Um Momento do Amor Eterno
Este conto nasceu de um amor, aquele amor verdadeiro e incondicional, que não exige e não escraviza; um amor batizado pelo fogo do desejo e da paixão... Quem nunca olhou a imensidão e nunca se sentiu solitário em meio a grandeza do mundo e do universo?
Quem nunca se perguntou se em algum lugar, ou em uma estrela distante existia um amor guardado nos braços de outro amor?
Argo e Nefilles viveram próximos, no entanto em lados opostos, ambos sonhando com estrelas, ambos sonhando com o amor... Nefilles era uma filha da natureza e Argo um magoe poeta das sombras e mesmo que exaltasse a luz, a felicidade e o amor ele se conduzia resvalando nas trevas, fugia do amor como quem foge de uma maldição, mas não porque não amava, simplesmente havia cansado de buscar em todos seus amores o brilho dos olhos de sua amada. Nefilles por outro lado buscava em todos os caminhos a maior parte que lhe faltava, e entrelaçando-se na natureza acessava o seu amor e mesmo sem entender sentia em seu coração o peso da dor e da nostalgia que seu amado desconhecido arrastava. Ambos sentiam todos os dias de suas vidas a angustiante sensação de que haviam perdido algo no meio do caminho da estrada das tantas vidas que viveram, e mesmo rodeado de pessoas eram solitários.
Ele olhava a lua e tentava não chorar, ela olhava a lua e dava boa noite a esse amor que nasceu com ela enquanto seu amor revirava seus escritos em busca dos olhos dela, enquanto entregava-se a poesia e no papel borrava a tinha com suas lagrimas nostálgicas.
E assim viviam, sem saber um do outro, mas amando um ao outro, até que um dia...
Neffiles tornou-se dona de uma biblioteca, a encheu de livros e poesias e quando no meio das prateleiras caminhava sentia-se completa como se em cada volume um pedaço de sua vida estivesse, como se cada pagina falasse de seu coração misterioso.
Argo não costumava dedicar-se a poesia de outros autores, temia trazer para sua essência própria a essência de outros poetas, era uma santo profano narcisista e egoísta, pois não dividia suas belezas, aprendera a ser frio o que fazia seu mundo ser mais solitário, mas ao passar frente a Biblioteca de Nefilles, sem pensar ele entrou e sentiu seu corpo invadido pelo mistério das prateleiras, enquanto caminhava distraído e estranhamente absorvido pela nostalgia, ele trombou com Nefilles, deram um encontrão que a fez derrubar alguns volumes que trazia nas mãos, ambos sorriram:
- Como sou distraída – Diz a moça um tanto sem graça enquanto se abaixava juntamente com Argo que recolhia os livro, se levantaram juntos e se apresentaram.
Logo ele estava encantado pela moça de pele branca e olhos de pantera, ficou alguns segundos detalhando com os olhos as ondas de seus cabelos longos negros e cacheados.
Argo passou a ser frequentador do espaço de leitura e sem que percebesse, quando perto da iluminada Nefilles, de sorriso doce mas olhos poderosos de rainha, todas as suas sombras se dissipavam; o poeta passou a lhe mostrar suas poesias sem intenção alguma, apenas queria compartilhar sua alma lírica, mal sabia ele que despertava Neffiles e ela já não só sentia a poesia como a via e não demorou lá estava ela escrevendo tão linda e perfeitamente quanto Argo, tornaram-se amigos, mas por esses motivos da vida que não entendemos se perderam um do outro, mas Nefilles não cessava de ler as poesias de seu amigo e Argo por sua vez, passava noites admirando um pequeno porta retrato onde um sorriso iluminava sua vida como mil anos de sol, dizia a si mesmo quão querida era a amiga, mas fugia pois temia apaixonar-se.
O destino serve como chicote no lombo da covardia, o destino é corajoso e não se importa, ele segue como nascente que fura a terra, começa como um filete inocente e a medida que avança mostra-se onipotente rio. E não demorou a Nefilles e Argo se encontrarem mais uma vez, e toda força da amizade emergiu de suas almas e em seguida vindo à paixão e o amor rogando para continuar de onde parara.
Retomaram a amizade e desta vez sem receio um na vida do outro, vivendo os dilemas um do outro, pois haviam feito um pacto de que nada mais os separariam... Mas almas como a de ambos rogavam por se unirem, já haviam vivido todas as fases do amor, de Filos à Storge e ágape, mas Eros reclamava a união de ambos e viviam perdidos de amor e paixão, receosos em entregarem-se as necessidades do sentimento que vazava da alma mais profunda para o físico...
Mas, a trama da vida era complicada Argo sabia que corria o risco de perdê-la, temia o adeus mais que a própria morte, mas tão magnético era o amor e por mais fugisse não suportava viver represando o amor que lhe invadia o peito, tão grande que ele não podia suportar.
Buscando fugir dos pensamentos ele foi ao lugar da natureza que Nefilles tinha por lugar predileto, não imaginava que ela o encontraria ali, queria se esconder e finamente permitir-se sentir, sentir tudo o que pudesse, não queria ignorar nem a dor e a tristeza.
Caminhava pelas trilhas arborizadas enquanto a noite cobria o dia com sua escuridão e Argo não se sentia bem, na verdade não sabia como se sentia... Apenas estava saudoso e as forças faltavam-lhe, sua alma parecia presa em uma aresta de sombras e dor... Desligar-se?
Não, embora pensasse muito sobre, não queria fugir, pois nunca se livraria do que era então aprender a coexistir com aquela tempestade parecia ser o melhor; coexistir com a noite em sua manhã, o frio se meu verão, a flor morta em sua primavera e no outono teria de aprender a ver a árvore estéril...
Sem perceber o caminho quando deu por si se viu em frente de um pequeno lajedo, o som das águas já era percebido e era esse som que ele seguia, escalou sem dificuldade o pequeno muro e pode ver a clareira que beirava o rio, opulente queda de água fazia musica na natureza, a cachoeira lembrava “ela”
Argo se aproximou da margem e sentou-se na grama selvagem para logo depois jogar o corpo para trás...
De olhos fechados e absorto, não havia nada o que fazer, abriu vacilante os olhos e olhando o céu, a lua e suas companheiras distantes acusavam com suas luzes, então pela força de sua vontade e magia, nuvens cinza e pesadas cobriram a lua e embaçou os céus... Pois era ele também um mago e sabia manipular a natureza.
Não havia fúria em seu coração, havia apenas uma calmaria desconhecia... Sentia saudade... Depois de um grande suspiro onde pode trazer para perto toda a natureza em seus aromas, fixando seus olhos mais uma vez em determinado ponto do céu, uma abertura perfeitamente redonda foi crescendo nas nuvens pesadas e parou assim que uma das filhas da Plêiade apareceu... Concentrou meus olhos nessa estrela e permaneceu quedo com suas faltas e falhas, com meus acertos e medos... Com a paz e a guerra, na corda bamba tentava não cair...
Nefilles sentia-se amargurada e decidira caminhar pela noite, munida de uma lanterna resolveu buscar seu lugar preferido,
Abraçava-se forte junto a jaqueta para não sentir frio, seus pensamentos estavam longe, e longe também estavam suas emoções. Olhava direto para o alto e a lua a guiava pelas árvores.
Passaram uns vinte minutos assim, vagando e tentando se distrair com a escuridão e o local onde se sentia acolhida, estava um pouco mais animada, pois agora poderia ouvir a força da cachoeira que descia as pedras e seguia rio abaixo.
