O Lago Dos Cisnes- PARTE 3

Ela caminhou paulatinamente em sua direção com passos metrificados.Uma brisa suavizante insistia em beijar seus cabelos.

O coração do rapaz tinha ritmos dissonantes.

Mais do que pode conteve-se.

Ali estava , os dois, silêncios.

Ele desatou o laçarote do seu vestido até decifrar a última partitura, com a avidez de suas osculações sem fim.

Coreograficamente as águas da praia imitavam seus corpos isócronos,

iluminados pelos holofotes das estrelas, naquela praia desabitada.

As águas abalroavam-se freneticamente entre os rochedos,

num vaivém de uma intensidade viva , humana e incandescente.

Parece que ouço agora, a musicalidade do instante sob a influência onírica que extravasa as meras aparências de uma realidade comum.

Havia watts de alacridade nos olhos de Munique.

Era o nome dela, dado pelos pais, por causa de uma cidade germânica.

Mas tudo não era apenas sonho ...

Capaz de transportá-lo a outros campos , que não os reais.

No sétimo dia , depois afabilidade de Munique na tarde anterior,

Andrade sentiu-se mais confiante para finalmente explicar algumas coisas para ela.Porém, sem percebimento, a diafaneidade de suas emoções o levaria aos dédalos, isto é, a cruzamentos confusos

de caminhos, pois Munique era uma pessoa de veneta.

O escritor Rubem Braga diz o seguinte :

“ O que há de horrível no amor é que muitas vezes depois que ele acaba dá a impressão de que não houve. Não era amor-declara

o ex- apaixonado, com toda sinceridade. Tempos atrás se alguém

lhe dissesse isso ele se lançaria ao chão e invocaria as estrelas , premindo as mãos contra o peito , e dizendo que se aquilo

não era amor não havia amor neste mundo. “

Andrade- Preciso entregar algo para você !

Munique –Espere alguns instantes , já vou falar contigo...

Andrade- Eu só queria que você falasse comigo em relação as coisas que estão acontecendo.

Munique -Acontecendo ? Andrade !

Sinceramente eu não tenho nada a dizer .

Andrade-Munique eu pensei.... ( emudecido ).

Andrade- Você está aborrecida ? ( Munique não olhava em seus olhos )

Munique- Olha só , não existe a possibilidade de falar sobre um fato,

se na realidade o fato é inexistente ! Ele não existe !

Destarte, ela seguiu o seu itinerário

e talvez seria a última que falariam algo.

Ele pensou certamente que tudo era culpa do Farmacêutico.

O Farmacêutico era de patuscadas, blandícias e comentários asnáticos.

Não havia mais nada que fazer ... E Andrade não tinha vocação para fênix , a ave mitológica que renascia das cinzas !

Ele tinha a alma furta-cor, cambiante mudava de cor conforme

os reflexos da luz. E a luz que reverberou de Munique não foi agradável.

Andrade sentiu-se amarfanhado , por todos seus esforços que facilmente poderiam abecedar.Tudo havia envidado, e agora só restava-lhe juntar-se com uma alcateia, e uivar seus desabafos para a lua.

O peito arrebentou-se com estalactite : aquela concreção calcária que se forma nos tetos das cavernas. Andrade estava assim cheio de estalactites , pois o vírus da decepção inoculou-se.

Seus pensamentos foram infestados pelas derradeiras lembranças...

No caminho para casa , ouviu os zíngaros tocarem uma melodia triste.

Justamente nessa tétrica ocasião, que conheci Andrade.

Procurava um história que não fosse um happy end tradicional.

E enxerguei no drama de Andrade a possibilidade .

Mas ele não queria falar mais sobre Munique.

E Munique por sinal estava feliz com o Farmacêutico ,

e para ela a história de Andrade era irreal, um fato que não existia !

Tive uma lucubração , meditação longa e profunda antes de redigir os últimos capítulos finais ,mesmo diante do antagonismo das circunstâncias. Lembrei-me do poema CANTO DA IMAGINÁRIA JANELA ABERTA :

“ Oh ! Não me perguntem nada, escutem-me se quiserem ,

e olhem a imaginária janela aberta.

Ela não existe . Olhai o que não existe. Criai-o , e sereis poeta !

Ledo Ivo

E foi assim, com o estandarte do impossível, que executei o desfecho desse opúsculo. Sempre com uma olhar fixo , sem pestanejar, na imaginária janela aberta. Preparem seus corações !

CARLOS HENRIQUE MATTOS
Enviado por CARLOS HENRIQUE MATTOS em 29/07/2015
Reeditado em 29/07/2015
Código do texto: T5327881
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