa tarde!

Ele cumprimentou a todos e Ravenna o repreendeu, dizendo em sussurros:

- Shiii! Silêncio!

- Ah, desculpe...

Ele encolheu os ombros e cochichou para ela:

- É que procuro Aura. Onde ele está?

- Você é o... Caramba! Espera aí, ela foi no banheiro, mas já vem!

Ravenna saiu correndo para os fundos onde ficavam os banheiros e gritou, batendo na porta do banheiro:

- Aura! Aurinha!

- Que é, Ravenna?

- Sai logo daí, tem alguém te procurando lá fora!

Aura abriu a porta e perguntou para a amiga:

- Quem é?

- Lu-an.

- Ele já chegou?

- Já, e você é uma mentirosa, ele não é feio coisa nenhuma!

Aura foi até lá e Luan estava tão intrertido com um livro que nem viu ela se aproximar. Aura observou o iivro nas mãos dele e falou:

- Não sabia que gostava de ler gibis da turma da mônica.

- É... Ops! Livro errado...

Ele disse sorrindo, vermelho de vergonha e falou:

- Estava te eperando.

- Eu estava no banheiro.

- Podemos ir agora?

- Espere... Preciso esperar Aline chegar, ela é quem fica no turno da tarde.

- Tudo bem... Deve ser muito bom trabalhar numa biblioteca.

Disse ele, observando o ambiente calmo e com cheiro de livro.

- Eu amo trabalhar aqui, nem parece que estou trabalhando. Parece mais um momento de lazer.

Falou Aura e viu a porta da biblioteca abrir, era Aline que chegava. Aura a cumprimentou e se despediu de Ravenna, depois disse para Luan:

- Já podemos ir.

Eles foram almoçar num restaurante ali perto e conversavam na mesa...

- Não note minha rapidez ao comer, estava realmente com fome.

Luan falou e Aura sorriu. Ele continuou:

- É sério! Desde que a dona Socorro saiu lá de casa, sou eu quem cozinho. E comer macarrão instantâneo todo dia não é mole não!

- Hahahaha! Eu imagino.

- Você bem que poderia cozinhar para mim...

- Isso foi um convite amigável?

- Estou perdendo as forças! Veja como estou magrinho!

Aura sorriu e limpou a boca com o guardanapo e fitando-a, Luan disse:

- Espere...

Ele chegou um pouco mais perto e deslizou o dedo na margem dos lábios de Aura, para limpar. Sentiu impulso para chegar mais perto e olhando para a boca dela, foi aproximando seus lábios e Aura murmurou:

- Não, Luan...

- Deixa...

- Por favor... Não...

- Quero muito fazer isso... Minha boca está seca e anseia os seus lábios.

Aura fechou os olhos... Sentiu os lábios de Luan colarem no seu, suavemente, como uma onda que batia na areia e depois foi se entregando, com um beijo mais profundo... O coração de ambos estavam a mil, a respiração ofegante... Luan segurava o queixo de aura e ela colocou sua mão na nuca dele e tocou em seus cabelos... O beijo ficava cada vez mais profundo. Quando Aura afastou seus lábios, respirou fundo e Luan queria lhe beijar de novo, mas ela virava o rosto. Luan cochichou perto do ouvido de Aura:

- Seus lábios têm sabor de pêssego... Quero te beija mais, Aura...

Ele tentou outra vez beijá-la e foi deslizando sua boca na dela, mas Aura se levantou e falou:

- Eu preciso ir...

Ela pegou a bolsa, com pressa, mas Luan também se punha de pé e a segurou pelo braço, dizendo:

- O que vai fazer? Voltar para casa e fingir que nada aconteceu aqui? Vai fugir da realidade?

- Eu só...

- Aura, não sei se depois do que lhe direi agora você ainda irá suportar a minha companhia, mas cansei de esconder, cansei de você se esconder! Fica trancada naquela casa, pensando em coisas do passado, tudo bem, se elas ao menos te fizessem sorrir! Mas, não fazem.