Abriu um leve sorriso enquanto saia do meio das árvores e agora podia ver o brilho do local e a beleza das águas. " estou em casa" pensou enquanto se aproximava. Porem, foi surpreendida por uma sombra deitada perto da margem, caminhou devagar até se aproximar sentia que era alguém que conhecia e admirava, chegou perto daquele que sempre dizia que aquele local era perturbador, e agora olhe só. La estava ele pra fazer companhia. Chegando perto dele olhou para baixo fazendo sombra em seu rosto. Ele parecia concentrado enquanto olhava o céu.
- Anjo Negro?
Tão concentrado estava em seus pensamento que não percebeu a chegada de Nefilles , mas ao escutar sua voz foi desperto, ainda deitado na grama procura o rosto amigo que lhe sorria e um tanto sem jeito responde sua saudação:
- Oi Bruxa, vejo que me achou...
Nefilles alegre senta-se ao lado de Argo e sorrido dá a contra resposta;
- Eu sempre te acho!
Logo ela toma entre suas mãos a mão do amigo e com voz fraça o indaga
- O que faz aqui sozinho?
Observando ele com seus olhos brilhantes espera pela resposta. Depois de grande suspiro ele revira os olhos e faz um ligeiro bico:
- Estou aqui para exaltar o amor em sua beleza
Depois de sorrir pra a amiga tentando dissimular seus sentimentos, na verdade a situação era desesperadora, eram amigos e ele temia estragar isso com sua paixão.
-Nada melhor que ouvir o som do silêncio da natureza- Nefilles deita nas pernas do amigo e permanece ali olhando o rio, o mesmo medo que ele sentia a dominava, um tanto vacilante ele toca seus cabelos e acaricia-os com carinho.
Levantando, Argo senta-se ao lado da amiga e a abraça contemplando o rio com ela, faz uma observação sobre a ironia do destino, desde que a conhecera tudo ruía e no final eles permaneciam.
Nefilles procurando os olhos de Argo e os fitando de maneira que ele não pode se esquivar aquiesce a constatação:
- Sempre chegaremos ao marco zero e sempre juntos, achegamos juntos e quando acabar novamente, mais uma vez estaremos juntos...E é bom saber que sempre terei você
Ambos conheciam os mistérios mágicos do amor, eram filhos da natureza bruxa e mago, as sombras de muitas vidas pairavam nos olhos de ambos quando em movimento que parecia ensaiado voltaram a olhar o rio e observar a cachoeira.
Um sorriso brota nos lábios indecisos de Argo e com voz sonhadora ele fala e suas palavras estronda no ser de Nefilles que mais um vez pode ver em corpo de verdade o amor que era correspondido, e o amor daquele amigo que ela delegava a sua imaginação, mas cada vez mais sentia o coração dele e podia se ver existindo nos mistérios da alma de Argo.
- é bom ter você...Quando chega a dor torna-se esperança, a escuridão se ilumina, a vida enche-se de sentido e a saudade mesmo dolorida torna-se suportável...
O apaixonado homem que com seus poderes apagara as estrelas e a lua dos céus deixou seu corpo cair para trás e mais uma vez suspira para logo em seguida olhar para Nefilles que pensava em cada uma de suas palavras.
- Bruxa, faça uma magia, mas olhe lá, nada de me molhar...
Argo tenta aliviar o ar do momentos voltando a seu costumeiro jeito alegre, seu método quase infalível de dissimular suas emoções e sentimentos que refulgiam nos seus olhos. Mas Nefilles ainda tinha o que dizer sobre as sensações de muitas existências de amor que se agitavam em seu peito enquanto ela ainda sentada se perdia nas águas da cachoeira:
-Eu também sinto isso... Às vezes é triste, mas aí eu me lembro que só você por aqui basta sabe?
Bastas mais que estar adianta uma multidão... Um palácio... Uma cidade... Se eu vou ficar sozinha e não compartilhar nada. Nós compartilhamos tudo. Até a nossa solidão.
Nefilles vira-se para o amigo e depois de sorrir se deita também recostando sua cabeça na barriga de argo que a presenteia com carinhos em seus sedosos cabelos, acolhida e feliz a moça fala se referindo ao pedido do mago:
- Tudo bem...Vou fazer uma magia e...Sem travessuras dessa vez!
A Bruxa fecha seus olhos e imediatamente um turbilhão de vento suave, porem poderoso começa a soprar, as árvores se agitam e as folhas ao chão junto as que caiam flutuam no ar em círculos como uma revoada de pássaros, Argo sorrindo ao ver a linda mágica exclama:
- Essas folhas podiam ser uma cortina, onde nenhum olhar passasse por elas... A pior das solidões é essa, estar entre tantos e estar só... E... Sua amizade, você e tudo o que representa é o sentido para o que nunca entendi... E você basta... No fim Nefilles, só os fortes sobrevivem... Eu sou uma tempestade, muita das vezes, desenfreada, vento e não me importo com nada, destruo casas, árvores, pessoas, mas no centro, bem no olho do furação existe um deserto, calmo e sem ventos, extremamente vazio
As folhas sobem formando uma espécie de teto verde que se perde na escuridão da noite e se soltam ao desejo de Nefilles; devagar elas dançam ao vento, logo começa a chover sobre os dois e Nefilles que observa a chuva de folhas fala um pouco mais segura, mas ainda sem olhar o amigo:
-Engraçado...Estávamos em um tipo de furacão agora. E estamos aqui. Bem no olho dele. E podemos ver tudo ainda, calmo e tranquilo.
Eu não espero de você a calmaria. A força da natureza é bela por que é assim. Indestrutível e forte. As pessoas não são capazes de entender...
Enquanto eram parcialmente cobertos pelas folhas, Argo a puxa para cima fazendo Nefilles deitar em seu braço, busca os olhos da moça e em um gesto singelo de carinho tira delicado uma folha que encontrará descanso em seu rosto, sorrindo um tanto sarcástico ele responde Nefilles:
- Para... Não seja cruel com os “normais” eles são de fato incapazes de ver a beleza que só uma bruxa pode ver...
Rindo do comentário vaidoso do amigo, Nefilles responde em tom descontraído, mas profundo, na verdade ela queria ouvir o que Argo sentia, embora soubesse, mas queria ouvir dele.
- Haaa... É claro. Só eu mesmo pra compreender esse furacão Argo de ser ?
Quem é que vai explicar aos normais?
Até por que eu escolho entender você... – Depois de respirar fundo ela conclui- Me sinto no mar novamente. Naquela época esquecida...
O mago ali com a sua bruxa eleita olha o céu e não vê mais necessidade de o manter encoberto, então se concentrando e canalizando seus poderes ele faz com que as nuvens se dissipem e deixe vir novamente ao prazer da visão o céu estrelado e a lua que ficava cheia, a noite então se tornava iluminada outra vez.
- Nefilles, você não tem escolha, me entender é uma condição sua, faz parte do seu DNA e da sua alma... E eu também me sinto nos mares daqueles tempos...
Novamente o silêncio se fez, ambos permitiam-se aos poucos e só não estavam amando-se naquele momento por medos tolos da insegurança de suas impressões humanas. Nefilles não se aborrecia com as sombras do amigo, mas se entristecia com seu comodismo nelas e então quebra o silêncio:
- Verdade, eu não tenho escolha, mas você tem, a escolha de dissipar as trevas de sua alma, tal como fez com essas nuvens...
Erguendo o rosto e encarando o homem que mantinha represado seus desejos, Nefilles leva a sua
mão até seu rosto e fala das vidas passadas com Argo valendo-se da analogia ao mar:
-Aqueles oceanos eram mágicos. Tão mágico quanto esse lugar. Lá apesar de não termos algum porto, sabíamos que tudo era uma aventura...
