O ÚLTIMO SOLDADO - 5 de 10

Às 19:30 da noite, Luan se arrumava para o encontro. Para ele, meia horinha já era o bastante para estar pronto e busar Aura em sua casa. Ele penteou os cabelos louros para trás e espirrou perfume no pescoço e nos punhos. Ele vestia uma camisa social, num tom cinza claro, calças jeans e sapatos de couro marron.

Luan morava num belo apartamento de 6º andar e descendo no elevador ele esfregava as mãos na ansiedade de se encontrar com Aura. A verdade é que ele já gostava de Aura antes mesmo dela conhecer James e ela sabia disso, mas nunca sentiu nada por ele. A porta do elevador abriu e Luan deu um passo para sair, mas entrou uma senhora de uns oitenta e poucos anos, com três malas grandes e segurou-o pelo braço e disse:

- Meu rapazinho, você pode me ajudar com essas malas? Eu não sei aonde se meteu aquele porteiro preguiçoso...

- Claro!

Luan arrastou as malas para dentro do elevador e foi se despedindo, mas a velhinha o segurou outra vez e falou:

- Rapazinho, você pode levá-las até o meu apartamento no 10º andar? Preciso procurar o porteiro.

- Dé-décimo andar?

Luan olhou para seu relógio de pulso e viu que só tinha mais 20 minutos. Com certeza, se nada o barrasse no meio do caminho, ele conseguiria descer em menos de 20 minutos e buscar Aura.

- Está bem, minha senhora.

Ele disse e entrou no elevador e a velhinha foi até a recepção. Luan apertou o botão do 10º andar, mas, o elevador nem se moveu. Apertou de novo e de novo e mais uma vez... E nada. O faxineiro que passava por ali, disse:

- Está quebrado.

E continuou seguindo com seu carrinho de limpeza e sua expressão de tédio. Luan então falou para ele:

- Mas eu acabei de descer por este elevador! Como pode dizer que ele está quebrado?

- E o que quer que eu diga? Que ele "estava" quebrado?

Luan passou a mão nos cabelos e foi até a recepção, onde estava a velhinha discutindo com a recepcionista e falou para ela:

- Desculpe, minha senhora, mas o elevador acabou de quebrar.

- Não se preocupe, rapazinho... Pode ir pelas escadas, não tenha pressa!

- Pelas... Escadas? Mas isso levaria horas?

- Tudo bem, eu posso esperar! Agora seja um bom menino e me leve essas malas.

Luan sentiu um desengano e respirou fundo. Olhou novamente para o relógio e já eram 19:52. Como ele iria chegar lá em cima a tempo, usando as escadas?

- É melhor eu avisar a Aura que vou me atrasar...

Ele disse, retirando o celular do bolso da calça.

- Não, é melhor não... Senão ela vai achar melhor cancelar o encontro.

Guardou o celular e mordeu os lábios.

- E agora?

Ele olhou para as malas e teve uma ideia... Lançou-as com força para as escadas de cima, no momento em que um morador do prédio saía de seu apartamento e gritou:

- Mande para o quarto da dona Morgan!

Descendo de mãos vazias e passando pela recepção, Luan foi visto pela velhinha e ela o perguntou:

- Mas já? Você levou minhas malas até o meu apartamento.

Luan assentiu e sorriu para ela. Quando ele chegou na porta do prédio deu uma carreira até a garagem e entrou em seu carro. Saiu na disparada. O porteiro finalmente apareceu, estava no banheiro a duas horas, coitado e a velhinha o encheu de broncas.

- Seu bicho preguiça! Onde você estava?

- No banheiro, oshe!

- Vim avisar que você perdeu a aposta. Eu consegui entrar com o gato no prédio.

- Oshe! Mas, como?

- Enfiei ele dentro da mala.

Dentro do carro, Luan estava atento às estradas, mas ao mesmo tempo seus pensamentos estavam em Aura. Imaginava o momento em que estaria junto a ela, em que conversaria sobre as coisas que a faria sorrir. Olhava para o relógio e acelerava mais o carro, enquanto ia ensaiando o que diria.

- Olá, Aura! Nossa, você está linda... Não... Boa noite, Aura, você está linda!

Ele abriu a porta do carro e desceu. Caminhou até a casa de Aura e olhou pela última vez a hora... " vinte minutos atrasados, não deve ser tão ruim" ele pensou e respirou fundo... Tocou a campainha. Ninguém veio abrir a porta. "Ou será que dei mancada?" pensou ele. E tocou a campainha mais uma vez. "Calma, Luan, o que são vinte minutos? São o fim de um encontro! Droga, Luan! Droga!"