Lágrimas rolaram dos olhos de Aura e Luan segurou seu rosto e continuou:

- Por que não entende que tem um cara aqui que está tentando chamar sua atenção, nem que por um minuto!? Que fica a noite toda pensando no que poderia fazer para ao menos apagar metade dessas lembranças que te assombram. Que morre, Aura, morre de amor por você...

Luan abraçou forte Aura e disse em seu ouvido:

- Eu gosto muito de você, Aura, mas se for para continuar sendo só um amigo... Eu não quero.

Aura olhou para ele e perguntou:

- O que quer dizer com isso?

- Que quero... Quero ser teu homem... Só teu.

Um silêncio por alguns minutos. Aura enxugou as lágrimas e então perguntou:

- E agora o que devo levar para casa desta conversa?

Luan respirou fundo e respondeu:

- Meu pedido de namoro. Vai, e pensa em tudo o que aconteceu e em tudo o que eu te disse aqui... E só me chama quando tiver tomado uma decisão.

No alto da mata, o soldado James expectava a chegada do elicóptero, a noite anterior tinha sido terrível para ele, que nem conseguiu pregar os olhos, no desejo de sair dali de vez. Tirava a foto de Aura do bolso e falava com ela...

- Como eu queria estar com você agora, trocar esse frio pelo calor de teus braços... Se fui corajoso, se me arrisquei, foi consciente de que deveria voltar para você. Ah, Aura, que falta você me faz.

Sem esperar, James ouviu passos por dentro da mata, ali bem perto e se aproximavam. Ele se levantou e pegou a arma e correu para trás de um arbusto. Seria possível que logo agora tudo viria a dar errado? James olhou discretamente para ver quem ali estava, era o que bem pensava: dois terroristas.

- Droga... O que esses miseráveis estão fazendo por aqui?

Se perguntava James e ficou quieto e esperou que eles se fossem dali, mas lembrou-se da mensagem de socorro que desenhou na terra, e suou frio, achando que poderia ser descoberto, com razão, pois os dois homens viram a mensagem e começaram a vasculhar o local, com a certeza de que a mensagem teria sido escrita por algum soldado que escapou.

- Vão embora, vão embora...

Murmurava James, tenso. Repentinamente, o pior... O elicóptero vinha se aproximando da mata. James não conseguia crer na sua má sorte naquele momento, em razão de que o elicóptero chegara para buscá-la e ele não podia sair de trás dos arbustos, ou pelos terroristas seria morto. Só havia uma solução: teria que matá-los. Apontou a arma para os dois, mas na hora de atirar os terroristas se esconderam por trás das árvores, vendo o elicóptero do exército se aproximar. "e agora?" pensou James, se ele saísse do esconderijo era bem capaz de ser visto pelos terroristas antes de ser visto pelo elicóptero! Tentou usar o rádio, mas estava sem sinal... Sem saída e vendo que o elicóptero já estava acima da mensagem de socorro, James pulou dos arbustos e balançou os braços tentando chamar a atenção do piloto e depois correu para o outro lado, no mesmo instante em que ouviu um disparo, certamente foram os terroristas querendo atingi-lo.

- Será que me viram?

Perguntou James, referindo-se ao piloto. Enquanto lá em cima, no elicóptero, o soldado Marco segurava uma metralhadora e via tudo pela porta aberta do elicóptero e falou para o tenente:

- Veja, tem dois terroristas ali!

- Atire neles.

Marco pediu para o piloto aproximar mais o elicóptero e mirando nos terroristas, atirou. Acertou um e o outro também começou a atirar contra o soldado Marco, mas foi atingido em seguida.

- Excelente.

Disse o tenente para Marco.

- Lance a corda!

A corda do elicóptero foi lançada e James correu para subi-la, cada passo que dava na corda era um peso saindo de sua mente, mas só estaria tranquilo quando chegasse na base.

- Está a salvo, soldado.

O tenente disse, batendo no ombro de James, enquanto o soldado agradecia a Deus por estar vivo e salvo de tudo aquilo.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 30/07/2015
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