Como tudo parecia complicado a medida que se facilitava, e o que queriam dizer um ao outro era somente “Eu te amo”, mas antes de Bruxa e Mago, Poeta e Poetisa, eram humanos e temores fazem parte dessa condição frágil de existência.
Extasiado com a mão de sua amada em seu rosto Argo termina o raciocínio de Nefilles:
- Você não deixa espaço para a escuridão... E, eu acho que a aventura era não ter porto... Audaciosos, enfrentamos o mar, e sua voracidade...
Era assim que aquela paixão surgia nesse amor, como um mar, um tsunami invadindo impiedosamente tudo. E a conversa continuava enquanto um desejava ardentemente silenciar o mundo com um beijo de amor, fatal e apaixonado, mas ainda sim alicerçado por um amor cheio de grandeza, esse tipo de amor que não se vive todos os dias, o amor de alma que manifestado em físico rogava pela união dos corpos:
- Sim Anjo Negro, - Quantas aventuras... Parece que foi a séculos atrás. E eu nada sabia... Nada esperava... Só queria buscar uma forma de navegar e me entregar a história.
Hoje as coisas são mais claras e fazem mais sentido. A minha condição na vida é... não abandonar e não me arrepender.
Depois de um terno beijo na testa da amiga o mago fala suspirado e com voz presa:
-E o lema da minha vida é: permitir-me, não vou mais me segurar em porto algum, se o mar quiser me engolir que assim seja...
Nefilles busca a lua com seus olhos e Argo faz o mesmo:
-Por isso Anjo Negro, é por isso que olho para o oceano e vejo uma imensidão de emoções... Não me atrevo a imaginar de outro jeito. Não pediria pra ser diferente. Olho o por do sol e digo adeus sem medo... E digo ao nascer do dia seja bem vindo amigo.
- Eu ainda não sei dizer adeus, eu até tento... Mas sempre há vazio mesmo que eu entenda que o sol vai nascer novamente...Eu também penso que a luz que a lua reflete é a luz do sol, então a noite é só uma parte do dia, uma parte mais escura onde temos que ser fortes e ter fé... Muitas coisas não foram feitas para que sejam entendidas, sentir e viver basta, perdemos tempo tentando entender...E agora o que sei é que se aqui é onde podemos viver, então é aqui que vou ficar...
Havia pesar na voz de Argo, por muitas vidas, e eles sabiam, nunca puderam viver a plenitude do que sentiam estando juntos, e ele já pressentindo que aquele momento era um começo, já se martirizava pelo fim, pelo momento de dizer adeus, de ter que ver em mais uma existência o seu grande amor partindo.
Nefilles se levanta e calada permanece enquanto brinca com uma folha para logo em seguida se concentrar no rio mais uma vez, estava feliz por estar ali, mas mesmo que não aceitasse, ela também pensava se começar sabendo do fim seria bom. Ela só queria mergulhar naquele rio e Argo que permanecia deitado percebeu os pensamentos da amiga e valendo-se de sua ousadia se levanta, e sem olhar para Nefilles desabotoa a camisa e a tira, caminha mais para a margem enquanto deixa seus sapatos jogados de qualquer jeito, finalmente na margem ele olha para a amiga e sorrindo brincalhão diz:
- Eu não gosto de me molhar, mas se permitir-e é o meu lema... Então ele se vira e mergulha nas águas negras do rios onde soberana a lua refletia sua luz de prata como quem dividisse com seu amor impossível, o sol, a dança daqueles amantes.
Neffiles solta um riso alegre ao ver Argo tomando a iniciativa e fazendo o que queria ela fazer; ao submergir Argo vai para beirada como se a esperasse e ela prontamente e radiante tira suas sapatilhas arranca sua blusa e caminha a margem do rio e também mergulha indo para a parte mais funda. Ao emergir das águas ela nada até Argo e sorridente exclama:
- Nossa! Isso sim é lavar a alma!
Ela era como a beleza personificada aos olhos de Argo que já não escondia a paixão em seus olhar, ele sacode os cabelos espirrando água na moça sorridente e ela responde a brincadeira jogando água no rosto do amigo, mas não demora e os sorrisos silenciam e novamente a tempestade da paixão toma conta de ambos:
- Mergulhar fundo é preciso – Diz Argo enquanto fixa seus ardentes olhos nos dela, faz menção de que diria algo mais, no entanto se cala ficando alguns segundo de boca entre aberta e Nefilles percebendo, sente um misto de impaciência e tristeza e comparando Argo a imensidão das águas ela o interpela:
- Esse silêncio é como mergulhar no mar...Me diz, o que se passa nessa imensidão?
Agora quem ousava era a moça e permitindo afundar deixa só seus olhos vivos e ardente a mostra cobrando uma resposta que veio em tom sombrio:
- Acredito que essa seja uma retórica...Mas digamos que essa imensidão é perigosa e mergulhar nela seja perder o que já temos...O perigo de toda imensidão, não acha?
Nefilles mergulha para logo voltar e responder:
- Não consigo achar perigoso aquilo que já conheci... Alguns sim... Mas no momento eu não... Na verdade se você é uma imensidão deve ter muita coisa pra descobrir, e no momento eu to curiosa. – Sorrindo ambos se encaram sendo embalados pelo movimento do rio, Nefilles queimada pelos profundos olhos de Argo, olhos esses que sempre hipnotizaram as mulheres, naquele instante em que ele parecia perdido, sem meios para conquistar a mulher que amava, muitas outras choravam por ele e esperava pelo o amor dele, pois eram viciadas em seu fogo e sua sedução, olhando a lua Neffiles anseia ser tomada por seu amigo que pensava ela ser resistente ao seu querer.
Argo se aproxima mais da moça e a segura pelos braços fazendo com que ela olhasse para ele, fascinado com sua pele molhada não escondia o desejo, mas parecia não ceder, queria os lábios dela nos seus, mas temendo perder o pouco que tinha não arriscava, a queria para toda vida e não por uma noite apenas.
- A curiosidade matou o gato - deixa escapar um sorriso, mas logo retoma a seriedade" ... Eu sou uma imensidão sim...Os mais velhos dizem que as águas são mais perigosas porquê elas dão a falsa certeza de que podem ser enfrentadas, diferente do fogo que assusta e faz com que as pessoas fujam...Conhece a historia do pássaro e do peixe? na verdade a historia não existe, é só uma frase que presta asas à imaginação, mas eu não vou falar, porque gosto da sua curiosidade... – Abrindo um sorriso ele projeta o corpo para trás e dá algumas braçadas de costas, um pouco distante para e e crava mais uma vez o seu olhar na moça, observando suas reações.
Nefilles ergue uma de suas sobrancelhas e com um ar de desaforo o responde:
- Sim sou curiosa. Mas não seja por isso... me fale quando der vontade.
Espero que não queira que eu me afaste do mar também e não seja desonesto comigo se não quer que eu descubra.
Já não havia segredos ambos haviam subliminarmente dito um ao outro que entendiam os sentimentos, dando as costas para Argo ela nada até as pedras que davam acesso as cachoeiras, escala sem muita dificuldade ficando alguns minutos embaixo da queda de água e logo depois mergulha; Argo sabe que ela era corajosa para enfrentar as correntezas mais violentas e observa os movimentos da mulher com olhos de um mortal apaixonado por Afrodite. Inexplicavelmente as águas pareciam mais agitadas e sem pensar Argo justifica e revela a frase:
- Gosto de ser um enigma e de ser desvendado... vou te falar a frase... Não me lembro onde a ouvi: " Um pássaro pode se apaixonar por um peixe e um peixe por um pássaro, mas... Onde vão construir seu ninho?