Repentinamente, quando Luan estava distraído com as luzes da rua, a porta se abriu. Ele olhou para frente e viu Aura, deslumbrante, com um belo vestido azul marinho tomara que caia e o cabelo solto.

- Bo... Boa noite, Aura... Você está linda.

- Olá, Luan.

- Eu... Me atrasei, não foi?

Aura assentiu e Luan mordeu os lábios.

- Me desculpe, é que eu...

- Não, não precisa se explicar.

Luan baixou a cabeça e sentiu um frio em seu peito lhe causar medo. Foi quando Aura disse:

- Vou buscar meu casaco.

Luan ergueu a cabeça e sorriu. Seu coração rapidamente se aqueceu e voltou a bater. Ele falou:

- Sim, claro.

Aura entrou e buscou seu casaco preto, vestiu-o e pegou sua bolsa. Trancou a porta e guardou as chaves na bolsa.

- Vamos?

Disse Luan e Aura assentiu. Ele abriu a porta do carro para ela e depois arrudiou e sentou-se no banco do passageiro e ligou o carro. Estava nervoso e suas mãos, ao volante, suavam. Aura estava a perceber o nervosismo de Luan e fitou o rosto dele, ficou reparando em seus cabelos a gel, seus olhos cor de mel, que as vezes pareciam verdes e percebendo que estava sendo observado, Luan virou o rosto para Aura e ela ligeiramente disfarçou.

- Você se importa se eu escolher o restaurante?

Luan perguntou.

- Não, tudo bem... Já faz tanto tempo que não saio de casa que nem lembro dos restaurantes da cidade.

Luan sorriu e passou a mão nos cabelos. Volta e meia, Aura já não estava tão atenta aos detalhes de Luan ou da roupa que vestia. Ficava olhando para as ruas e casas que corriam do lado de fora, como um filme em câmera avançada e quando Luan notou seu desprezo procurou algo para chamar-lhe a atenção... Ligou o rádio e buscou uma música qualquer, encontrou um bolero e começou a imitar o cantor, mas errava toda a letra. Aura começou a rir e disse:

- Até que você não canta tão mal.

- Verdade? Acha que eu poderia gravar um disco?

- Também não vamos exagerar, não é?

Os dois riem e Luan estaciona o carro de frente a um dos mais belos e finos restaurantes da cidade.

- Chegamos.

Ele falou e saiu do carro, depois abriu a porta para Aura. Ela agradeceu e os dois entraram no local.

- Por favor, uma mesa para dois.

Disse Luan ao garçon e este lhes mostrou uma mesa desocupada no canto esquerdo. Luan puxou uma cadeira para Aura e em seguida também se sentou. O ambiente era muito agradável, com um fundo vinho e texturas brancas, música clássica e uma bela decoração. O garçon foi até a mesa e perguntou:

- O que vão querer beber?

- Para mim, champanhe. E você, Aura?

- pode ser um suco de laranja.

- Hoho! Aura, assim não há diversão! O que é isto?

- É que eu não bebo e...

- Mas, só esta noite não fará mal! Vamos lá... Apenas um pouco!

- Está bem. Mas só um pouco!

- Anham. Então, me traga apenas champanhe, por favor.

Falou Luan para o garçon que então retirou-se.

- Sabia que já fui garçon?

Luan falou para Aura.

- Você, garçon?

- Verdade! E digo: não é tão fácil quanto parece. As pessoas às vezes te ver com desprezo... Tudo bem, está ali só para anotar os pedidos e servir as mesas, mas, aparece muita gente ignorante, cheia de moral e fica botando defeito em tudo. Acredita que já reclamaram do meu atendimento só para não terem que me dar gorjeta?

- Nossa...

- E sem falar que já me deram gorjeta de cinquenta centavos.

Aura sorriu e o garçon veio com a garrafa de champanhe numa bandeja de prata e os serviu. Depois eles pediram o prato principal e ao longo do jantar foram conversando.

- Sabe, Aura, sei que às vezes você acha que me encomodo demais com você... Mas é que já vivi muitas ilusões nesta vida, rejeitei tantas coisas boas e afortunadas que cada dia me oferecia, coisas que poderiam ter feito-me muito mais feliz, mas que por causa do meu orgulho, da minha teimosia e insistência em pensar que podia mudar tudo e escrever meu próprio destino, eu perdi todas essas oportunidades. E só não quero que isso também lhe aconteça, pois sei como me fez mal e me prejudicou.

Aura ficou pensativa por alguns minutos, sabia o que Luan queria dizer com tudo aquilo e que estava ela cada vez mais presa na ideia de que James voltaria. "Talvez já seja hora de esquecer isso" ela pensou, enquanto seus olhos choviam.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 24/07/2015
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