Nefilles tenta uma vez mais e dessa vez cheia da autoridade sedutora que permeia o sagrado feminino:
- É engraçado como as pessoas se definem enigmas quando a verdade é tao simples. Como eu ja te disse antes amigo, não gosto de complicações. Eu vejo você e você me vê tal como somos. Só isso.
No fim tudo acaba, nos morremos e valeu a pena viver o dilema?
Embora um tanto distantes um podia ver o rosto do outro, Argo sente-se tocado e calado olha o céu e o reflexo da lua nas águas e submerso em seu dilema ele diz:
-Falamos enigmaticamente, e parece que sou eu que tenho que ser claro... Ou sou eu que não compreendo... Ajuda-me Bruxa a ser claro, eu nunca tive de ser claro, porque nunca tive o que revelar, nunca algo foi importante ao ponto de ser dito e agora não sei o que faço...
Com um riso de deboche Nefilles observa o homem sem reação, calara aquele que não silenciava, que tinha resposta para tudo e todos no mundo e um tanto vitoriosa, mas mantendo a autoridade graciosa da mulher ela diz ao amigo:
- O que não compreende ? Você parecia tão convicto - Você é somente claro quando tem certeza do que quer. Então acho que vamos ter que aguardar essa sua incompreensão.
A ideia de que Nefilles entendesse que seu sentimento por ela era duvidoso o faz sentir desespero, Argo entorta ligeiramente a boca para o lado e arqueando de uma sobrancelha encara Nefilles, ele não seria mais uma enigma, então mergulha e some dos olhos da Bruxa e nadando por baixo das águas emerge na frente da moça que toma ligeiro susto, Argo toma fôlego enquanto joga para trás seus cabelos e esfrega os olhos, em sua frente a mulher sente como se milhares de borboletas se agitassem dentro dela. Argo a segura pelos braços e junta seu corpo ao dela:
- Tem certeza, quer saber o que quero?
Sua voz era firme, embora não estivesse irritado, a tonalidade era de irritação; fraca e dominada Nefilles encara Argo e se perde em seu rosto e em tom inaudível responde:
- Eu estou curiosa para saber. Mas não quero que enrole. Sim eu quero saber...
Argo engole seco, mas não conteria mais os cavalos da emoção, não seria mais uma repressa, não reteria mais nada e assim inclina sua cabeça e desviando os olhos do olhar da ofegante moça ele fixa seus olhos em seus lábios entre abertos e a toma nos braços e a beija ardentemente, mas cheio do nervosismo de quem beija pela primeira vez, porem intenso como quen vê o sol pela primeira vez depois de milênio de escuridão, devagar ele para o beijo e se afasta um pouco, o suficiente ainda para sentir a ponta dos lábios dela roçando nos dele, com voz rouca e fraca ele diz:
- Pronto...Matei a sua curiosidade, não diga nada... Eu vou sobreviver...
Olha mais uma vez para a petrificada moça e lhe sorri um tanto sem graça, virando as costas e nadando novamente para a margem, Argo sai do rio e tomando de sua camisa a veste sem fechar os botões, apoia os braços nas pernas e abaixa a cabeça, Nefillis também sai da água e caminha até ele, ajoelhada a sua frente se lança sem seus braços e mais uma vez o beija com paixão, depois do beijo os dois amantes se abraçam forte como quisessem fundir-se em um só ser, ficam longo tempo assim, até que temeroso Argo diz:
- E agora que não há mais curiosidade, que não há portos onde posso fugir da tempestade e o mar me reclama a alma, o corpo e tudo o que sou?
Cheia de ternura ela se afasta ligeiramente e segura seu rosto com carinho, busca os olhos de seu amor e diz:
- Eu queria saber se isso era algo passageiro ou não. Mas o engraçado é que não sinto nada a não ser uma sensação boa de estar com você e amar você. Independente se vai continuar ou não. Estou nesse mar com você Argo.
- Desde o primeiro instante, sempre... E correndo o risco de morrer afogado, e correndo o risco de te perder... Eu não me arrependo, nem de ter esperado... Você sempre foi à musa das minhas poesias, e eu pedia aos céus que cuidasse de você, e você esteve ao meu lado e a multidão te escondeu, a vida te coloca longe de mim... Mas criamos um mundo para nos encontrar... E que tudo caia ao nosso redor...Eu não vou fugir – A paixão e o amor gritavam nas falas do Mago que olhava sua Bruxa desejoso de unir-se a ela.
- Nossa. Eu estou tão feliz, isso tudo e tão diferente. É como saber que o seu grande ídolo escreve musicas pra você. E eu não poderia imaginar tudo isso acontecendo. Tudo o que eu tinha eram reflexos, desejos. E quando nos encontramos nessa vida isso cresceu e as vezes eu me pegava pensando nessas possibilidades. Eu estou feliz, e não quero sair daqui. Me beija forte, não me larga. Eu nunca vou abandonar a sua alma.
Argo sorri por ver seu amor feliz e feliz também diz:
-parece um sonho, e eu não quero acordar... Nunca foi assim... Nunca vai ser assim... Eu não aguentava mais não poder dizer, não poder falar... Eu te amo... Muito... E já vimos que mesmo aqui nesse nosso pedacinho de mundo tudo se agita quando nos entregamos um ao outro... Mesmo aqui o mundo persegue esse amor...Mas não tenho medo!
- Eu te amo Anjo Negro...
Ambos lançaram-se um contra o outro e selaram o momento com um ardente beijo, jogo a grama selvagem recebiam seus corpos sedentos, logo se livraram das roupas e se amaram protegidos pelos encantados da natureza, a lua e as estrelas emocionadas os velaram nas horas que se seguiram, quando deram por si o sol havia nascido e eles ainda queriam ficar, não queriam que o tempo passasse...O sol parecia dizer que Deus protegia o amor dos inocentes, e que nada podia existir no momento em que duas almas se completavam quando em êxtase de amor; promoviam a continuidade da vida e dos excelsos da criação, eles eram o sagrado e o feminino amando-se sem magoas, sem mesuras e sem medo.
O que aconteceu depois que o dia nasceu, depois que levantaram-se e seguiram com suas vidas, eu não sei...Prefiro não pensar. Gosto de imaginar que construíram uma cabana a beirada daquele rio, e que para sempre seguirão, o que desejo para eles é o que eles desejam: Amar em paz!
Mas se esse momento foi único e depois dele não mais vivarão outros, ainda penso que um dia há de chegar a hora em que irão compartilhar uma existência, mesmo ele como pássaro e ela como a flor...
Não importa quanto tempo dure, a eternidade não é ter para sempre quem se ama, as vezes é aprender dizer adeus e seguir com o amor inviolável e incondicional no coração, sabendo que inevitavelmente haverá outro encontro.
Argo e Nefilles são almas da mesma alma, brotaram da mesma luz, uma luz pura, mas vazia, sem experiência e conhecimento, no inicio de tudo eram um só e se dividiram para viverem a criação, adquirir vida, experiência e historia, aprender com a dor e com a felicidade, encontrando-se de eras em eras para compartilhar seus conhecimentos e a cada encontro exercendo com mais maestria o amor que sentem, amor tão grande e tão poderoso que a existência humana não comporta sem dor, e um dia serão novamente um só, uma luz cheia repleta da compreensão, e arriscando a ser imediatista digo: Acredito que assim o é porque o criador precisa conhecer em profundidade de experiência sua criação e só adquiri isso com a vida dos deuses que somos nós, pequena partícula desprendida da fonte vivemos, desprendidas da deidade.
Este conto nasceu de um amor, aquele amor verdadeiro e incondicional, que não exige e não escraviza; um amor batizado pelo fogo do desejo e da paixão... Quem nunca olhou a imensidão e nunca se sentiu solitário em meio a grandeza do mundo e do universo?
Quem nunca se perguntou se em algum lugar, ou em uma estrela distante existia um amor guardado nos braços de outro amor?
Argo e Nefilles viveram próximos, no entanto em lados opostos, ambos sonhando com estrelas, ambos sonhando com o amor... Nefilles era uma filha da natureza e Argo um magoe poeta das sombras e mesmo que exaltasse a luz, a felicidade e o amor ele se conduzia resvalando nas trevas, fugia do amor como quem foge de uma maldição, mas não porque não amava, simplesmente havia cansado de buscar em todos seus amores o brilho dos olhos de sua amada. Nefilles por outro lado buscava em todos os caminhos a maior parte que lhe faltava, e entrelaçando-se na natureza acessava o seu amor e mesmo sem entender sentia em seu coração o peso da dor e da nostalgia que seu amado desconhecido arrastava. Ambos sentiam todos os dias de suas vidas a angustiante sensação de que haviam perdido algo no meio do caminho da estrada das tantas vidas que viveram, e mesmo rodeado de pessoas eram solitários.
Ele olhava a lua e tentava não chorar, ela olhava a lua e dava boa noite a esse amor que nasceu com ela enquanto seu amor revirava seus escritos em busca dos olhos dela, enquanto entregava-se a poesia e no papel borrava a tinha com suas lagrimas nostálgicas.
E assim viviam, sem saber um do outro, mas amando um ao outro, até que um dia...
Neffiles tornou-se dona de uma biblioteca, a encheu de livros e poesias e quando no meio das prateleiras caminhava sentia-se completa como se em cada volume um pedaço de sua vida estivesse, como se cada pagina falasse de seu coração misterioso.
Argo não costumava dedicar-se a poesia de outros autores, temia trazer para sua essência própria a essência de outros poetas, era uma santo profano narcisista e egoísta, pois não dividia suas belezas, aprendera a ser frio o que fazia seu mundo ser mais solitário, mas ao passar frente a Biblioteca de Nefilles, sem pensar ele entrou e sentiu seu corpo invadido pelo mistério das prateleiras, enquanto caminhava distraído e estranhamente absorvido pela nostalgia, ele trombou com Nefilles, deram um encontrão que a fez derrubar alguns volumes que trazia nas mãos, ambos sorriram:
- Como sou distraída – Diz a moça um tanto sem graça enquanto se abaixava juntamente com Argo que recolhia os livro, se levantaram juntos e se apresentaram.
Logo ele estava encantado pela moça de pele branca e olhos de pantera, ficou alguns segundos detalhando com os olhos as ondas de seus cabelos longos negros e cacheados.
Argo passou a ser frequentador do espaço de leitura e sem que percebesse, quando perto da iluminada Nefilles, de sorriso doce mas olhos poderosos de rainha, todas as suas sombras se dissipavam; o poeta passou a lhe mostrar suas poesias sem intenção alguma, apenas queria compartilhar sua alma lírica, mal sabia ele que despertava Neffiles e ela já não só sentia a poesia como a via e não demorou lá estava ela escrevendo tão linda e perfeitamente quanto Argo, tornaram-se amigos, mas por esses motivos da vida que não entendemos se perderam um do outro, mas Nefilles não cessava de ler as poesias de seu amigo e Argo por sua vez, passava noites admirando um pequeno porta retrato onde um sorriso iluminava sua vida como mil anos de sol, dizia a si mesmo quão querida era a amiga, mas fugia pois temia apaixonar-se.
O destino serve como chicote no lombo da covardia, o destino é corajoso e não se importa, ele segue como nascente que fura a terra, começa como um filete inocente e a medida que avança mostra-se onipotente rio. E não demorou a Nefilles e Argo se encontrarem mais uma vez, e toda força da amizade emergiu de suas almas e em seguida vindo à paixão e o amor rogando para continuar de onde parara.
Retomaram a amizade e desta vez sem receio um na vida do outro, vivendo os dilemas um do outro, pois haviam feito um pacto de que nada mais os separariam... Mas almas como a de ambos rogavam por se unirem, já haviam vivido todas as fases do amor, de Filos à Storge e ágape, mas Eros reclamava a união de ambos e viviam perdidos de amor e paixão, receosos em entregarem-se as necessidades do sentimento que vazava da alma mais profunda para o físico...
Mas, a trama da vida era complicada Argo sabia que corria o risco de perdê-la, temia o adeus mais que a própria morte, mas tão magnético era o amor e por mais fugisse não suportava viver represando o amor que lhe invadia o peito, tão grande que ele não podia suportar.
Buscando fugir dos pensamentos ele foi ao lugar da natureza que Nefilles tinha por lugar predileto, não imaginava que ela o encontraria ali, queria se esconder e finamente permitir-se sentir, sentir tudo o que pudesse, não queria ignorar nem a dor e a tristeza.
Caminhava pelas trilhas arborizadas enquanto a noite cobria o dia com sua escuridão e Argo não se sentia bem, na verdade não sabia como se sentia... Apenas estava saudoso e as forças faltavam-lhe, sua alma parecia presa em uma aresta de sombras e dor... Desligar-se?
Não, embora pensasse muito sobre, não queria fugir, pois nunca se livraria do que era então aprender a coexistir com aquela tempestade parecia ser o melhor; coexistir com a noite em sua manhã, o frio se meu verão, a flor morta em sua primavera e no outono teria de aprender a ver a árvore estéril...
Sem perceber o caminho quando deu por si se viu em frente de um pequeno lajedo, o som das águas já era percebido e era esse som que ele seguia, escalou sem dificuldade o pequeno muro e pode ver a clareira que beirava o rio, opulente queda de água fazia musica na natureza, a cachoeira lembrava “ela”
Argo se aproximou da margem e sentou-se na grama selvagem para logo depois jogar o corpo para trás...
De olhos fechados e absorto, não havia nada o que fazer, abriu vacilante os olhos e olhando o céu, a lua e suas companheiras distantes acusavam com suas luzes, então pela força de sua vontade e magia, nuvens cinza e pesadas cobriram a lua e embaçou os céus... Pois era ele também um mago e sabia manipular a natureza.
Não havia fúria em seu coração, havia apenas uma calmaria desconhecia... Sentia saudade... Depois de um grande suspiro onde pode trazer para perto toda a natureza em seus aromas, fixando seus olhos mais uma vez em determinado ponto do céu, uma abertura perfeitamente redonda foi crescendo nas nuvens pesadas e parou assim que uma das filhas da Plêiade apareceu... Concentrou meus olhos nessa estrela e permaneceu quedo com suas faltas e falhas, com meus acertos e medos... Com a paz e a guerra, na corda bamba tentava não cair...
Nefilles sentia-se amargurada e decidira caminhar pela noite, munida de uma lanterna resolveu buscar seu lugar preferido,
Abraçava-se forte junto a jaqueta para não sentir frio, seus pensamentos estavam longe, e longe também estavam suas emoções. Olhava direto para o alto e a lua a guiava pelas árvores.
Passaram uns vinte minutos assim, vagando e tentando se distrair com a escuridão e o local onde se sentia acolhida, estava um pouco mais animada, pois agora poderia ouvir a força da cachoeira que descia as pedras e seguia rio abaixo.
Abriu um leve sorriso enquanto saia do meio das árvores e agora podia ver o brilho do local e a beleza das águas. " estou em casa" pensou enquanto se aproximava. Porem, foi surpreendida por uma sombra deitada perto da margem, caminhou devagar até se aproximar sentia que era alguém que conhecia e admirava, chegou perto daquele que sempre dizia que aquele local era perturbador, e agora olhe só. La estava ele pra fazer companhia. Chegando perto dele olhou para baixo fazendo sombra em seu rosto. Ele parecia concentrado enquanto olhava o céu.
- Anjo Negro?
Tão concentrado estava em seus pensamento que não percebeu a chegada de Nefilles , mas ao escutar sua voz foi desperto, ainda deitado na grama procura o rosto amigo que lhe sorria e um tanto sem jeito responde sua saudação:
- Oi Bruxa, vejo que me achou...
Nefilles alegre senta-se ao lado de Argo e sorrido dá a contra resposta;
- Eu sempre te acho!
Logo ela toma entre suas mãos a mão do amigo e com voz fraça o indaga
- O que faz aqui sozinho?
Observando ele com seus olhos brilhantes espera pela resposta. Depois de grande suspiro ele revira os olhos e faz um ligeiro bico:
- Estou aqui para exaltar o amor em sua beleza
Depois de sorrir pra a amiga tentando dissimular seus sentimentos, na verdade a situação era desesperadora, eram amigos e ele temia estragar isso com sua paixão.
-Nada melhor que ouvir o som do silêncio da natureza- Nefilles deita nas pernas do amigo e permanece ali olhando o rio, o mesmo medo que ele sentia a dominava, um tanto vacilante ele toca seus cabelos e acaricia-os com carinho.
Levantando, Argo senta-se ao lado da amiga e a abraça contemplando o rio com ela, faz uma observação sobre a ironia do destino, desde que a conhecera tudo ruía e no final eles permaneciam.
Nefilles procurando os olhos de Argo e os fitando de maneira que ele não pode se esquivar aquiesce a constatação:
- Sempre chegaremos ao marco zero e sempre juntos, achegamos juntos e quando acabar novamente, mais uma vez estaremos juntos...E é bom saber que sempre terei você
Ambos conheciam os mistérios mágicos do amor, eram filhos da natureza bruxa e mago, as sombras de muitas vidas pairavam nos olhos de ambos quando em movimento que parecia ensaiado voltaram a olhar o rio e observar a cachoeira.
Um sorriso brota nos lábios indecisos de Argo e com voz sonhadora ele fala e suas palavras estronda no ser de Nefilles que mais um vez pode ver em corpo de verdade o amor que era correspondido, e o amor daquele amigo que ela delegava a sua imaginação, mas cada vez mais sentia o coração dele e podia se ver existindo nos mistérios da alma de Argo.
- é bom ter você...Quando chega a dor torna-se esperança, a escuridão se ilumina, a vida enche-se de sentido e a saudade mesmo dolorida torna-se suportável...
O apaixonado homem que com seus poderes apagara as estrelas e a lua dos céus deixou seu corpo cair para trás e mais uma vez suspira para logo em seguida olhar para Nefilles que pensava em cada uma de suas palavras.
- Bruxa, faça uma magia, mas olhe lá, nada de me molhar...
Argo tenta aliviar o ar do momentos voltando a seu costumeiro jeito alegre, seu método quase infalível de dissimular suas emoções e sentimentos que refulgiam nos seus olhos. Mas Nefilles ainda tinha o que dizer sobre as sensações de muitas existências de amor que se agitavam em seu peito enquanto ela ainda sentada se perdia nas águas da cachoeira:
-Eu também sinto isso... Às vezes é triste, mas aí eu me lembro que só você por aqui basta sabe?
Bastas mais que estar adianta uma multidão... Um palácio... Uma cidade... Se eu vou ficar sozinha e não compartilhar nada. Nós compartilhamos tudo. Até a nossa solidão.
Nefilles vira-se para o amigo e depois de sorrir se deita também recostando sua cabeça na barriga de argo que a presenteia com carinhos em seus sedosos cabelos, acolhida e feliz a moça fala se referindo ao pedido do mago:
- Tudo bem...Vou fazer uma magia e...Sem travessuras dessa vez!
A Bruxa fecha seus olhos e imediatamente um turbilhão de vento suave, porem poderoso começa a soprar, as árvores se agitam e as folhas ao chão junto as que caiam flutuam no ar em círculos como uma revoada de pássaros, Argo sorrindo ao ver a linda mágica exclama:
- Essas folhas podiam ser uma cortina, onde nenhum olhar passasse por elas... A pior das solidões é essa, estar entre tantos e estar só... E... Sua amizade, você e tudo o que representa é o sentido para o que nunca entendi... E você basta... No fim Nefilles, só os fortes sobrevivem... Eu sou uma tempestade, muita das vezes, desenfreada, vento e não me importo com nada, destruo casas, árvores, pessoas, mas no centro, bem no olho do furação existe um deserto, calmo e sem ventos, extremamente vazio
As folhas sobem formando uma espécie de teto verde que se perde na escuridão da noite e se soltam ao desejo de Nefilles; devagar elas dançam ao vento, logo começa a chover sobre os dois e Nefilles que observa a chuva de folhas fala um pouco mais segura, mas ainda sem olhar o amigo:
-Engraçado...Estávamos em um tipo de furacão agora. E estamos aqui. Bem no olho dele. E podemos ver tudo ainda, calmo e tranquilo.
Eu não espero de você a calmaria. A força da natureza é bela por que é assim. Indestrutível e forte. As pessoas não são capazes de entender...
Enquanto eram parcialmente cobertos pelas folhas, Argo a puxa para cima fazendo Nefilles deitar em seu braço, busca os olhos da moça e em um gesto singelo de carinho tira delicado uma folha que encontrará descanso em seu rosto, sorrindo um tanto sarcástico ele responde Nefilles:
- Para... Não seja cruel com os “normais” eles são de fato incapazes de ver a beleza que só uma bruxa pode ver...
Rindo do comentário vaidoso do amigo, Nefilles responde em tom descontraído, mas profundo, na verdade ela queria ouvir o que Argo sentia, embora soubesse, mas queria ouvir dele.
- Haaa... É claro. Só eu mesmo pra compreender esse furacão Argo de ser ?
Quem é que vai explicar aos normais?
Até por que eu escolho entender você... – Depois de respirar fundo ela conclui- Me sinto no mar novamente. Naquela época esquecida...
O mago ali com a sua bruxa eleita olha o céu e não vê mais necessidade de o manter encoberto, então se concentrando e canalizando seus poderes ele faz com que as nuvens se dissipem e deixe vir novamente ao prazer da visão o céu estrelado e a lua que ficava cheia, a noite então se tornava iluminada outra vez.
- Nefilles, você não tem escolha, me entender é uma condição sua, faz parte do seu DNA e da sua alma... E eu também me sinto nos mares daqueles tempos...
Novamente o silêncio se fez, ambos permitiam-se aos poucos e só não estavam amando-se naquele momento por medos tolos da insegurança de suas impressões humanas. Nefilles não se aborrecia com as sombras do amigo, mas se entristecia com seu comodismo nelas e então quebra o silêncio:
- Verdade, eu não tenho escolha, mas você tem, a escolha de dissipar as trevas de sua alma, tal como fez com essas nuvens...
Erguendo o rosto e encarando o homem que mantinha represado seus desejos, Nefilles leva a sua
mão até seu rosto e fala das vidas passadas com Argo valendo-se da analogia ao mar:
-Aqueles oceanos eram mágicos. Tão mágico quanto esse lugar. Lá apesar de não termos algum porto, sabíamos que tudo era uma aventura...
Como tudo parecia complicado a medida que se facilitava, e o que queriam dizer um ao outro era somente “Eu te amo”, mas antes de Bruxa e Mago, Poeta e Poetisa, eram humanos e temores fazem parte dessa condição frágil de existência.
Extasiado com a mão de sua amada em seu rosto Argo termina o raciocínio de Nefilles:
- Você não deixa espaço para a escuridão... E, eu acho que a aventura era não ter porto... Audaciosos, enfrentamos o mar, e sua voracidade...
Era assim que aquela paixão surgia nesse amor, como um mar, um tsunami invadindo impiedosamente tudo. E a conversa continuava enquanto um desejava ardentemente silenciar o mundo com um beijo de amor, fatal e apaixonado, mas ainda sim alicerçado por um amor cheio de grandeza, esse tipo de amor que não se vive todos os dias, o amor de alma que manifestado em físico rogava pela união dos corpos:
- Sim Anjo Negro, - Quantas aventuras... Parece que foi a séculos atrás. E eu nada sabia... Nada esperava... Só queria buscar uma forma de navegar e me entregar a história.
Hoje as coisas são mais claras e fazem mais sentido. A minha condição na vida é... não abandonar e não me arrepender.
Depois de um terno beijo na testa da amiga o mago fala suspirado e com voz presa:
-E o lema da minha vida é: permitir-me, não vou mais me segurar em porto algum, se o mar quiser me engolir que assim seja...
Nefilles busca a lua com seus olhos e Argo faz o mesmo:
-Por isso Anjo Negro, é por isso que olho para o oceano e vejo uma imensidão de emoções... Não me atrevo a imaginar de outro jeito. Não pediria pra ser diferente. Olho o por do sol e digo adeus sem medo... E digo ao nascer do dia seja bem vindo amigo.
- Eu ainda não sei dizer adeus, eu até tento... Mas sempre há vazio mesmo que eu entenda que o sol vai nascer novamente...Eu também penso que a luz que a lua reflete é a luz do sol, então a noite é só uma parte do dia, uma parte mais escura onde temos que ser fortes e ter fé... Muitas coisas não foram feitas para que sejam entendidas, sentir e viver basta, perdemos tempo tentando entender...E agora o que sei é que se aqui é onde podemos viver, então é aqui que vou ficar...
Havia pesar na voz de Argo, por muitas vidas, e eles sabiam, nunca puderam viver a plenitude do que sentiam estando juntos, e ele já pressentindo que aquele momento era um começo, já se martirizava pelo fim, pelo momento de dizer adeus, de ter que ver em mais uma existência o seu grande amor partindo.
Nefilles se levanta e calada permanece enquanto brinca com uma folha para logo em seguida se concentrar no rio mais uma vez, estava feliz por estar ali, mas mesmo que não aceitasse, ela também pensava se começar sabendo do fim seria bom. Ela só queria mergulhar naquele rio e Argo que permanecia deitado percebeu os pensamentos da amiga e valendo-se de sua ousadia se levanta, e sem olhar para Nefilles desabotoa a camisa e a tira, caminha mais para a margem enquanto deixa seus sapatos jogados de qualquer jeito, finalmente na margem ele olha para a amiga e sorrindo brincalhão diz:
- Eu não gosto de me molhar, mas se permitir-e é o meu lema... Então ele se vira e mergulha nas águas negras do rios onde soberana a lua refletia sua luz de prata como quem dividisse com seu amor impossível, o sol, a dança daqueles amantes.
Neffiles solta um riso alegre ao ver Argo tomando a iniciativa e fazendo o que queria ela fazer; ao submergir Argo vai para beirada como se a esperasse e ela prontamente e radiante tira suas sapatilhas arranca sua blusa e caminha a margem do rio e também mergulha indo para a parte mais funda. Ao emergir das águas ela nada até Argo e sorridente exclama:
- Nossa! Isso sim é lavar a alma!
Ela era como a beleza personificada aos olhos de Argo que já não escondia a paixão em seus olhar, ele sacode os cabelos espirrando água na moça sorridente e ela responde a brincadeira jogando água no rosto do amigo, mas não demora e os sorrisos silenciam e novamente a tempestade da paixão toma conta de ambos:
- Mergulhar fundo é preciso – Diz Argo enquanto fixa seus ardentes olhos nos dela, faz menção de que diria algo mais, no entanto se cala ficando alguns segundo de boca entre aberta e Nefilles percebendo, sente um misto de impaciência e tristeza e comparando Argo a imensidão das águas ela o interpela:
- Esse silêncio é como mergulhar no mar...Me diz, o que se passa nessa imensidão?
Agora quem ousava era a moça e permitindo afundar deixa só seus olhos vivos e ardente a mostra cobrando uma resposta que veio em tom sombrio:
- Acredito que essa seja uma retórica...Mas digamos que essa imensidão é perigosa e mergulhar nela seja perder o que já temos...O perigo de toda imensidão, não acha?
Nefilles mergulha para logo voltar e responder:
- Não consigo achar perigoso aquilo que já conheci... Alguns sim... Mas no momento eu não... Na verdade se você é uma imensidão deve ter muita coisa pra descobrir, e no momento eu to curiosa. – Sorrindo ambos se encaram sendo embalados pelo movimento do rio, Nefilles queimada pelos profundos olhos de Argo, olhos esses que sempre hipnotizaram as mulheres, naquele instante em que ele parecia perdido, sem meios para conquistar a mulher que amava, muitas outras choravam por ele e esperava pelo o amor dele, pois eram viciadas em seu fogo e sua sedução, olhando a lua Neffiles anseia ser tomada por seu amigo que pensava ela ser resistente ao seu querer.
Argo se aproxima mais da moça e a segura pelos braços fazendo com que ela olhasse para ele, fascinado com sua pele molhada não escondia o desejo, mas parecia não ceder, queria os lábios dela nos seus, mas temendo perder o pouco que tinha não arriscava, a queria para toda vida e não por uma noite apenas.
- A curiosidade matou o gato - deixa escapar um sorriso, mas logo retoma a seriedade" ... Eu sou uma imensidão sim...Os mais velhos dizem que as águas são mais perigosas porquê elas dão a falsa certeza de que podem ser enfrentadas, diferente do fogo que assusta e faz com que as pessoas fujam...Conhece a historia do pássaro e do peixe? na verdade a historia não existe, é só uma frase que presta asas à imaginação, mas eu não vou falar, porque gosto da sua curiosidade... – Abrindo um sorriso ele projeta o corpo para trás e dá algumas braçadas de costas, um pouco distante para e e crava mais uma vez o seu olhar na moça, observando suas reações.
Nefilles ergue uma de suas sobrancelhas e com um ar de desaforo o responde:
- Sim sou curiosa. Mas não seja por isso... me fale quando der vontade.
Espero que não queira que eu me afaste do mar também e não seja desonesto comigo se não quer que eu descubra.
Já não havia segredos ambos haviam subliminarmente dito um ao outro que entendiam os sentimentos, dando as costas para Argo ela nada até as pedras que davam acesso as cachoeiras, escala sem muita dificuldade ficando alguns minutos embaixo da queda de água e logo depois mergulha; Argo sabe que ela era corajosa para enfrentar as correntezas mais violentas e observa os movimentos da mulher com olhos de um mortal apaixonado por Afrodite. Inexplicavelmente as águas pareciam mais agitadas e sem pensar Argo justifica e revela a frase:
- Gosto de ser um enigma e de ser desvendado... vou te falar a frase... Não me lembro onde a ouvi: " Um pássaro pode se apaixonar por um peixe e um peixe por um pássaro, mas... Onde vão construir seu ninho?
Nefilles tenta uma vez mais e dessa vez cheia da autoridade sedutora que permeia o sagrado feminino:
- É engraçado como as pessoas se definem enigmas quando a verdade é tao simples. Como eu ja te disse antes amigo, não gosto de complicações. Eu vejo você e você me vê tal como somos. Só isso.
No fim tudo acaba, nos morremos e valeu a pena viver o dilema?
Embora um tanto distantes um podia ver o rosto do outro, Argo sente-se tocado e calado olha o céu e o reflexo da lua nas águas e submerso em seu dilema ele diz:
-Falamos enigmaticamente, e parece que sou eu que tenho que ser claro... Ou sou eu que não compreendo... Ajuda-me Bruxa a ser claro, eu nunca tive de ser claro, porque nunca tive o que revelar, nunca algo foi importante ao ponto de ser dito e agora não sei o que faço...
Com um riso de deboche Nefilles observa o homem sem reação, calara aquele que não silenciava, que tinha resposta para tudo e todos no mundo e um tanto vitoriosa, mas mantendo a autoridade graciosa da mulher ela diz ao amigo:
- O que não compreende ? Você parecia tão convicto - Você é somente claro quando tem certeza do que quer. Então acho que vamos ter que aguardar essa sua incompreensão.
A ideia de que Nefilles entendesse que seu sentimento por ela era duvidoso o faz sentir desespero, Argo entorta ligeiramente a boca para o lado e arqueando de uma sobrancelha encara Nefilles, ele não seria mais uma enigma, então mergulha e some dos olhos da Bruxa e nadando por baixo das águas emerge na frente da moça que toma ligeiro susto, Argo toma fôlego enquanto joga para trás seus cabelos e esfrega os olhos, em sua frente a mulher sente como se milhares de borboletas se agitassem dentro dela. Argo a segura pelos braços e junta seu corpo ao dela:
- Tem certeza, quer saber o que quero?
Sua voz era firme, embora não estivesse irritado, a tonalidade era de irritação; fraca e dominada Nefilles encara Argo e se perde em seu rosto e em tom inaudível responde:
- Eu estou curiosa para saber. Mas não quero que enrole. Sim eu quero saber...
Argo engole seco, mas não conteria mais os cavalos da emoção, não seria mais uma repressa, não reteria mais nada e assim inclina sua cabeça e desviando os olhos do olhar da ofegante moça ele fixa seus olhos em seus lábios entre abertos e a toma nos braços e a beija ardentemente, mas cheio do nervosismo de quem beija pela primeira vez, porem intenso como quen vê o sol pela primeira vez depois de milênio de escuridão, devagar ele para o beijo e se afasta um pouco, o suficiente ainda para sentir a ponta dos lábios dela roçando nos dele, com voz rouca e fraca ele diz:
- Pronto...Matei a sua curiosidade, não diga nada... Eu vou sobreviver...
Olha mais uma vez para a petrificada moça e lhe sorri um tanto sem graça, virando as costas e nadando novamente para a margem, Argo sai do rio e tomando de sua camisa a veste sem fechar os botões, apoia os braços nas pernas e abaixa a cabeça, Nefillis também sai da água e caminha até ele, ajoelhada a sua frente se lança sem seus braços e mais uma vez o beija com paixão, depois do beijo os dois amantes se abraçam forte como quisessem fundir-se em um só ser, ficam longo tempo assim, até que temeroso Argo diz:
- E agora que não há mais curiosidade, que não há portos onde posso fugir da tempestade e o mar me reclama a alma, o corpo e tudo o que sou?
Cheia de ternura ela se afasta ligeiramente e segura seu rosto com carinho, busca os olhos de seu amor e diz:
- Eu queria saber se isso era algo passageiro ou não. Mas o engraçado é que não sinto nada a não ser uma sensação boa de estar com você e amar você. Independente se vai continuar ou não. Estou nesse mar com você Argo.
- Desde o primeiro instante, sempre... E correndo o risco de morrer afogado, e correndo o risco de te perder... Eu não me arrependo, nem de ter esperado... Você sempre foi à musa das minhas poesias, e eu pedia aos céus que cuidasse de você, e você esteve ao meu lado e a multidão te escondeu, a vida te coloca longe de mim... Mas criamos um mundo para nos encontrar... E que tudo caia ao nosso redor...Eu não vou fugir – A paixão e o amor gritavam nas falas do Mago que olhava sua Bruxa desejoso de unir-se a ela.
- Nossa. Eu estou tão feliz, isso tudo e tão diferente. É como saber que o seu grande ídolo escreve musicas pra você. E eu não poderia imaginar tudo isso acontecendo. Tudo o que eu tinha eram reflexos, desejos. E quando nos encontramos nessa vida isso cresceu e as vezes eu me pegava pensando nessas possibilidades. Eu estou feliz, e não quero sair daqui. Me beija forte, não me larga. Eu nunca vou abandonar a sua alma.
Argo sorri por ver seu amor feliz e feliz também diz:
-parece um sonho, e eu não quero acordar... Nunca foi assim... Nunca vai ser assim... Eu não aguentava mais não poder dizer, não poder falar... Eu te amo... Muito... E já vimos que mesmo aqui nesse nosso pedacinho de mundo tudo se agita quando nos entregamos um ao outro... Mesmo aqui o mundo persegue esse amor...Mas não tenho medo!
- Eu te amo Anjo Negro...
Ambos lançaram-se um contra o outro e selaram o momento com um ardente beijo, jogo a grama selvagem recebiam seus corpos sedentos, logo se livraram das roupas e se amaram protegidos pelos encantados da natureza, a lua e as estrelas emocionadas os velaram nas horas que se seguiram, quando deram por si o sol havia nascido e eles ainda queriam ficar, não queriam que o tempo passasse...O sol parecia dizer que Deus protegia o amor dos inocentes, e que nada podia existir no momento em que duas almas se completavam quando em êxtase de amor; promoviam a continuidade da vida e dos excelsos da criação, eles eram o sagrado e o feminino amando-se sem magoas, sem mesuras e sem medo.
O que aconteceu depois que o dia nasceu, depois que levantaram-se e seguiram com suas vidas, eu não sei...Prefiro não pensar. Gosto de imaginar que construíram uma cabana a beirada daquele rio, e que para sempre seguirão, o que desejo para eles é o que eles desejam: Amar em paz!
Mas se esse momento foi único e depois dele não mais vivarão outros, ainda penso que um dia há de chegar a hora em que irão compartilhar uma existência, mesmo ele como pássaro e ela como a flor...
Não importa quanto tempo dure, a eternidade não é ter para sempre quem se ama, as vezes é aprender dizer adeus e seguir com o amor inviolável e incondicional no coração, sabendo que inevitavelmente haverá outro encontro.
Argo e Nefilles são almas da mesma alma, brotaram da mesma luz, uma luz pura, mas vazia, sem experiência e conhecimento, no inicio de tudo eram um só e se dividiram para viverem a criação, adquirir vida, experiência e historia, aprender com a dor e com a felicidade, encontrando-se de eras em eras para compartilhar seus conhecimentos e a cada encontro exercendo com mais maestria o amor que sentem, amor tão grande e tão poderoso que a existência humana não comporta sem dor, e um dia serão novamente um só, uma luz cheia repleta da compreensão, e arriscando a ser imediatista digo: Acredito que assim o é porque o criador precisa conhecer em profundidade de experiência sua criação e só adquiri isso com a vida dos deuses que somos nós, pequena partícula desprendida da fonte vivemos, desprendidas da deidade.